Mulheres provam que a maternidade é transformadora em qualquer idade

Na véspera do Dia das Mães, mulheres que tiveram filhos em diferentes fases da vida nos contam suas histórias e aprendizados

  • A Gazeta
Publicado em 03/05/2019 às 07h31
Atualizado em 16/09/2019 às 14h28

 


Mãe aos 20 anos

“A maternidade me ensinou que o mundo não é do jeito que eu quero. Aprendi a me doar mais e a estar disponível para outras pessoas. Fui mãe pela primeira vez aos 22 anos, um susto. Era uma jovem em início de relacionamento, eu e ele morávamos na casa dos nossos pais e não tínhamos empregos que dessem para manter uma família. Mesmo assim optamos por ter o Pedro, com cada um morando em sua casa. Foi a decisão mais acertada que tive na vida, hoje não consigo imaginar a minha vida sem o meu filho. Como toda jovem, adorava sair. Então, o primeiro medo foi o de perder a minha liberdade. O corpo também muda muito e, com aquela idade, me preocupava se ele voltaria ‘ao normal’. Eu não sabia muita coisa, e as preocupações que a gente tem com 20 e poucos anos são fúteis mesmo. A gente se preocupa muito mais com a gente do que com o outro. Meu maior medo era não me reconhecer. Assim que meu filho nasceu tudo mudou. Digo que nasci de novo junto com ele. Os medos mudaram e começaram a ser em relação a ele, principalmente se daria conta.

Ele veio para abrilhantar as duas famílias que sempre foram unidas. Mesmo não estando mais com o pai do Pedro, ele sempre esteve presente. O meu filho também ama os avós, a tia... Mas ele é muito grudado comigo, isso é nítido. Ele ama todo mundo, mas quando me encontra, o olho brilha diferente.

Agora estou grávida novamente, da Maria Vitória. Me casei e formei uma família. O meu marido é pai de primeira viagem, então ele está bem ansioso. Com a nova gravidez, os medos são outros. Talvez, o principal deles seja o de ter cuidado com o Pedro, para ele não sentir tanto. Ele está adorando, acorda e dá bom dia, alisando a minha barriga. Fala pra eu comer porque a irmã precisa se alimentar, está sendo um superirmão antes mesmo de ela nascer. Me preocupo quando ela nascer, não tem como ele ficar indiferente. Hoje ele reina sozinho em casa e, em breve, terá que dividir um pouco da atenção que é só dele.

Agora é um outro momento, me sinto mais madura como mulher. Tive certos sentimentos de culpa com o Pedro, que talvez não tenha com Maria Vitória. Ou talvez tenha, mas isso vamos aprendendo no processo da maternidade. Aprendi a estar presente, entender que as pessoas precisam de mais atenção. Me sinto realizada. Ser mãe exige muito, mas é uma delícia”.

Eduarda Noé, 27 anos, empresária, mãe de Pedro, 5, e grávida de Maria Vitória

Mãe aos 30 anos

“Me conecto na vibração do amor”

“Ser mãe sempre foi um sonho. Mas esperei a hora certa para ter meu filho. Queria estar em uma situação confortável, emocional e financeiramente falando. Joaquim, hoje com 1 ano e 9 meses, chegou quando eu estava com 33 anos, no momento certo. Já estava casada, com um emprego estabilizado e com um mestrado concluído. Tive todos esses cuidados para que pudesse oferecer o melhor para ele.

Durante a gravidez tive momentos de ansiedade e insegurança, como por exemplo pensar se daria conta de cuidar de uma criança ou se teria paciência. Mas quando ele nasceu, descobri que o processo é muito natural e parte dele é a conexão que se tem com a criança. É muito visceral. Descobri que boa parte da segurança está dentro de mim e o meu corpo também me mostrou as necessidades dele. Me preparei com leitura, pesquisa... mas a intuição de mãe foi o principal. É algo que está dentro de mim. A aprendizagem da maternidade levou a desdobramentos em outros campos da minha vida. A medida que ouço mais, a conexão com o meu filho fica mais forte.

Entre acertos e erros na criação do Joaquim, vejo mais pontos positivos. Tenho me dedicado a criar uma criança forte, para enfrentar esse mundo que não é fácil. Ele é uma criança que se encanta com a vida, adora natureza - como as árvores, os pássaros e a gata que temos em casa. Recentemente ele começou a comer sozinho e toda vez que vejo essa cena me emociono.

Tento ser uma mãe sem culpa. Assim que voltei a trabalhar, pensei que seria algo ruim. Porém foi algo libertador. Vi que podia dar conta da minha vida, da minha individualidade – queria dar continuidade na minha trajetória profissional – e junto com tudo isso ser mãe. Hoje sei que ele também pode ser cuidado por outras pessoas, já que posso contar com uma rede de apoio. Aprendi que não tenho que dar conta de tudo sozinha, não tem espaço para culpa quando você entende que seu filho está nessa rede que também é sua, quando você pode ser quem realmente é. Escolhi ser mãe com todas as outras atividades que tenho na vida - esposa, profissional, etc...

Com a maternidade aprendi a me escutar e a respeitar a minha intuição. Meu filho também tem conexão com outras redes - como família e creche. Quero que ele cresça respeitando as pessoas, sempre conectado na vibração do amor e no cuidado com o outro. Foi isso que aprendi ao ser mãe”.

Bárbara Cazé, pedagoga, 35 anos, mãe de Joaquim, 1 ano e 9 meses.

Mãe aos 40 anos 

“A maternidade me ensinou a me colocar no lugar do outro”

“Fui mãe aos 20 e aos 40 anos. E sempre digo que tenho duas filhas únicas. E isso é muito real na minha vida. Como fui uma mãe muito jovem, essa questão não era única e primordial. Eu tinha muitos outros sonhos, um deles era ser mãe. Depois que a minha primogênita nasceu, passei a compreender melhor esse sentimento. Descobri que todos os sonhos eram pequenos diante do amor incondicional que senti pela minha filha.

Os fatores físicos da primeira gravidez foram muito favoráveis. Tive uma gestação saudável, um parto normal do qual só me lembro dos bons momentos. Mas o fato de ser uma mãe jovem foi um desafio. Confesso que aprendia com os erros e fui amadurecendo conforme as exigências da vida. Com certeza, a Catarina, minha filha mais velha, penou nesse processo de aprender vivendo. No entanto, hoje, ela é uma pessoa maravilhosa.

Como eu era uma menina, o maior medo era perder a minha maior aliada, minha mãe. Depois que a Catarina nasceu, passei a entender melhor essa mulher. Pude descobrir que não se tratava somente de uma mãe, mas de uma pessoa corajosa, companheira, inteligente, curiosa e a melhor amiga da minha filha. Um verdadeiro exemplo. Foi difícil ficar sem ela, quando faleceu.

Ser mãe novamente, aos 40 anos, foi um outro momento. Quando Manoela chegou, eu estava mais madura e estável, por isso não me intimido diante dos erros, sigo em frente tentando acertar e assim consigo curtir melhor os momentos entre mãe e filhas.

Não existe fórmula mágica e nem um modelo que se aplique a todas as mães. Entendi que não devemos julgar e nem ser julgadas. Busco ser a mãe, a profissional e a mulher possível para mim. Não sou perfeita, mas também sei que a perfeição não existe. Cada mulher busca a sua maneira de conciliar os diferentes papéis, de acordo com a realidade em que vive. E se falharmos, não tem problema, porque na vida somos todas equilibristas.

Minhas filhas me inspiram. A maternidade mudou a minha maneira de encarar o mundo. Aprendi a enxergar as pessoas com empatia, a me colocar no lugar do outro, e sinto vontade de ajudar as pessoas. Descobri que o fator idade é irrelevante quando a assunto é ser mãe. Tudo é importante quando um filho nasce. Por isso, não existe a idade certa, existe o momento melhor para si. Quando eu estou bem comigo, a conexão com as minhas filhas também se alinha. A cumplicidade entre nós é incrível”.

Maria Izabel Braga Ferlin, 44 anos, diretora financeira, mãe de Catarina, 24, e Manuela, 4

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