Enquanto escrevo esta reportagem, em casa, minha filha, de 3 anos, não resiste e me puxa pela camisa a todo momento. Ela quer brincar! Ver a mãe tão pertinho em casa, no horário de trabalho, parece mesmo uma oportunidade única. O que está acontecendo comigo é o que acontece em inúmeros lares no Espírito Santo e pelo Brasil e mundo afora, diante da pandemia de coronavírus.
Milhares de famílias se viram, da noite para o dia, com a rotina virada do avesso, cancelando compromissos e tendo que se adaptar ao isolamento forçado. Pais trabalhando em esquema de home office, filhos com aulas suspensas, babá e faxineiras liberadas... E aí, chama a vovó!!
Mas eis que surge outro problema: os idosos são o grupo mais vulnerável ao coronavírus e, portanto, deve ficar protegido. O que fazer diante desse caos doméstico? Como dar conta das tarefas e das crianças sem expor ninguém a nenhum risco?
O WhatsApp da pediatra Lívia Lopes não para. Toda hora uma mãe querendo tirar uma dúvida sobre o que fazer com os filhos nesse momento. Tem muita gente assustada, mas também tem muita gente tirando por menos. Então, o que temos feito é tentar acalmar quem está nervoso e passar um pouco de bom senso para quem está achando que entrou de férias, comentou.
A médica concorda com a medida da maioria das escolas e creches de mandar as crianças para casa. Além de se evitar a propagação do coronavírus, que tem uma taxa de transmissão muito alta, diminui-se o fator de confusão com outros vírus que circulam nesta época, deixando assim os pronto-socorros livres para atender os casos mais graves.
Esse isolamento, porém, pode se estender por muito tempo. Então, o que fazer com os pequenos. Segundo a pediatra, como aqui no Estado, por enquanto, não há situação de transmissão comunitária, é possível sair de casa um pouco, desde que se tomem certos cuidados importantes.
A gente tem que diminuir a circulação de pessoas e o contato entre elas. O ideal é evitar aglomerações. Os pais podem descer um pouquinho no parquinho do prédio com a criança, desde que não haja outras crianças lá. Podem levar um álcool em gel e lavar as mãos da criança depois, já que ela vai tocar nos brinquedos, cita Lívia.
Agora, diz a pediatra, caso um dos adultos ou a criança tenha algum sintoma gripal, independente de ser coronavírus ou não, a ordem é confinamento mesmo por pelo menos 14 dias.
A psicóloga Nanda Perim, a Psimama, diz que o jeito é usar a criatividade em casa para driblar o tédio da garotada. Primeiro, é preciso não se sentir responsável por entreter a criança o tempo todo. Você pode garantir que essa criança tenha recursos para isso. Por exemplo, ter brinquedos disponíveis, ter sua disponibilidade em alguns momentos até do dia. A segunda dica que dou é ter rotina, se organizar durante esse período de coronavírus. Tem horário em que mamãe está trabalhando, que papai está trabalhando e tem o horário em que papai e mamãe estão com a criança. Essa previsibilidade dá segurança para a criança.
Nanda sugere uma olhada na Internet, onde há várias dicas de atividades para entreter os pequenos. Ela pede, porém, que os adultos não entrem na paranoia de evitar o uso de telas. Não é abusar e deixar a criança o dia inteiro na frente das telas, mas nem ficar em pânico e nem deixá-la com tela hora nenhuma e ficar surtando em casa porque tem que trabalhar. Tentar achar um equilíbrio. Tem que haver horário para ela ver TV, horário para ela brincar. Pai e mãe podem se revezar no trabalho e na atenção ao filho. Se tem um quintal em casa, um espaço no prédio para a criança correr, tomar sol, tomando-se os cuidados, é o ideal, orienta a psicóloga.
E se a realidade não puder ser outra que não avós e netos sob o mesmo teto durante a crise do coronavírus? Para a geriatra Daniela Barbieri, o momento pede resguardo. Ela lembra que quanto mais idade e mais doenças crônicas, mais risco de gravidade da infecção pelo Coronavírus-19.
O ideal é ficarmos em núcleos familiares menores. Se possível, os mais jovens prestarem assistência aos seus pais e não esses serem responsáveis pelos netos. Fazer compras para os pais idosos e levar até eles, evitando deslocamentos que não precisam ser feitos pelos idosos. E as crianças ficarem com os pais, no pequeno núcleo, recomenda a especialista.
Se for necessário o convívio no mesmo ambiente, reforçar sempre a importância da limpeza sistemática das mãos, evitar contato físico entre as pessoas, com beijos, abraços, colo, afagos. Explicar que não se deve compartilhar copos, talheres, travesseiros, complementa Daniela.
Além disso, diz a geriatra, quem quer que apresente sintomas respiratórios precisa ficar em quarto próprio e circular nos ambientes comuns da casa de máscara. O idoso não será o melhor acompanhante de uma criança ou mesmo pessoa de qualquer faixa etária com sintomas gripais ou febre, observa.
De acordo com o geriatra Roni Mukamal, os mais velhos devem ficar em casa, melhor ainda se for distante das crianças. Se é um idoso de saúde frágil, o melhor é que não tenha contato com os netos. A menos que se garanta que a criança fique também só em casa. Mas é arriscado. É muito mais difícil isolar uma criança. Ela desce para o parquinho, encosta nas coisas. É uma situação atípica e de emergência. E a gente precisa proteger os idosos, que são a população mais vulnerável. Pelo menos pelos dados que temos até agora, comenta o médico.
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