Há quase dez anos, o ofício das paneleiras foi registrado como Patrimônio Imaterial no Livro de Registro dos Saberes. A coleta do barro, o ir e vir das mãos, a queima da panela, tudo isso é exercitado na fabricação artesanal de panelas de barro, que foram eternizadas pelo Iphan como bem cultural em 2002.
Reconhecidas como legado tupi-guarani e Una2, as técnicas utilizadas foram apropriadas por colonos e descendentes de escravizados que vieram ocupar esse território. São filhas, netas, sobrinhas e vizinhas que, no convívio doméstico e comunitário, compartilham seus saberes e afetos, empregando famílias da região ao longo desses mais de 400 anos de ofício. Até hoje as panelas continuam sendo modeladas manualmente, ainda usam o barro do Vale do Mulembá, a queima é a céu aberto e a tintura ainda é do açoite de tanino. Recursos, métodos, linguagens, suportes, lutas e respostas tão centenárias e tão contemporâneas!
É por isso que ter a panela de barro em casa é compromisso capixaba. Como diz a grande poetisa Elisa Lucinda, "todo capixaba tem um pouco de beija flor no bico e uma panela de barro no peito”. Efetivamente, todo capixaba precisa manter viva a chama das tradições culturais que orgulha o nosso povo. Ter uma panela de barro é ter história na mesa, é reconhecer a materialidade e imaterialidade desse patrimônio, é valorizar a nossa cultura.
Foi assim, unindo as ondas do movimento repetitivo para produção da simetria ovular com um acervo de pesquisa sobre a perpetuação das culturas e tradições capixabas, que concebi um monumento inclusivo de homenagem a essas mulheres. Tendo um olhar afetivo para o ofício e agradecido para as mulheres protagonistas que sustentam suas famílias ao conservar tradições.
Compreendo que celebrar esse ofício é imortalizá-lo nos registros da cultura, nas moquecas do almoço, nos monumentos da cidade. Mas, além disso, celebrar este ofício é também lutar pela promoção de políticas públicas para aquelas que o mantêm vivo.
Em tempo, espero vê-los na 26ª edição da tradicional Festa das Paneleiras de Goiabeiras, neste final de semana, valorizando a nossa cultura, investindo nestas trabalhadoras e debatendo por reconhecimento das tradições capixabas.
26ª FESTA DAS PANELEIRAS DE GOIABEIRAS
- Quando: 3 a 5 de dezembro
- Onde: Galpão das Paneleiras – Rua Silvana Rosa, Goiabeiras - Vitória
- Horário: sábado, das 12h às 23h, e domingo, das 12h às 22h
Sábado - 04/12
- 13h - Trio Miopia
- 16h - Dany Machado
- 19h - Grupo Responsa (Samba raiz)
- 21h - Banda Via Aérea (Sertanejo e pop)
Domingo - 05/12
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- 12h - Os 3 Elementos (chorinho)
- 14h - Banda Movimento (Axé Retro)
- 16h - Banda Samba Diverso (Samba e pagode)
- 18h - Testinha (Axé e Pop)
- 20h - Banda Bandara Music
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