Na quarentena o que mais se vê por aí são manchetes e posts sobre culinária saudável e exercícios em casa. Mas se para algumas pessoas já era difícil comer de maneira equilibrada antes do isolamento social, agora que enfrentamos todas as restrições, mudanças na rotina e ansiedades que acompanham uma pandemia, a tarefa é ainda mais desafiadora. A boa notícia é que tá tudo bem, que você pode ressignificar a sua relação com a comida e, assim, lidar com sua alimentação de maneira mais saudável e prazerosa.
Karoline Coutinho é fotógrafa e com eventos e alguns ensaios suspensos por conta do isolamento, tem passado mais tempo em casa, ela acredita que a ociosidade e o tempo livre colaborem para um consumo maior de comida. "Eu já tinha uma relação de prazer com a comida , só que agora estando mais em casa eu tenho uma disposição maior para querer fazer e comer coisas diferentes em um curto período de tempo", conta.
A nutricionista Maria Luiza Cometti explica que é normal e totalmente compreensível que os hábitos alimentares tenham mudado neste período. Afinal, as rotinas mudaram drasticamente. Além disso, o momento colabora emocionalmente com a busca pela comida. A nossa alimentação está muito ligada às nossas emoções e, diante de toda essa situação, estamos mais ansiosos, preocupados, inseguros e com medo do que pode vir a acontecer. Por conta disso, é comum buscarmos na comida um refúgio para suprir esse sentimento e, geralmente, essa busca é por alimentos mais calóricos, diz.
A profissional afirma que ter uma relação prazerosa com a comida é difícil por uma questão cultural, que envolve restrição e permissão alimentar e que, por isso, muitos já comem com o sentimento de culpa, pensando que aquele alimento é proibido. É muito importante não rotular os alimentos como bons ou ruins, como proibidos ou permitidos - desde que você não tenha nenhuma restrição alimentar -, que engorda ou emagrece, porque isso não existe e você acaba criando uma relação ruim com a comida, aconselha Maria Luiza.
É muito importante saber diferenciar essa vontade natural de comer mais do hábito de comer compulsivamente. De acordo com a nutricionista, a vontade de comer mais, geralmente, é um desejo aumentado de comer um alimento específico, enquanto a compulsão alimentar é uma situação bem mais grave que precisa ser avaliada e acompanhada por uma equipe profissional especializada, pois é considerada uma doença, um transtorno alimentar - e não só alguns exageros. O comer compulsivo ocorre com maior frequência quando a pessoa ingere grandes quantidades de comida ao longo do dia e em uma velocidade superior às outras pessoas. Mesmo estando satisfeita, ela não consegue ter controle sobre isso, chegando muitas vezes a passar mal. Além disso, as combinações de alimentos podem ser as mais estranhas possíveis, explica.
Sabe quando você vai ver um filme e come uma barra de chocolate inteira, e não apenas um pedaço? Ou preparou uma refeição que você gosta muito e decidiu repetir? Isso é totalmente normal, é diferente de sair misturando vários tipos de alimentos e comer descontroladamente, exemplifica a profissional.
A alimentação vai muito além de uma necessidade fisiológica, ela envolve questões culturais, afetivas e, principalmente, psicológicas. Estar ciente disso é o primeiro passo para construir uma relação amigável com a comida.
Luma Zagotto é psicóloga especialista em transtornos alimentares. Ela explica que é importante perceber uma diferença marcante entre o comer influenciado por emoções e o comer emocional, que ocorre quando a pessoa usa a comida para lidar com emoções que não está conseguindo lidar. A comida entra, então, no lugar dos sentimentos como solidão, vazio emocional, tédio, carência afetiva, ansiedade. Algumas pessoas são mais suscetíveis ao comer emocional do que outras. Se esse for o seu caso e você estiver com dificuldades para lidar com isso, não hesite em procurar ajuda profissional, sugere.
As pessoas reagem de formas distintas e cair na armadilha de se comparar com o outro não é saudável. Filtre e questione as informações que vocês veem e leem por aí. Alimente-se de mídias que acrescentam e não que gerem sofrimento e façam você duvidar do potencial do seu corpo e da sua mente, salienta a psicóloga sobre a pressão para ser fitness, que tem se intensificado neste período com incontáveis aulas, receitas e lives de exercícios.
Precisamos entender que não há um comportamento padrão a ser seguido, que está tudo bem se você não consegue fazer exercício físico todos os dias ou seguir uma rotina completamente organizada, complementa.
Para se entender melhor com a comida e ter uma relação mais amigável com ela, a profissional reforça que vale a pena fazer uma reflexão sobre essa relação e entender o que motiva essa busca pelo alimento. Estamos com fome ou com outros sentimentos? Temos que acolher nosso sentir e tentar encontrar outras maneiras para se nutrir, que não apenas com a comida. Seria tédio, ansiedade? Como alimento isso? Qual o sentimento e o que me ajudaria a preencher e a lidar com ele?, conclui.
Nesse momento a prioridade deve ser manter a saúde mental para que consiga passar por esse momento sem grandes prejuízos na vida é o que diz Gabriela Bergamaschi, psicóloga especialista em Psicoterapia Comportamental.
Para a profissional, os padrões de beleza impostos pela sociedade cobram a todo momento que nos encaixemos dentro do que é imposto. Essa cobrança faz com que o sentimento de culpa sempre seja um fantasminha presente, em relação a alimentação, principalmente, explica.
Além disso, a recepção de informações que reforcem esses padrões e comportamentos pode ser altamente prejudicial, já que desconsidera as particularidades e coloca todo mundo no mesmo barco. A relação não saudável com comida, pode estar relacionada com várias questões individuais. É preciso refletir individualmente sobre isso, para que assim seja possível provocar mudanças no comportamento alimentar de cada um, conclui Gabriela.
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