Há dois anos Luana Vazzoler faz fisioterapia e pilates recuperar os movimentos
Há dois anos Luana Vazzoler faz fisioterapia e pilates recuperar os movimentos. Crédito: Ricardo Medeiros

AVC em mulheres: elas possuem riscos únicos com a doença

Os acidentes vasculares cerebrais são a terceira causa de mortalidade entre as mulheres, depois das doenças cardíacas e do câncer, sendo que o AVC é a quinta causa de morte nos homens

Tempo de leitura: 5min
Vitória
Publicado em 25/10/2024 às 09h00

A pedagoga Luana Vazzoler nunca tinha ouvido sobre AVC isquêmico. Até que enfrentou um em 2022, aos 33 anos. Foi durante o almoço de domingo que começou a passar mal. "Sentia muita dor de cabeça e um formigamento no lado direito do corpo, meu rosto ficou vermelho, tive um mal-estar no estômago e minha pressão subiu", lembra.

Após ser atendida no hospital de sua cidade, na região serrana do Espírito Santo, teve que ser transferida de helicóptero para Vitória, onde passou pela cirurgia da retirada da calota craniana. "Foram 20 dias sedada na UTI e, por isso, não lembro de nada. Meu marido que me contou depois". 

A recuperação foi lenta a acontece até hoje. "Há dois anos faço fisioterapia e pilates para o meu processo de recuperação. São três vezes na semana que vou para as sessões. A mão e a perna ainda ficam um pouco travadas".

A neurologista Rúbia Rasseli Sfalsini explica que embora os fatores de risco comuns para o Acidente Vascular Cerebral (AVC), como a hipertensão, o tabagismo e a diabetes, afetem ambos os sexos, as mulheres têm alguns riscos únicos como a gravidez, o uso de anticoncepcionais orais, a Terapia de Reposição Hormonal (TRH), a enxaqueca com aura e doenças autoimunes. "A gravidez aumenta o risco de AVC, especialmente durante o terceiro trimestre e no período pós-parto. A hipertensão gestacional e a pré-eclâmpsia são fatores de risco importantes", diz a médica. 

A médica diz que mulheres que sofrem de enxaqueca com aura têm um risco maior de AVC, especialmente se fumam ou usam anticoncepcionais hormonais. Já certas doenças autoimunes, como lúpus e síndrome antifosfolipídica, são mais comuns em mulheres e aumentam significativamente o risco de coágulos sanguíneos e AVC. A médica explica que o uso da pílula anticoncepcional ou de terapia de reposição hormonal pós-menopausa também aumenta o risco da doença. 

Fala AVC

Algumas formas de TRH usadas para aliviar os sintomas da menopausa podem aumentar ligeiramente o risco de AVC, dependendo do tipo de hormônio e da duração do tratamento. "A reposição transdérmica, por exemplo, mantem níveis hormonais mais constantes e por isso reduz riscos tromboembólicos por não fazer primeira passagem no fígado", explica a neurologista.

O pós-menopausa

A neurologista Jovana Gobbi Marchesi Ciriaco diz que o AVC é a terceira causa de mortalidade entre as mulheres, depois das doenças cardíacas e do câncer, sendo que o AVC é a quinta causa de morte nos homens.

O risco aumentado do público feminino para AVC em relação ao masculino não ocorre em todas as faixas etárias, mas principalmente nos extremos de idade: mais jovens e mais idosas. "As mulheres também têm maiores fatores de risco que favorecem os acidentes cerebrais, como enxaquecas, depressão, diabetes e arritmia cardíaca".

As mulheres têm riscos específicos devido à gravidez e à utilização de hormônios como anticoncepcional, além de outros riscos após menopausa.

Fala AVC

A médica explica que o uso de anticoncepcional ou reposição hormonal pós-menopausa com medicamentos que contenham estrogênios é que pode aumentar o risco de AVC, pois o hormônio induz alterações significativas no sistema de coagulação, acarretando aumento de trombina e dos fatores de coagulação e redução dos inibidores naturais da coagulação.

"Esse hormônio atua diretamente na parede vascular, influenciando mudanças nos fatores que estimulam a disfunção endotelial e essas transformações são favoráveis ao desenvolvimento de eventos tromboembólicos, como o AVC", explica Jovana Gobbi Marchesi Ciriaco.

Já o período gravídico-puerperal, isto é, do início da gestante até cerca de 90 dias após o parto, tem mais riscos de AVC por motivos diversos, e variam conforme a época. "No início deste período existem mais riscos de trombose arterial relacionado a hormônios e processos vasculares específicos placentários. Assim como as mudanças vasculares na pressão arterial, níveis glicêmicos são mais frequentes no final da gestação e alterações inflamatórios, autoimunes e tromboses venosas são mais comuns no puerpério. Mas todas aumentam no geral o risco de AVC", diz Jovana Gobbi Marchesi Ciriaco.

Primeira menstruação

A sociedade brasileira de pediatria sinaliza ainda o maior risco de hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e AVC em crianças com puberdade precoce, ou seja, menarca precoce. "Entre mulheres, há ainda maior risco de desenvolver certos tipos de câncer – por conta da exposição precoce ao hormônio estrógeno", conta jovana Gobbi Marchesi Ciriaco.

A neurologista Rúbia Rasseli Sfalsini explica que a menarca precoce está associada a uma exposição prolongada ao estrogênio, aumento do risco de hipertensão e problemas metabólicos, todos os fatores que podem aumentar o risco de AVC. "A menarca tardia pode estar associada a distúrbios hormonais e metabólicos que também contribuem para o aumento do risco de doenças cardiovasculares, incluindo o AVC".

Prevenir a doença em mulheres envolve uma combinação de gerenciamento dos fatores de risco comuns como controle da hipertensão arterial sistêmica (HAS), da diabetes mellitus (DM), evitar o sedentarismo, tabagismo e etilismo além de dar atenção especial aos riscos específicos relacionados ao gênero como, revisar o uso de contraceptivos e TRH e controlar enxaquecas. "Se faz importante também que as mulheres que experimentam menstruações precoces ou tardias monitorem de perto sua saúde cardiovascular, especialmente com o envelhecimento", finaliza.

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