Tadeu Bianconi apresenta, na Casa Porto de Artes Plásticas, em Vitória, a exposição de fotografias “cidades (in) visíveis”, com fotos de diversas cidades do mundo, tiradas ao longo de mais de 30 anos. Todavia, ao contrário de uma retrospectiva cronológica, a exposição propõe apresentar a obra de Tadeu Bianconi em um diálogo com o livro "As cidades invisíveis", de Italo Calvino.
Para esse diálogo, foram selecionadas 128 fotos de Bianconi, todas em preto e branco, e 28 frases de Calvino, não com a intenção de ilustrar palavras com imagens, nem de representar imagens com palavras, mas compor fotografia e literatura numa relação em que uma reforça e intensifica as características originais da outra.
A tensão promovida pelo encontro da imagem com a palavra transforma tanto uma quanto outra, por unificar um sentido simultaneamente visual e discursivo, no qual a fotografia perde a sua referência factual, e a literatura, o seu caráter narrativo – e ambas ganham um sentido poético.
O livro "As cidades invisíveis" conta a descrição que o viajante italiano Marco Polo fez de 55 cidades ao imperador mongol Kublai Khan, que desejava conhecer os diferentes recantos de seu domínio, sem sair do palácio. Para evidenciar essas cidades a Kahn, Polo as descreve com minúcias visuais, transcrevendo os detalhes das imagens com as sutilezas das palavras.
Como o interesse do narrador é dar a ver as cidades que visitou, a sua narrativa é completa e exclusivamente visual: não há dramas, nem romances, apenas descrições de cidades. Com a advertência de que “jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve”, Calvino mistura realidade e imaginação em estórias fabulosas, apresentando lugares fantásticos, com extraordinários habitantes – “Não se sabe se Kublai Khan acredita em tudo o que diz Marco Polo quando este lhe descreve as cidades visitadas em suas missões diplomáticas, mas o imperador dos tártaros certamente continua a ouvir o jovem veneziano com maior curiosidade e atenção do que a qualquer outro de seus enviados ou exploradores.”
Como no livro escrito por Italo Calvino, também as cidades fotografadas por Tadeu Bianconi fundem a realidade com a imaginação e, perdendo todo seu caráter histórico ou geográfico, tornam-se pura composição de imagem, formas, luz, movimento, poesia. Sem organização prévia de cenários, nem efeitos posteriores de edição, Bianconi fotografa o que vê, a fim de revelar o seu (in)visível.
Assim, como obra poética de fotografia, aqui também jamais se deve confundir uma cidade com a imagem que a retrata. O diálogo que esta exposição propõe entre a fotografia de Tadeu Bianconi com as frases do livro de Italo Calvino, ao contrário de retratar algum lugar ou contar alguma história, visa promover uma experiência de linguagem, através da interação da imagem com a palavra.
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O projeto da exposição “cidades (in) visíveis" conta também com uma série de atividades educativas elaboradas pela artista plástica Juliana Pessoa: visitas mediadas para grupos previamente agendados, com ações especiais programadas para os sábados, minicurso de mobgrafia, para crianças da comunidade de Consolação e Gurigica, passeios fotográficos pelo Centro de Vitória, bem como um seminário semipresencial. A exposição foi aprovada no edital de seleção da Casa Porto em 2019, mas devido ao fato de ser adiada por conta do fechamento do espaço durante parte do período de pandemia, pode ser visitada até o dia 9 de abril, de terça a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados de 10h às 14h.
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