A advogada Karla Coser está com o sono atrasado. Desde o domingo que saiu o resultado das eleições municipais, ela não dorme direito. "Fui deitar às 3 horas da manhã de segunda-feira e ainda estou absorvendo as emoções. Estava exausta, tanto que durante a apuração eu dormi. Fui acordada com o resultado", diz, por telefone. Em uma hora de conversa, ela interrompe a entrevista algumas vezes para abraçar as amigas. E reage rápido. "Não posso deixar de retribuir esse carinho", diz.
Karla Silva Coser, 30 anos, foi eleita - com Camila Valadão (PSOL) - vereadora de Vitória pelo PT. Desde 1989 o município não elegia mais de uma mulher para a Câmara Municipal. Ser reconhecida na rua, porém, não é novidade. Quando ela nasceu o pai já era deputado estadual. Depois foi prefeito da Capital. E, desde então, ela passou a ser conhecida como 'a filha de João Coser'. "O assédio me incomodava de certa forma, era muito jovem na época. Muitas vezes, as pessoas me usavam porque queriam a presença do meu pai. Por isso me chamavam para participar de determinadas coisas", conta.
Nascida em 23 de agosto de 1990, sob o signo de virgem, cresceu no bairro Maria Ortiz, em Vitória, numa família dividida entre as religiões evangélica e católica. Filha de uma administradora - "minha mãe começou a trabalhar aos 16 anos com carteira assinada" - e de um político, ela sabe dos seus privilégios. Sempre morou em bairros nobres (Jardim da Penha e depois Santa Helena, onde reside atualmente). Estudou em um dos colégios mais caros da cidade. E para fugir do assédio (por conta da vida pública do pai) foi morar na Suíça aos 16 anos, através de um intercâmbio escolar. "A minha vida foi completamente diferente de muitas pessoas que eu conheci, que fizeram catequese comigo ou com quem eu brincava em Itararé, pela condição econômica dos meus pais. Sei que a minha vida não foi igual a de muitas pessoas e também dos meus privilégios. Ocupei espaços que outras pessoas não conseguiram chegar, por isso agora quero retribuir", diz.
VIDA DE MODELO E CASAMENTO
Antes de ser advogada e vereadora, ela foi modelo. Sempre alta e magra, o caminho foi as passarelas, chegando inclusive a desfilar na Semana de Moda de Vitória. "Era uma diversão e eu amava. Era prazeroso. Nunca encarei como algo que faria como profissão, porque minha mãe sempre quis que eu privilegiasse os estudos. Inclusive, ela não deixou eu ir trabalhar como modelo em São Paulo", lembra. Se formou em Direito e trabalhou como advogada durante dois anos.
A mãe, Eliana, sempre esteve na retaguarda dos filhos. "Ela que cuidou de mim e do meu irmão, por conta do trabalho do meu pai. Uma mulher muito forte e lutadora. Tinha que estar sorrindo, disponível e arrumada. Não era fácil", diz. O gosto pela moda também foi herdado da mãe. "É a minha inspiração fashion, pego muitas roupas no guarda-roupa dela. Certeza que vai me ajudar a escolher o modelo que usarei no dia da posse".
Álbum de Karla Coser
Católica, ela conta que afinou a relação com a religião nos últimos anos. "Passamos por uma situação muito difícil de saúde e compreendi a necessidade de estar blindada. Sou muito cristã e tenho a certeza da existência de Deus", responde quando perguntada sobre sua relação com o divino. O momento difícil, ela conta: "Há dois anos meu pai teve uma depressão muito grave. E foi através da fé e do apoio dos profissionais de saúde mental que ele conseguiu superar".
A capixaba vive uma fase dourada na carreira e na vida pessoal. Conheceu o noivo, Gustavo Silva Alves, na sala de aula da Ufes, quando cursaram Direito. Namoram desde o segundo período e vão se casar no início do próximo ano. "Será uma cerimônia no civil apenas para os mais próximos. A festa e o casamento na igreja ficarão para 2022. Meu sonho é usar um vestido de noiva", conta rindo.
POLÍTICA
Karla se define como uma mulher feminista e de esquerda. Aprendeu, ao longo dos anos, a ter jogo de cintura para lidar com o debate que muitas vezes fica na pessoa e não em ideias. Porque geralmente o que vem antes é a mulher, a filha do político. Karla é muito mais do que isso. "Algumas pessoas me acham patricinha, outras descolada, tudo depende do local que estou. Elas têm uma expectativa de que eu me comporte de determinadas formas. Mas sou, antes de tudo, uma menina sonhadora, animada e com muitos gostos". Adora cozinhar, dançar e sair com os amigos. Ouvir funk e hip-hop. Comer hambúrguer e pizza. É viciada em coca cola.
Ela cresceu com o universo da política dentro de casa. Participou do movimento da juventude de seu partido. Balançou bandeiras e distribuiu muitos panfletos em eleições anteriores. Foi dirigente partidária e esteve em diversos eventos para a formação de novos políticos. Mesmo assim tem medo de se decepcionar com esse mundo. É que valores não se negocia. "Os valores de justiça, de igualdade social e nem a minha ética. Além da necessidade de defesa das mulheres, da população LGBTQIA+ e dos negros", garante.
FÃ DE BEYONCÉ
"Beyoncé é o meu ícone de beleza", fala. O cabelo é a sua marca registrada. Também adora maquiagem. Assim como gosta também de outras mulheres, como Dilma Rousseff, Iriny Lopes, Benedita da Silva e Gisele Bündchen. "Localmente admiro a Priscila Gama, que é uma referência na luta antirracista e uma mulher empreendedora. São muitas mulheres fortes ocupando tantos espaços..." Foi com o apoio delas que superou a violência de gênero. "Já estive em um relacionamento onde sofri abuso psicológico, foi uma passagem curta, mas que me deixou marcas. E também sofri assédio em espaços públicos, como muitas outras mulheres que já foram vítimas", conta, pronta para entrar no combate à violência contra a mulher.
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