Nas últimas semanas circula nas redes sociais e em aplicativos de mensagens e vídeos, informações alertando para os perigos do uso dos termômetros infravermelhos. De acordo com o texto, os aparelhos emitem radiação infravermelha, que quando apontadas em direção ao centro da testa, causariam danos à glândula pineal. Essa glândula é a responsável por produzir a melatonina, hormônio que regula o ciclo circadiano, mais conhecido como relógio biológico quando é necessário dormir e acordar. A solução seria medir a temperatura no punho, porque, além de proteger a tal glândula, a medição seria mais precisa, já que a testa é mais fria que o punho.
Apesar do apelo, o texto não tem nenhum embasamento científico. A neurologista Arielle Kirmse Baggieri, do Hospital MedSênior, ressalta que o uso de termômetros infravermelhos na testa não afeta a glândula pineal, que está localizada no centro do nosso cérebro, em uma região mais profunda. Além do infravermelho emitido pelo termômetro não emitir radiação, anatomicamente, a luz incidida na testa não atinge a localização da glândula pineal, explica. A médica complementa dizendo que não há evidências científicas de que esse tipo de aparelho cause qualquer problema intracraniano. Não há evidência científica que sustente o fato do termômetro infravermelho causar dano cerebral.
O neurologista Fábio Fieni, do São Bernardo Apart Hospital, também reforça que essas notícias são falsas. Não há absolutamente nenhuma evidência científica de que o termômetro infravermelho produza qualquer dano ao cérebro ou estruturas intracranianas. O equipamento é inofensivo, reforça.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também nunca publicou nenhuma ressalva quanto ao uso do termômetro relacionado a qualquer problema no cérebro. O órgão só salienta que, por não identificar todos os estágios da doença, a medição pode ser "ineficaz" se usada isoladamente.
Outra dúvida gerada seria em relação ao local ideal que a temperatura deve ser medida. É na testa ou no punho? Arielle Kirmse Baggieri explica que o termômetro pode ser usado em qualquer superfície, tanto na testa quanto no pulso. Porém, para uma medida mais precisa, a recomendação é a de que a medição seja realizada na testa. Por dois motivos, o primeiro que as extremidades, na maioria das vezes, são mais frias. E também porque esses termômetros são calibrados antes de comercializados, e geralmente se usa a testa como a área de calibração.
Os médicos ressaltam que medir a temperatura na testa é realmente eficaz. Um estudo americano realizado em 2012 em uma população de crianças evidenciou que a sensibilidade e a especificidade do termômetro infravermelho são de 97%, com valor preditivo de 99%, o que é especialmente importante para excluir febre. "No entanto, mais estudos são necessários para comparar sua eficácia com dispositivos mais complexos", diz a neurologista.
Fábio Fieni conta que na prática médica é utilizado as medidas axilar ou oral. "Mas como a ideia é avaliar um grande número de pessoas em curto período de tempo, a medida por infravermelho se torna mais prática e viável. No entanto, como o índice de erro na medida é maior, provavelmente é apenas parcialmente eficaz". Ele alerta ainda que é importante compreender que esse é um método de triagem, não de diagnóstico. "Serve como forma de alerta para possível infecção. Nesse sentido pode ajudar e, de fato, não causa nenhum prejuízo".
A notícia de que o termômetro infravermelho poderia causar câncer, também circulou entre as pessoas. A informação não procede. A oncologista Taynan Nunes Ribeiro, do Cecon/Oncoclínicas, ressalta a informação de que eles não causam a doença. "A radiação infravermelha é uma forma de radiação não ionizante, ou seja, sua energia é insuficiente para ionizar átomos e moléculas, não havendo nenhuma comprovação científica de que tenha capacidade de gerar dano ao DNA da célula, mecanismo associado ao aparecimento do câncer no caso das radiações ionizantes. O tempo de exposição ao infravermelho é muito curto durante o uso do termômetro, não sendo possível nenhum efeito biológico".
A médica explica que para aferir a temperatura corretamente o termômetro deve ser direcionado para o centro da testa e não para o pulso, já que no pulso a temperatura é mais baixa. "A distância para medir a temperatura também depende do aparelho, sendo em média de 5 cm, variando geralmente de 3 a 8 cm. Afastar demais o termômetro, além de aferir a temperatura abaixo do valor real, aumentará o campo de exposição à radiação, podendo atingir os olhos".
Taynan Nunes ainda ressalta como o uso do termômetro é benéfico no combate à pandemia. "A população só tem a ganhar, já que é uma maneira rápida e segura de aferir temperatura sem contato entre as pessoas, sendo um instrumento útil durante a pandemia de covid-19, para detectar aqueles que estejam no início dos sintomas, pois nem todo mundo percebe quando está com a temperatura do corpo subfebril ou com febre baixa".
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