Antes de empresária, jornalista e acadêmica, creio que posso me definir como leitora. Muito antes de me identificar com certa profissão ou atividade, tenho nos livros pontos de partida e chegada, plataformas para novos horizontes, zonas de refúgio, meios através dos quais reformulo conceitos, visões, propostas.
Qualquer que seja o tema ou o gênero, o hábito de abri-los me acompanha desde muito cedo, e essa é uma familiaridade que tento cultivar com naturalidade e sem afetação. Leio por gosto ou por necessidade; por ter nos livros um abrigo; por carregar perguntas e buscar respostas; por acreditar que há mundos que merecem ser conhecidos e um mundo que pode ser modificado – meu mundo. Leio também porque acredito que os livros podem melhorar aquilo que somos.
Livros podem ser lidos de muitos modos, seja qual for sua textura, seu cheiro, seu estado, suas cores, seu volume, seu peso (tudo isto está lá, é parte da experiência de nossos sentidos). O livro pode estalar de novo, e isto é bonito; e pode receber a maciez e o castigo do tempo, quem sabe as anotações de um antigo e desapegado dono.
O livro é de si mesmo e de quem o carrega, e uma vez lançado ao mundo por seu autor acumula em volta de si todas as vidas que o tocam. Ler é colocar em um livro um tanto do que você é. Meus livros, todos eles, trazem as marcas de minha passagem. São grifos, anotações à margem, flags, post-its. Eu estou ali por inteiro.
Então, surge o livro virtual, eletrônico, em uma tela, que não precisa vir para substituir ou desafiar o livro impresso. O dispositivo eletrônico de leitura traz vantagens inegáveis: portabilidade, obras de menor preço e, com lares cada vez menores, arquivos eletrônicos podem ser uma boa solução. Por que não aproveitar o papel em casa, à cama ou ao sofá, e o Kindle na bolsa?
E há, claro, livros difíceis, chatos, desafiadores. Mas qual é o problema? Basta abri-los, basta abrir-nos, e podemos ir e voltar, passear por outros campos e tentar novamente. Não precisamos de mais que desejar algo, e acho mesmo que precisamos todos – críticos, leitores, editores, livreiros, revisores – tirar alguns fantasmas do caminho. Para começar a ler devemos... começar a ler.
São muitas as alternativas pra quem deseja expandir os horizontes. Há dezenas de canais de booktubers (produtores de conteúdo no YouTube) e muitos Clubes de Leitura, todos cheios de gente que pode indicar, resenhar e listar clássicos e lançamentos. Livros estão aí para ser lidos, e assim como aprendemos a cozinhar cozinhando, ou a pedalar uma bicicleta pedalando, não há nada melhor que ler para se fazer leitor. Sem mistificações, fórmulas, complexidades.
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Lemos, largamos o livro, lemos outras coisas, voltamos a ele (se quisermos), avançamos, recuamos, descobrimos o que nos interessa, vamos acumulando curiosidades e saberes. A leitura não deve intimidar nem desencorajar ninguém, nem ser usada como obstáculo sociointelectual. Quando saltamos a primeira barreira, muitas vezes imaginária, essa caminhada acrescenta ao que somos todos os sabores do mundo.
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