A infância é lembrada por muitos como a melhor fase da vida. Talvez porque são poucas as preocupações e a imaginação rola solta. Nesse período em que tudo é possível e mágico, surgem ideias, brincadeiras e inúmeras possibilidades de ver o mundo e até as pessoas, inclusive as que só existem em um mundo de fantasias, como o Papai Noel.
Muito querido pelos pequenos, o bom velhinho é um protagonista quase unânime entre as crianças quando o assunto é Natal. Mas você, adulto, já se perguntou se é saudável alimentar essa fantasia? Como era de se esperar, especialistas dizem que sim.
A pedagoga Cristiane Batista é mãe de Alice de Souza, de 7 anos. Ela conta que, mesmo sabendo qual o presente que a filha quer, faz questão de escrever com ela a cartinha para o Papai Noel todos os anos. Acredito que seja importante deixar fluir a imaginação das crianças, até para um melhor desenvolvimento no mundo real. Precisamos deixar a criança ser criança enquanto ela pode. Deixa pra limitar a imaginação quando for adulto, diz a mãe.
Para Cristiane, vários personagens fazem parte da infância e ela sempre compartilha toda a magia de cada um deles com a pequena Alice. Conversamos sobre o assunto sempre que surgem oportunidades, como quando um dente amolece e a fada do dente entra em ação. O Coelho da Páscoa traz chocolates pra criança obediente e, claro, o papai Noel vai receber a cartinha dela.
Não podemos deixar a magia da infância acabar. Esse ano ela quer uma boneca que parece um bebê de verdade, acho que o Papai Noel vai atender o pedido dela. Eu e o papai já estamos providenciando (risos), brinca a mamãe.
A psicóloga Renata Junger explica que as fantasias, como as relacionadas ao Papai Noel e à magia do Natal, também são brincadeiras e, por isso, são essenciais ao desenvolvimento das crianças. Eu associo a fantasia ao lúdico ao ato de brincar. Dessa forma, entendo o brincar como um aspecto vital para garantir a saúde da criança, uma vez que ele mobiliza conteúdos importantes relacionados a tensões e conflitos que a criança está enfrentando em seu mundo interno, pontua.
A magia do brincar acontece quando há liberação de energias estagnadas, promovendo a auto regulação e consequente reparação desses conflitos, complementa.
Segundo a profissional, é função do adulto garantir os meios necessários para que as crianças exerçam seu direito de brincar. Nesse contexto, é importante valorizar todas as produções delas, incentivando a auto expressão, imaginação e criação de histórias e personagens. Essa deve ser uma prática diária e as festividades do Natal são uma oportunidade de exercê-la. A relação que a criança estabelece com o Papai Noel, por exemplo, dialoga com a sua capacidade de criar e pode mobilizar aspectos como o encantamento, as expectativas, os medos, entre outros, afirma Renata.
Outra orientação da psicóloga é fomentar uma relação saudável da criança com a sua própria imaginação. O importante é respeitar a relação estabelecida sem forçá-la ou interrompê-la. A medida, nesse caso, é o equilíbrio, sempre modulado pelas produções da própria criança, acrescenta.
A psicanalista e colunista da Revista.ag, Bianca Martins, também é super a favor de manter as fantasias vivas nas crianças. Ela inclusive sugere o livro Cartas do Papai Noel como leitura para compartilhar com os pequenos. São as cartas que Tolkien - o mesmo autor da obra "O Senhor dos Anéis" - escrevia para seus filhos, se passando por Papai Noel. É um ode à fantasia. Lindo!, recomenda.
Na história, todo mês de dezembro, um envelope com um selo do Polo Norte chegava para os filhos de Tolkien, o autor. Dentro dele, vinha uma carta escrita à mão com letra trêmula e estranha e um lindo desenho colorido. Isso tudo era do Papai Noel, narrando histórias incríveis sobre a vida no Polo Norte. Desde a primeira carta para o filho mais velho, em 1920, até a comovente última carta para a caçula, em 1943, este livro reúne todas as memoráveis cartas e desenhos que Tolkien fez para os filhos.
A profissional ainda separou 10 dicas de como manter a fantasia viva na criança e entrar na brincadeira com ela. Confira:
Contar histórias a partir da capacidade de entendimento da criança. Os livros infantis são excelentes instrumentos. Pais e mães podem e devem narrar suas próprias histórias, ou até mesmo inventar algumas.
O universo da fantasia é permeado por palavras e movimento, ao cantar e dançar exercitamos ambos os aspectos em família.
Muitos pais reclamam que não sabem brincar com os filhos. Isso é impossível, todo mundo sabe brincar. Qual brincadeira o papai e a mamãe mais gostavam na infância? É um bom começo.
Isso mesmo, não ter nada para fazer é uma excelente atividade para que as fantasias brotem na cabeça das crianças. Menos telas e mais tempo para pensar em nada!
Quando temos a oportunidade de fazer algo que habitualmente não fazemos, no cotidiano, toda essa vivência traz importantes elementos mnêmicos (memória) que auxiliam na construção de novas fantasias.
Cada criança tem seu próprio mundo interno. Quando brincamos com outras pessoas, podemos ampliar nosso repertório criativo. Afinal, por sermos seres de linguagem, somos curiosos para conhecer o que o outro viveu, por onde andou, o que fez, como resolveu um conflito. O Instagram que o diga, não?
O vovô e a vovó são ótimas fontes de histórias. Eles podem nos apresentar o mundo em que viveram, e que não existe mais. Por exemplo: o avô andou de bonde. Ao narrar essa experiência eu aprendo com o que o outro me conta e agrego uma experiência que não tive.
As experiências táteis, sonoras e visuais, que adquirimos no contato com a natureza, nos conectam com o humano primitivo que ainda nos habita, e que, infelizmente, temos tão pouco contato.
Quanto menos a criança for orientada enquanto brinca, mais estará garantida a sua capacidade de fantasiar
Um dos elementos que garantem a saúde mental das crianças é a capacidade de fantasiar, inventar, criar... Mas ela deve ter um ambiente que estimule, acolha e facilite a expressão de suas fantasias.
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