Um dia, enquanto minha amiga dormia deliciosamente em sua cama quentinha, o telefone dela tocou. Era cedo ainda, mas ela resolveu atender assim mesmo. Naquela época o celular não tinha bina, e seu namorado havia saído para tomar café da manhã com os pais, que há pouco haviam chegado para visitá-lo na cidade onde moravam.
Pois bem, depois de dizer alô algumas vezes, ela se deu conta de que a ligação havia sido por engano, porque as pessoas da mesa apenas conversavam entre si. Sem resistir a curiosidade, ela permaneceu na linha e ficou ouvindo a conversa, que por acaso soava nítida. E mesmo nos momentos de silêncio, quando o assunto morria, ela permaneceu na expectativa (de que mesmo?) de descobrir ou desvendar alguma “verdade” não sabida.
Dito e feito. Depois de alguns minutos a energia virou. Ela finalmente se tornou o assunto, e deu ruim. A mãe do rapaz deu uma opinião fatal sobre aquele namoro, o pai endossou, o garoto replicou como pôde, mas não teve jeito: o caldo entornou. Ela ficou profundamente ofendida, o culpou, chorou e terminou o namoro. (Nota: esse episódio aconteceu há anos, mas o sofrimento dela nunca passou.)
Uma pena. Apesar de jovens, aqueles dois se amavam até debaixo d’água. Acontece que a insegurança que rondava a mente dela assumiu o controle e deixou que “o outro” confirmasse o que ela desconfiava sobre si mesma. Perceba, ela deixou.
Quando escolheu ficar na linha e, literalmente, “deu ouvidos”, ela plantou uma semente. Depois esperou brotar o germe que comprovava: ela não era suficiente. Mas repare que isso só veio à tona porque “ela” também acreditava. Caso não houvesse dúvida sobre o assunto, ou isso simplesmente não a interessasse, teria desligado o telefone e voltado a dormir, linda. Mais tarde os encontraria no parque pra tomar sorvete, alheia à infeliz opinião da mãe dele. Quem sabe ainda não estariam juntos e felizes?
Por isso a pergunta: por que deixamos que “o outro” nos diga o que pensa como se fosse a verdade, mesmo quando é por engano?
Eis a estupidez humana. Achar que a construção da vida se dá a partir do lado de fora, quando a única possibilidade está do lado de dentro!
Precisamos assumir de uma vez por todas a responsabilidade sobre o que queremos. Sobre o que estamos “contratando” com o Universo. Isso é muito sério... Tomar a direção, o volante, a guia, as rédeas, ao invés de ficar na linha, aguardando o outro decidir nosso destino.
Agir ao invés de esperar que o mundo e suas regras compareçam e nos esmaguem. E pior: pagando pra ver isso.
Às vezes custa caro. Custou a ela o amor da vida. Ou assim ela pensa, ou, eu penso sobre isso.
“Criar o próprio destino não significa ter controle de todas as situações do mundo. Criar seu destino é seguir constantemente em direção ao seu bem-estar e à sua natureza suprema, não importa qual seja o conteúdo da vida ao seu redor.” Sahdguru
Eu acredito nisso. Sabe, conduzir os próprios caminhos é mesmo um processo espiritual. Não é sobre impor ao mundo nossas ideias, é sobre seduzir a vida. É sobre criar com ela uma relação de entrega, agindo em nome do prazer e da alegria.
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E por que não? Se às vezes podemos nos salvar simplesmente desligando a chamada por engano e voltando a dormir.
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