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Cuidados Paliativos: seis hospitais do ES oferecem atendimento na área

Cuidados Paliativos: seis hospitais do ES oferecem atendimento na área

No país, há iniciativas isoladas: apenas 10% dos hospitais têm o serviço, que garante mais qualidade de vida a pacientes com doenças sem cura

Publicado em 11 de março de 2020 às 07:00

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Paciente recebendo Cuidados Paliativos. (Shutterstock)

Pessoas com doenças graves estão descobrindo que precisam mais do que remédios para continuar vivendo pelo tempo que lhes resta. Uma nova visão dentro da medicina tem permitido que esses pacientes tenham mais conforto e menos dor durante seu tratamento. São os Cuidados Paliativos, uma prática mais humana que vem crescendo no mundo todo, ainda que lentamente. No Brasil, ainda há iniciativas isoladas: apenas 10% dos hospitais oferecem esse serviço, de acordo com a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP).

No Espírito Santo, são seis as unidades que contam com profissionais atuando na área. Dois deles já estão estruturados para oferecer os Cuidados Paliativos: a Unimed Vitória e o Hospital Santa Rita. Outros, ainda em estágio inicial, são o Hospital Cassiano Antônio Moraes (Hucam), a Santa Casa de Misericórdia, o Vitória Apart Hospital e o Hospital dos Ferroviários, segundo a médica pneumologista Waleska Cintra, coordenadora do núcleo de Cuidados Paliativos e Terapia de Suporte do Hospital Unimed, onde também coordena a residência médica em Cuidados Paliativos.

"O modelo de atendimento de Cuidados Paliativos preconiza uma equipe mínima de médico, enfermeiro e psicólogo. Apenas duas unidades contam com essa estrutura aqui no Estado, onde há especialistas prontos para receber os pacientes desde a internação até no pós-alta hospitalar. Nos demais hospitais, há profissionais atuando nesse serviço. São iniciativas que já impactam nas rotinas dos hospitais, claro, mas é algo muito embrionário ainda", observa a médica.

Mais do que vantagens em termos de saúde pública, esse tipo de serviço, segundo Waleska, permite uma maior qualidade do atendimento e satisfação do paciente e de seus familiares. "Isso já impacta nos custos hospitalares. Não é nosso objetivo? Oferecer a melhor assistência?  Quem tiver melhor qualidade terá mais clientes", diz ela.

Entraves

A especialista vê alguns entraves para que os Cuidados Paliativos se tornem uma realidade para todos os pacientes. "Há ainda uma dificuldade dos gestores em entender que os Cuidados Paliativos compreendem uma visão estratégica, integrada, multidimensional e humana do paciente. Há ainda uma visão excessivamente tecnocrata da medicina, centrada na doença, nos exames complementares e em resultados pautados em números e geração de lucro e economia, o que é muito difícil de ser mensurado quando temos uma visão mais ampla do cuidado do paciente e familiares".

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Há ainda uma visão excessivamente tecnocrata da medicina, centrada na doença, nos exames complementares e em resultados pautados em números e geração de lucro e economia, o que é muito difícil de ser mensurado quando temos uma visão mais ampla do cuidado do paciente e familiares

Waleska Cintra
Médica pneumologista com área de atuação em Cuidados Paliativos
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Para ela, seria preciso quebrar certos paradigmas dentro da própria área médica. "De acordo com a OMS, atualmente, o objetivo maior do Cuidado Paliativo é controle de sintomas em todas as suas esferas nas doenças graves. O principal preconceito que enfrentamos é na área da saúde mesmo, principalmente de colegas médicos que não entendem o novo conceito e continuam achando que Cuidado Paliativo é 'não fazer nada' ou 'deixar de tratar o paciente', quando é justamente o oposto", comenta Waleska Cintra.

Há muitos mitos sobre Cuidados Paliativos a serem derrubados. "O principal deles é o de pensar que Cuidado Paliativo é para quando 'não tem mais tratamento'. Na verdade, essa terapia, quando empregada desde o início da evolução da doença, leva a um ganho de sobrevida e, principalmente, a uma melhora na qualidade de vida do paciente. Esse estigma tem impedido as melhores opções em termos de tratamento do paciente acometido por doença ameaçadora à vida, neoplásicas ou não", destaca a médica.

Indicações

De acordo com o médico geriatra Heitor Spagnol dos Santos, coordenador da clínica médica do São Bernardo Apart Hospital, em Colatina, trata-se de uma terapia indicada para todo paciente com uma doença potencialmente grave, ou seja, aquelas que ameaçadoras à continuidade da vida.

“É comum associar o Cuidado Paliativo apenas ao câncer, mas ele pode ser aplicado em pacientes com problemas cardíacos, renais, pulmonares, neurológicos, sequelas de AVC, entre outros que o deixem em sofrimento”, explica.

Spagnol recomenda que os cuidados paliativos devem ser iniciados a partir do diagnóstico da doença “É necessário entender que não se trata de uma sentença de morte. É um cuidado amplo, completo ao paciente em todas as fases da doença, que deve ser administrado desde o início, cuidando de maneira proporcional. Em todos os seus aspectos, valorizar o paciente, reafirmar a esperança de ter uma vida com qualidade e, principalmente, com dignidade”, frisa ele.

O médico explica que o principal foco do tratamento paliativo é o controle da dor, no entanto, os atendimentos são globais, incluindo atenção ao humor do paciente, visto que alguns tendem à depressão; já outros apresentam distúrbios de alimentação; entre outros sintomas. “Não tratamos apenas o quadro físico. A assistência é estendida para os aspectos social e espiritual do paciente”, reforça.

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É necessário entender que não se trata de uma sentença de morte. É um cuidado amplo, completo ao paciente em todas as fases da doença, que deve ser administrado desde o início, cuidando de maneira proporcional. Em todos os seus aspectos, valorizar o paciente, reafirmar a esperança de ter uma vida com qualidade e, principalmente, com dignidade

Heitor Spagnol dos Santos
Médico especialista em Cuidados Paliativos
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