Você já teve algum relacionamento iô-iô? Daqueles que vão, voltam, vão de novo, não engatam. Esse tipo de relação é mais comum do que parece e pode ter efeitos negativos bem fortes na vida dos envolvidos. Muitas das vezes, no entanto, sair desses relacionamentos é uma tarefa difícil e que pode exigir mais do que apenas a força de vontade.
Essa é a história de L.M. Ela prefere não se identificar, mas topou contar sua história porque crê que tudo pelo que passou pode ajudar outras pessoas a encontrar a saída para as relações iô-iô que acabam se tornando abusivas e desgastantes. À época com 21 anos, L.M. se envolveu com um colega de faculdade.
Namorando pela primeira vez na vida, não tinha referências de relacionamentos. L.M. conta que, em várias situações no namoro, pensou estar diante de conflitos normais. Muito próxima do ex-namorado, passava quase todo o tempo junto dele. Aos poucos, porém, o relacionamento iniciou o processo de iô-iô.
“Desde o início do namoro, ele deu sinais de que não era uma pessoa estável. Como eu queria que o relacionamento desse certo, eu deixei isso de lado. Os problemas viraram uma bola de neve, o relacionamento se tornou abusivo”, conta L.M.
Em seguida, o que veio foram as instabilidades no relacionamento. Três anos de idas e vindas e conflitos entre L.M. e o ex-namorado. Segundo ela, quem sempre colocou os pontos finais no relacionamento foi ele. “Sempre por motivos muito bobos, tudo era uma ameaça, tudo era motivo pra não estar junto. Todas as situações que aconteciam na vida dele, tendo ou não meu envolvimento, era culpa minha, era minha responsabilidade”.
O maior desgaste que L.M. relatou entre ela e o ex-namorado foi o fato de ele imputar a ela responsabilidade pelo que ocorria na vida dele. Por ser, segundo L.M., uma pessoa instável, acabava não sabendo lidar com os problemas na própria vida e descontava na ex-namorada. A situação, das idas e vindas, só piorava o panorama.
L.M. conta que se afastou de amigos e da família, que, inclusive, não sabe dos ocorridos na relação até hoje. Insustentável, o relacionamento trouxe mazelas psicológicas e até físicas para L.M.
L.M.
personagem que prefere não se identificar
"É aquela coisa que a gente lê, que a gente sabe como acontece. A pessoa te xinga, te ofende e depois pede desculpas, fala que vai melhorar, fica tudo maravilhoso, depois acontece tudo de novo"
O ponto final no ciclo abusivo, de idas e vindas e de conflitos intermináveis, foi colocado por L.M. Ela decidiu colocar fim ao relacionamento. Teve ajuda no processo de tomar essa decisão, com conselhos de amigos e pessoas próximas. Ainda que afastada do círculo de amizade que tinha antes, sempre ouviu dos amigos que as situações que aconteciam no namoro não estavam certas.
L.M.
personagem que prefere não se identificar
"Muitas vezes, meus amigos alertavam que tinha algo de errado. Como eu queria estar junto, ignorava, achava que era bobagem"
A psicóloga Marcelle Paganini explica que, apesar de comum, esse tipo de relacionamento iô-iô tem que ter um olhar mais maduro. “Muitas pessoas se pegam presas a sensações do passado e é justamente esse ponto o mais crucial: entender que o que está no passado pode não voltar a ocorrer no presente. Enfim, é preciso ser honesto consigo mesmo e priorizar a saúde emocional”, explica a especialista.
Histórias como a de L.M. são encontradas aos montes. J.R., outra mulher que passou por essa situação e também prefere não se identificar, diz que essas relações afetam todas as esferas da vida.
12 ANOS DE IDAS E VINDAS
Ela explica que a confiança que existe no relacionamento é sempre “zerada” quando há os términos e voltas seguidas. “Foram 12 anos de idas, vindas, encontros, reencontros. Você acaba reabrindo feridas do passado e tendo que se remontar por algo que não vale a pena”, conta J.R.
J.R. revela que o relacionamento pelo qual passou guarda semelhanças com o relato de L.M. “Nós, as mulheres, sempre somos vistas como tendo um papel de cuidar do homem, de ser a mulher da vida dele. Nós não temos essa responsabilidade”, explica.
Assim como o ex-namorado de L.M., o companheiro de J.R. também colocava sobre ela as responsabilidades de tudo. Segundo J.R., o papel da namorada ou esposa é diferente do papel da mãe. "Não nos cabe o papel de ser a solução dos problemas da vida do outro".
Marcelle Paganini conta que as idas e vindas dos relacionamentos pode causar, além das tristeza e afastamento dos amigos, um efeito grave na autoestima. “Além de ser carregada de muita instabilidade, a todo momento na relação coloca-se em xeque as habilidades emocionais dos envolvidos. Em casos mais graves, observa-se sintomas depressivos, de ansiedade e até pânico".
O processo de encerramento dos relacionamentos iô-iô pode ser doloroso, ainda que necessário. L.M. conta que, no caso dela, quando decidiu terminar, acabou se aproximando novamente dos amigos e entendendo o que aconteceu na relação. O processo todo deixou uma lição para ela. “Isso vale como um recado pra gente se priorizar, se amar, se colocar em primeiro lugar. Nunca se anular e deixar sua felicidade e sua vida de lado em prol da vida do outro”, conta.
J.R. também aponta que o término do relacionamento instável, para ela, significou uma nova perspectiva de vida. Ainda assim, relata o final da relação como difícil e compara o processo ao luto.
J.R.
personagem que preferiu nao se identificar
"Me fez mal, mas a vida segue. As decepções não matam, ensinam a viver"
Para ela, o olhar de amigos e parentes sobre a relação é importante. A percepção das pessoas próximas vem sem interferências emocionais, sem envolvimento na relação iô-iô.
Ela afirma ser necessária cautela nas decisões. “Isso cabe aos dois que estão na relação. Eu não posso indicar nada a alguém. A pessoa tem que pensar se quer estar disponível para esse tipo de relação, se tem paciência ou vontade”, diz J.R.
O conselho faz coro com a recomendação da psicóloga Marcelle Paganini. Para a especialista, é importante que, aos primeiros sinais de instabilidade na relação, a pessoa busque ajuda externa. “No fim das contas, o importante é não ficar preso em ciclo vicioso por tempo suficiente para um adoecimento”, conclui.
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