Questões como amamentação, sono infantil, birras, adaptação na creche, briga entre irmãos e desfralde são complicadas para qualquer família. E aí, toda ajuda extra vale para lidar com a rotina dos pequenos. Se você tem criança em casa já deve ter ouvido falar da Psimama.
Seu perfil no Instagram virou ponto de encontro das famílias. São mais de 232 mil seguidores, gente de todo o país assistindo às lives, fazendo cursos, interagindo das mais diversas formas. Até algumas famosas, como a rainha do axé Ivete Sangalo, a apresentadora Sabrina Sato e a atriz Miá Mello, têm apelado para os conselhos dela.
Já se passaram quatro anos desde que a psicóloga capixaba Nanda Perim embarcou nessa nada mole tarefa. A vida de mãe começou um pouquinho antes. Aos 32 anos, a mãe do Théo, de 5 anos, e do Gael, de 4, também passa seus perrengues com os meninos. Normal! Afinal, não dá para criar um filho com manual nas mãos.
E Nanda aceitou mais um trabalho (acredite!). É a mais nova colunista da Revista.ag. Em nosso site, ela vai compartilhar as experiências sobre os mais variados temas relacionados ao dia a dia das crianças. Como passar valores com disciplina, respeito e sem autoritarismo? Como falar de xixi e cocô com naturalidade, sem pressa e sem traumas?
Confira um bate-papo com a Nanda e conheça um pouco mais sobre a Psimama.
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O que você fazia antes do Psimama?
Eu me formei em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Só que não tinha me apegado ao curso. Na faculdade, me apaixonei por sexologia e desenvolvimento infantil. Mas fui trabalhar com outras coisas. Tinha uma loja. Quando engravidei do meu primeiro filho tinha 24 anos e estava tão empolgada que saí fazendo todos os cursos de gestante que havia em Vitória. Meu filho nasceu de parto normal, mas hospitalar. Não foi uma experiência legal.
Por que?
Porque foi traumático, foi forçado. Tive doula e uma obstetra super humanizada, mas, mesmo assim, quando meu filho chegou aos meus braços, falei para meu marido: curte muito porque será o último. Não queria mais passar por aquilo, ter outro filho, porque havia sido muito ruim. Uma semana depois do parto, tive uma febre muito alta. Meu peito começou a empedrar. Corri para o banco de leite do Hospital da Polícia Militar e soube que era só a apojadura, era meu corpo reagindo à descida do leite. Aí já comecei a ficar revoltada porque ninguém nunca havia mencionado a apojadura para mim! Todas as experiências do puerpério, o fato de a amamentação doer muito no começo, o fato de você ficar triste e não saber por que, tudo isso eu não entendia porque havia feito um monte de curso! Comecei a estudar muito… E vi que tudo aquilo que estava vivendo estava descrito na literatura! E no aniversário de um ano do meu filho, Théo, descobri que estava grávida. Entrei em pânico porque iria ter que parir de novo. Não queria fazer uma cesariana. Comecei a ler sobre parto orgasmático, partos diferentões… No ultrassom, a moça falou que não era para me empolgar porque iria perder o bebê, que estava todo descolado da barriga. Estava com tanto medo de parir que fiquei feliz com a chance de abortar! Muito louco! E durante a gravidez do Gael, fui estudando mais e comecei a escrever sobre na Internet meus medos, sobre puerpério, o pós-parto...
Então o Psimama nasceu praticamente junto com a maternidade
Sim. O negócio começou a crescer! Os meninos iam crescendo, eu ia me atualizando nas novas idades. Ao mesmo tempo, o tema disciplina positiva começou a crescer no Brasil. E começou a fazer sentido vender curso. Na primeira turma, vieram 120 alunos. Criei uma metodologia, que mistura várias formações que fiz.
E o parto do Gael, como foi?
Fiz um parto domiciliar. Tive ele na casa da minha mãe, em Vila Velha, porque na época nós morávamos em Rondônia. E deu tudo certo! A melhor experiência da minha vida!
Quando voltou pra Vitória?
Meu marido é engenheiro, trabalha na Petrobras. Depois de Porto Velho, ele passou em um concurso no Rio de Janeiro e fomos para lá. Não aguentei morar em cidade perigosa e vim com os meninos para cá, onde morei com eles sozinha por um ano em Vitória. Meu marido só vinha nos finais de semana. Até que ele conseguiu transferência para cá também. Esse período sozinha com eles foi uma provação! Minha metodologia foi desenvolvida muito na porrada! (risos). Ou dava certo ou dava certo! Não tinha outra opção! Na época, um tinha dois anos e outro três. Eram dois bebês!
Como descreveria a Nanda antes e depois do Psimama?
A coisa ficou muito mais complicada quando o segundo chegou. Tenho meus grandes desafios! Sinto que essas técnicas vêm para tornar a coisa mais leve. Mas não fica fácil! Tendo as informações corretas, a gente consegue analisar a situação da melhor maneira, suprir as crianças de outra forma. A gente sabe o que fazer a todo momento. Isso tira um pouco o peso. Acredito demais que estou fazendo o que há de melhor no mundo na área de educação de filhos. Quando estou usando as ferramentas e ainda sim está muito difícil não acho que estou errando. Claro que tenho meus momentos de sentar no chão e chorar! Porque é cansativo! O dia a dia com crianças de 3, 4 anos é muito difícil. Tem momentos muito gostosos e outros insuportáveis!
Pode citar um exemplo?
Um dia desses, o Gael estava chorando porque eu não estava deixando que a quarta-feira virasse um domingo. Pude usar todas as ferramentas, mas não deixou de me dar uma baita dor de cabeça. Não deixou de ser uma situação frustrante. Estava sendo estressante, mas eu sabia exatamente o que eu estava fazendo, meus objetivos, o que eu ia conseguir com aquilo. Então, imagino que uma pessoa na mesma situação perdida sem saber o que fazer deve ser dez vezes mais estressante, deve ser surtante, sabe? E falo sobre essas verdades no meu Instagram. São 200 comentários “sim, é muito difícil”. Converso com minhas amigas que têm vontade de ter filhos. O mundo mente pra gente. Desconstruo absurdamente a romantização da maternidade. A gente precisa, entre pais e mães, ter esse colo. Uma vez uma menina disse: ‘Às vezes eu imagino você aí na sua casa ouvindo música clássica e seus filhos fazendo crochê no chão”. Não é nada disso! Eu uso muito das minhas dificuldades pra fortalecer minha metodologia e torná-la o mais real possível, o menos culpabilizante. Às vezes, as metodologias fazem as pessoas sentirem culpa de não darem conta de fazer.
Entre os seguidores, as mães são maioria ainda?
As mães vêm primeiro. Depois, os pais, porque eles começam a ver diferença em casa. No começo, eles acham que isso é “passar a mão na cabeça da criança”. Mas na primeira vez em que a mãe consegue ser firme na frente do pai sendo extremamente respeitosa e gentil, e a criança sorri de volta para ela, o pai começa a ver que funciona. Aí, passa para uma outra etapa que é ele perguntar para a mulher: “E aí, o que você faria, o que você falaria?”. Depois, ele começa a testar.
Então não é mais só sobre maternidade que você vem falando?
Vejo muitos pais nas lives. Por isso a gente vem usando mais o termo “Criando juntos” até do que Psimama, que pode ficar limitado às mães. No meu curso, meu marido também tem falado, grava uma versão para os pais, com as vivências dele. Por isso, minha ideia não é falar só com mães. É falar com quem educa filhos. Até porque tem casa em que são dois pais ou duas mães. Já tive mães solo também nos cursos, tive avós e pessoas que nem têm filhos. A gente tenta incluir a maior quantidade de configurações familiares possíveis.
Como é ter entre os seguidores gente como Ivete Sangalo?
Ela me mandou mensagem pedindo ajuda para desfraldar as gêmeas dela! Acho muito legal! A Miá Mello outro dia deu uma entrevista e falou de mim, disse para as pessoas me seguirem.
Você tem dois livros publicados. Vem mais algum por aí?
Tenho um sobre desfralde. Um outro sobre como a criança pode lidar com a raiva. E este ano vamos lançar sobre como ajudar a criança a tirar a chupeta.
Já que tocou no assunto, tudo bem deixar a criança chorando uns dias sem chupeta? Isso passa?
Sou absolutamente contra qualquer transição na infância em que você tenha que deixa uma criança chorar por dias. Esse período em que ela ficou sofrendo fica pra sempre nela. Se foi aquela dor, se ela sentiu uma dor muito grande é porque aquilo tinha uma importância para ela muito maior do que você imaginava. É uma crueldade muito naturalizada no nosso mundo. É o mesmo que falo sobre sono infantil, sobre deixar um bebê chorar para dormir sozinho.
Lidar com a birra é outra queixa comum dos pais?
Sim. Digo que a criança precisa entender, assimilar e aceitar. Se você der esse tempo de processamento cognitivo para ela 20 minutos antes, 10 minutos antes e 5 minutos antes você vai ver uma criança que não “dá show” e nunca mais vai se estressar em lugar nenhum para ir embora. Eu não me estresso com meus filhos. Pode ser a festa mais divertida do universo.
Parece simples...
Existem três pilares para você conseguir direcionar seus filhos como uma girafinha, como gosto de brincar. Com orelha de girafa, ouvindo a criança; com pescoço de girafa, vendo com distância, não levando pro lado pessoal, achando que a birra é pra te controlar; e com coração da girafa, que é você ter empatia, muito amor e respeito. Nesse direcionamento, tem o conhecimento, você saber que a criança leva um tempo de assimilação para sair dos lugares. Tem o autoconhecimento, que é você entender porque nessa hora te dá raiva e vontade de pegá-la pelo pescoço para levá-la embora do parquinho, já que a vida inteira seus pais foram autoritários e pegavam e faziam. E que enquanto você está desconstruindo isso, esse ímpeto ainda vai vir no seu corpo. A criança não tem nada com isso. E o terceiro pilar é o relacionamento, que é quando você tem a informação e se conhece bem, você conseguir melhorar o relacionamento com a criança, conseguir levá-la para qualquer lugar porque não tem medo de ir embora com ela de lá.
Como não ser nem autoritário nem permissivo?
Nenhum dos dois funciona. O permissivo é muito desrespeitoso com o adulto. A criança faz o que ela quer. E é desrespeitoso com a criança porque ela não aprende o que ela precisa. No modelo autoritário, o respeito é só da criança para com o adulto. Ela apanha, fica de castigo, sofre muito na mão desse adulto. Proponho a educação democrática, que é o meio termo, um equilíbrio.
A sua coluna vai ter temas variados e atuais. Até coronavírus? Aliás, como falar com as crianças sobre isso tudo que está acontecendo?
Tem que explicar que é um bichinho muito pequenininho, que fica na nossa mão e que só de lavar bem com sabão ele sai. E dizer também que ele fica nas coisas. Então, toda vez que a gente mexer nas coisas não pode colocar a mão na boca nem no nariz. Explicar que é um bichinho que, quando entra no nosso corpo, deixa a gente doente. E que deixa outras pessoas muito doentes, como o vovô, a vovó… Só sugiro não ficar falando de morte, que a pessoa pode morrer. Pode dizer que a pessoa vai ficar tossindo, tossindo e que pode precisar ir pro hospital tomar injeção. É importante passar calma para a criança. Sempre que for lavar a mão dela, passar álcool, fazer isso da forma menos pesada. E não transparecer pânico. Porque ela pode ficar em pânico só de ver os pais em pânico, mesmo que eles não falem nada. Não dá para deixar de falar com elas! Existe coronavírus, ele é perigoso e não precisamos entrar em pânico. Não subestimem suas crianças. Elas dão conta de saberem de tudo isso.
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