A pandemia do coronavírus impactou profundamente as nossas vidas. Todos, adultos, idosos e crianças, precisaram de repente se adaptar a novos hábitos, a novas e duras regras sociais.
Não existe uma receita perfeita para fazer tudo isso funcionar. Mas cabe aos pais se esforçar para passar segurança e tranquilidade aos pequenos neste momento. Sabe-se que o medo também pode ser contagioso.
Já ouvimos diversos especialistas, como você pode ver nas seguintes matérias:
Pais precisam relaxar e se divertir com os filhos, dizem psicólogas
Quarentena: seu filho voltou a agir como um bebê? Entenda o que se passa
Quarentena: é hora de ter ainda mais calma com as crianças
Mas juntando tudo o que já disseram, elaboramos uma espécie de manual para você ajudar seu filho na quarentena, para que a família toda possa enfrentar esse drama da melhor maneira possível e com menos danos à saúde física e mental.
Confira as dicas:
O diálogo neste momento é fundamental. Use linguagem simples e adequada para falar com as crianças. Explique, quantas vezes for necessário, o que está acontecendo e como todos precisam colaborar com paciência e compreensão. "É preciso dar todo o acolhimento, explicar de forma leve e lúdica o que está acontecendo, ouvir o que elas têm a dizer e buscar formas de deixá-las mais confortáveis com a situação", orienta Vinícius Grassi, psicólogo da Unimed Vitória
Ao explicar que a escola vai ficar fechada por um tempo, que não tem shopping, festinha ou parquinho, saiba validar as emoções da criança, mostrando a ela que não há problema em sentir frustração, raiva, tristeza. Explique que ela não é a única a sofrer restrições. Que isso é por um tempo e irá passar
Se houver alguém muito doente na família, como um tio, uma avó, você deve preparar a criança, mas sem aterrorizá-la desnecessariamente. Pode dizer que tudo o que for possível será feito para essa pessoa se recuperar. Em caso de morte, saiba que crianças pequenas podem não entender completamente o que isso significa e podem ficar perguntando quando o vovô irá voltar para casa.
Crianças são ótimas "detetives" e sabem detectar o clima na casa, na família. Se os pais estão mais agitados, ansiosos, estressados, inseguros, elas vão perceber e vão reagir diante disso. Só que elas não sabem se expressar. Cuide da sua saúde mental, mantenha a rotina de casa em ordem, converse bastante e passe tranquilidade a seu filho. Mostre que vai ficar tudo bem, que tudo isso vai passar "Se a criança tem uma rede familiar que lhe dá suporte, se tem uma rotina organizada, brincadeiras no dia a dia e presença qualitativa dos pais, com espaço para abrir seu coração e falar dos seus sentimentos, o estresse se torna tolerável. Do contrário, o estresse se torna tóxico e prejudica a saúde. É preciso cultivar pensamentos positivos", diz a neuropediatra Liubiana Arantes de Araújo, presidente do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento, da SBP.
Você é o modelo de comportamento que espera do seu filho. Portanto, manter a calma e o respeito é fundamental neste momento. Vale discutir em família o papel que cada adulto possui em fornecer o suporte para que o estresse não se torne tóxico para as crianças e adolescentes
Espero que não se sintam e não se vejam dessa forma. Os pais possuem suas próprias questões subjetivas, seus interesses, demandas como filhos, como profissionais, como cônjuges etc. Portanto, neste momento, suas próprias fragilidades tendem a comparecer. Mas, como adultos que são, espera-se que encontrem maneiras de contornar suas angústias e ansiedades para poder apoiar os seus filhos. Já escutei muitos relatos de pais dizendo que o fato de terem se tornado pais os ajudaram a superar dificuldades que possuíam. A responsabilidade, os laços amorosos e a convivência familiar também podem propiciar uma rede de afeto e de suporte tanto para os filhos, como para os pais, diz a psicanalista Renata Imperial.
Seja mais flexível quanto ao que seus filhos podem fazer dentro de casa, claro, dentro dos limites de segurança. Se for possível, disponibilize a varanda ou quintal para as brincadeiras que precisem de mais liberdade.No dia em que as crianças "surtarem" ou não estiverem bem, respire fundo e compreenda. Vai passar. É um reflexo do confinamento. A oscilação emocional é bastante natural.
Ensine a seu filho como higienizar as mãos e que esse cuidado deve ser um hábito diário, mesmo após a pandemia acabar. Além disso, orientar como espirrar com proteção, como utilizar os seus utensílios, como evitar o contato físico e como se cuidar de forma lúdica, com músicas, leituras e brincadeiras. Porém, não permita que elas recebam informações excessivas sobre o momento atual. As crianças precisam apenas saber o suficiente para compreender a situação.
O ideal é manter a dieta e a ingestão de líquidos adequada para cada idade. Os alimentos possuem papel no crescimento, na prevenção de doenças e na formação da arquitetura cerebral. O aleitamento materno exclusivo até o sexto mês e mantido até os dois anos é de grande relevância. Observe questões como o sobrepeso e obesidade, que são fatores de risco, inclusive, para o coronavírus. Se não tem quintal, pegar um sol na varanda por alguns minutos diariamente ou mesmo na janela do apartamento pode ajudar na obtenção da vitamina D. Além de que a exposição solar ajuda a melhorar o estado emocional
A psicanalista Renata Imperial afirma que algumas crianças tendem a ficar mais agitadas, agressivas, irritadas, mandonas em situações estressantes, de muitas mudanças. Outras tendem a enfrentar as adversidades chorando, gritando, fazendo birras. Existe o grupo de crianças que demonstram sofrimento em sua relação com a comida, ou seja, comem muito ou quase não comem. Há aquelas que são mais quietas, mais introvertidas e, em momentos de sofrimento, podem ficar ainda mais caladas e paradas, chegando ao extremo do mutismo. Essas últimas apresentam o maior risco de passarem despercebidas, pois são consideradas boazinhas, fazem menos barulho, demandam menos dos pais e das outras pessoas à sua volta.
Ao ver que o filho está agindo diferente, regredindo em alguns comportamentos, eles devem acolher a criança, entendendo que esses comportamentos não são intencionais e sim sintomas. E buscar o diálogo, por mais complicado que seja o assunto a tratar, como uma pandemia.
A criança, por conta do estresse, da insegurança, pode regredir em certos comportamentos, voltar a agir como um bebê. Pode pedir chupeta, voltar a fazer xixi na cama ou precisar de fraldas de novo. Segundo especialistas, é um mecanismo de defesa dela para se acalmar, restabelecer a segurança
Se os pais observarem que os filhos apresentam comportamentos que estão muito fora da normalidade , é hora de procurar ajuda profissional. Se a alteração de comportamento está atrapalhando a vida do seu filho, prejudicando sua saúde, seus relacionamento com as outras pessoas, ele pode estar sofrendo
Apesar de os brinquedos serem importantes para as crianças, elas gostam mesmo é de contato corpo a corpo, de atenção, de passar tempo junto com outros seres humanos, em especial os pais.
A psicóloga Danielle Alvim afirma que os pais devem incentivar que os filhos interajam e troquem experiências com seu amigos por vídeos. Mesmo que seja de uma nova forma, eles estão mantendo interação social
A psicóloga Nanda Perim, a Psimama, diz que o jeito é usar a criatividade em casa para driblar o tédio da garotada. Primeiro, é preciso não se sentir responsável por entreter a criança o tempo todo. Você pode garantir que essa criança tenha recursos para isso. Por exemplo, ter brinquedos disponíveis, ter sua disponibilidade em alguns momentos até do dia. A segunda dica que dou é ter rotina, se organizar durante esse período de coronavírus.
Vale intercalar períodos de atividades físicas dentro do lar em mais de um horário do dia nos turnos da manhã e da tarde e, se possível, fazer as atividades em conjunto, pais e filhos. Estimular a criança e o adolescente a ser criativo para realizar essas atividades em casa que podem ser de circuitos feitos com travesseiros e garrafas plásticas, pular corda, dançar, artes marciais dentre outros. Também estimule atividades no quintal, na varanda ou próximo a locais mais arejados da casa ou apartamento
Tem horário em que mamãe está trabalhando, que papai está trabalhando e tem o horário em que papai e mamãe estão com a criança. Essa previsibilidade dá segurança para a criança. Tente sincronizar o horário dessa necessidade com a agenda de um filme ou alguma atividade em que a criança não necessite de tanta supervisão
Tente inserir os pequenos em algumas de suas atividades domésticas, na hora de cozinhar ou mesmo na organização da casa. Faça com que eles se sintam úteis e participativos.
Muitas escolas estão com aulas remotas. Se você não está conseguindo, por qualquer motivo, colocar em prática esse modelo, converse com a direção, com os professores para encontrar uma solução. Já em relação a crianças pequenas, não exija concentração e cumprimento das atividades. É algo muito difícil para elas. Vá levando de forma tranquila, como uma atividade extra, ou isso pode se tornar mais um fator estressor
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