Há algumas pessoas que chamam de dieta, outras de estilo de vida ou simplesmente uma nova forma de alimentação. Embora seja seguida de diferentes formas pelo mundo, a filosofia macrobiótica vem ganhando novos adeptos no Espírito Santo, cuja principal intenção é tentar receber e dar boas energias por meio da comida.
Apesar de ter sido debatida anos antes, a macrobiótica foi apresentada ao mundo em 1961, pelo japonês George Ohsawa. Com base em fundamentos do budismo, essa dieta tem como princípio uma harmonia com a natureza. O movimento surgiu em resposta às formas de consumo atuais (fast-food, etc) e como opção de "cura pela boca", devido ao fato de acreditar na extinção de doenças por meio da comida.
Neste caso, ainda sob a visão dos conceitos orientais, essa cura é alavancada por duas forças opostas, chamadas de Yin e Yang. Dessa forma, o Yin seria o doce e Yang o salgado, por exemplo. Independentemente de qual seja a dualidade, segundo essa filosofia, é preciso encontrar um equilíbrio entre os alimentos, a fim de que também haja uma harmonia no corpo de quem os come.
Os principais alimentos de um cardápio macrobiótico são leguminosas, sementes, oleaginosas (castanhas, nozes e amêndoas) frutas e cereais integrais. A maioria dos adeptos fala que a carne de peixe pode ser consumida, mas outros não recomendam a introdução de qualquer ingrediente de origem animal. Também são comuns raízes, verduras e algas marinhas.
Já entre os ingredientes "proibidos", é possível citar café, bebidas estimulantes, pimentas muitos fortes ou qualquer outro tipo de alimento industrializado, cheio de açúcar e que passe por processos de refinamento. É necessário que tudo seja orgânico, sem a adição de agrotóxicos.
Quem já pratica a macrobiótica garante que ela tem o poder de mudar a vida para melhor. Foi o que aconteceu com o escritor Roberto Al Barros, de Cachoeiro de Itapemirim, que é adepto há 40 anos. No momento em que conheceu os fundamentos dessa cultura alimentar, ele conta que começava a enfrentar problemas de saúde, ocasionados pelo alcoolismo e tabagismo.
"Descobri a macrobiótica através de um amigo, quando ainda era jovem, com meus 20 e poucos anos. Já naquela idade, eu bebia e fumava muito. Não tinha uma boa saúde. Achei que essa era a minha porta de salvação. Comecei a estudar, pra conhecer um pouco mais, e trago comigo até hoje", relembra, explicando que, atualmente, tem uma vida muito mais equilibrada.
Ele conta que busca cozinhar de uma forma "zen", levando energias do bem para a comida. Por causa desse laço íntimo com a alimentação que, segundo Roberto, a macrobiótica vem ganhando atenção. "Hoje em dia vejo que muitas pessoas estão conhecendo e se interessando mais. Esse desejo de mudança do corpo e das coisas ao redor fica no espírito das pessoas e são levadas a diante. É um estilo de vida que passa de geração em geração", defende.
Uma parte das refeições de Roberto é feita com ingredientes diversos, mas ele afirma que o protagonista da sua alimentação é o arroz integral. Todo o seu planejamento para comer varia, no entanto, de acordo com a estação do ano e até com o clima do lugar onde ele estiver. Outra variável que o escritor tenta colocar em prática é o tempo de mastigação, cujo ideal são mais de 10 minutos.
"Se você come uma fruta fora da estação dela, isso significa que devem ter agrotóxicos ali. Além disso, acreditamos que não dá pra servir uma sopa de lentilha em, por exemplo, uma cidade que esteja marcando 30ºC. Como manter o equilibro do corpo se ele não tá recebendo uma comida adequada com o ambiente?", questiona.
Outra adepta da macrobiótica é a jornalista Paola Nali, de 35 anos, que optou há cinco anos por dar uma repaginada tanto no seu estado físico quanto no emocional através da comida. Tudo aconteceu após uma série de pesquisas que ela fez sobre o assunto. De uma vez só, então, decidiu parar de tomar refrigerante, comer doces e comprar produtos industrializados.
Paola também tenta dedicar-se a meditação durante as horas que passa na cozinha, preparando os alimentos. "Depois de fazer uns cursos sobre energias vibracionais, entendi que essa relação com o alimento traz questões emocionais para o nosso cotidiano. Quando estou comendo e vejo os ingredientes no meu prato, só vejo vida ali, que organiza e limpa o corpo", afirma a jornalista, que mora em Linhares, no Norte do Estado.
Com o passar do tempo, ela conta que muitas características da sua personalidade mudaram, incluindo o modo como lida com os problemas diários. "Isso fez com que eu levasse a minha vida de uma forma mais leve, pois tento me conectar ao que estou comendo. Essa força do bem tem o poder de mudar todo o nosso cotidiano, faz", defende.
Antes de começar a bombar entre os capixabas, esse "life style" já era conhecido nacionalmente por conta de alguns famosos. Entre os que possuem maior visibilidade, vale citar a atriz Cássia Kiss, o jornalista Caco Barcellos ("Profissão Repórter", da TV Globo), o escritor Fernando Gabeira - hoje não é mais -, o músico Gilberto Gil e a sua filha e chef Bela Gil.
Gil, inclusive, diz que a alimentação macrobiótica lhe ajudou na cura de um gânglio, no final dos anos 1990. E foi ele quem inspirou Bela a virar uma das maiores defensoras atuais do movimento. Assim que começou a ganhar destaque na internet, a jovem de 32 anos fez inúmeras postagens nas redes sociais sobre o tema, como a live que fez neste ano com o filho de Tomio Kikuchi, considerado o pai desse tipo de filosofia no Brasil.
Especialistas alertam, no entanto, que essa filosofia alimentar pode acarretar alguns riscos para a saúde. Segundo o nutrólogo Roger Bongestab, se ela não for adotada com um acompanhamento médico, é capaz de provocar a falta de nutrientes no organismo, como o ferro e a vitamina B12.
O principal motivo seria a falta de carne na dieta, que precisaria ser reposta de outras formas, seja em suplementos naturais ou em alimentos com altas taxas desses nutrientes.
Mesmo com esses riscos, para o especialista, também é possível notar diversos benefícios. Por ser uma dieta baseada no consumo de vegetais, legumes e cereais, tem o poder de ajudar na proliferação das boas bactérias do sistema digestivo, dar energia suficiente para ser gasta durante o dia e, além disso, desenvolver o autoconhecimento.
Bongestab indica, ainda, que esse tipo de alimentação não é recomendada para quem quer mudanças no próprio peso, pois é mais um estilo de vida do que um "regime" propriamente dito. "Na macrobiótica, as pessoas acabam comendo menos proteína e mais legumes, então podem perder peso. Mas também consomem mais carboidratos. Ou seja, podem ganhar massa muscular. São muitas variáveis, não é uma restrição alimentar adequada para isso", defende.
*Maria Fernanda Conti é residente do 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob a supervisão da editora Mariana Perini.
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