Morena Fornaciari percebe pequenos avanços ainda acontecendo gradualmente, mesmo seis anos depois do AVc
Morena Fornaciari percebe pequenos avanços ainda acontecendo gradualmente, mesmo seis anos depois do AVc. Crédito: Vitor Jubini

De fisioterapia ao apoio psicológico: a importância da reabilitação no pós-AVC

A reabilitação do AVC pode abranger diferentes aspectos, dependendo de quais funções cerebrais foram comprometidas

Tempo de leitura: 6min
Vitória
Publicado em 25/10/2024 às 10h00

A recuperação no pós-AVC é fundamental. A empresária Morena Fornaciari, que teve um AVC isquêmico começou o processo de recuperação ainda no hospital. "Eu tentei andar na primeira vez no quarto do hospital, mas não tinha equilíbrio. A fisioterapia começou logo na alta".

Não parou mais. Fez musculação, dança e até nadou no mar. A evolução aconteceu aos poucos. Na cozinha, por exemplo, é preciso ter muita atenção e ela recorre a utensílios adaptados e compra produtos já fatiados e descascados no supermercado. "Uso a mão afetada para abrir armários, segurar ingredientes, abrir a geladeira… Reparei que tenho usado ela cada vez mais para segurar pratos e copos de vidro/porcelana, o que antes eu tinha medo pela possibilidade de quebrar. Com o passar do tempo vou me sentindo mais segura e é muito legal ver pequenos avanços ainda acontecendo gradualmente, mesmo seis anos depois".

Já a pedagoga Luana Vazzoler, que teve um AVC hemorrágico, em 2022, até hoje está no processo de reabilitação. "Com o AVC tive que aprender a escrever com a mão esquerda e reaprender a escrever com a amo direita, a da sequela. Tem as dificuldades como conseguir segurar o lápis, só com o adaptador. O bom disso é que aprendi na marra a escrever com as duas".

Há dois anos ela faz fisioterapia e pilates para o processo de recuperação. "São três vezes na semana que vou para as sessões. A mão e a perna ainda ficam um pouco travadas", conta. 

A importância da reabilitação

Há poucos estudos de longo prazo sobre os fatores de risco e o impacto da reabilitação nas taxas de sobrevivência. Uma pesquisa recente conduzida pela Universidade de São Paulo (USP) aborda a importância da reabilitação para os sobreviventes de AVC.

O Estudo de Mortalidade e Morbidade do AVC (EMMA), iniciado em 2006, acompanhou pacientes que sofreram AVC e buscaram atendimento no Hospital Universitário (HU) da USP. O estudo, publicado na National Library of Medicine, analisou 632 sobreviventes de AVC isquêmico, observando-os por um período de até 12 anos. Durante o acompanhamento, foram coletados dados sobre a recuperação funcional dos pacientes, uso de medicamentos e a realização de reabilitação física e fonoaudiológica.

Os resultados do estudo mostram que o grau de incapacidade funcional pós-AVC é o principal fator que influencia as taxas de mortalidade. Pacientes que se engajaram em programas de reabilitação apresentaram uma melhora significativa no prognóstico a longo prazo, com menor risco de complicações médicas e morte.

Além disso, o estudo revelou que o uso contínuo de medicamentos para controle dos fatores de risco cerebrovasculares reduziu o risco de mortalidade em 50%. No entanto, pacientes com maior grau de incapacidade funcional e idosos enfrentam um risco maior de morte, especialmente entre seis meses e dois anos e meio após o AVC.

Diante dessas evidências, fica claro que a reabilitação não é apenas uma recomendação, mas uma necessidade vital para aqueles que sobreviveram a um AVC. Investir em programas de reabilitação, que incluam fisioterapia e fonoaudiologia, pode não apenas prolongar a vida dos pacientes, mas também melhorar significativamente sua qualidade de vida, permitindo-lhes retomar atividades cotidianas com maior independência.

“A reabilitação fonoaudiológica é fundamental para ajudar os pacientes a recuperarem a capacidade de comunicação e deglutição, funções que muitas vezes são gravemente afetadas após um AVC. Cada pequena conquista durante o processo de reabilitação faz uma diferença enorme na vida do paciente, permitindo que ele reconquiste sua autonomia e melhore sua qualidade de vida", afirma a fonoaudióloga Cristina Zerbinati, 

Equipe multiprofissional é fundamental

A reabilitação do AVC pode abranger diferentes aspectos, dependendo de quais funções cerebrais foram comprometidas. O neurologista Fábio Fiene, do Hospital São José, conta que, geralmente, o programa de reabilitação terá uma equipe multiprofissional que pode incluir médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos. "Utilizando-se técnicas adequadas, pode-se estimular o desenvolvimento de novas conexões neuronais, construindo novas pontes para recuperação das funções cerebrais perdidas".

 A reabilitação se inicia de forma precoce, conforme as condições do paciente. Em geral, é iniciada nas primeiras 24 horas após o episódio. 

Fala AVC

O foco da fisioterapia é devolver ao paciente a funcionalidade, tornando-o o mais independente possível. Desde atividades básicas, como pentear o cabelo, se alimentar e se vestir, até movimentos mais complexos, como a marcha. A fisioterapeuta neurofuncional Brunella Guidoni explica que é realizada uma avaliação do paciente para identificar as alterações e traçar um plano de tratamento individualizado.

"O tratamento consiste em exercícios ativos livres e resistidos, técnicas específicas como, por exemplo, a que trabalha movimentos combinados em diagonais, Rood (que são estímulos sensoriais nos músculos) e equipamentos auxiliares, como bola suíça, barra paralela, escada de canto, espaldar, pesos, recursos de equilíbrio e brinquedos lúdicos", diz a professora do Unesc.

A fonoaudióloga Rosiane Carvalho Santos de Oliveira, do Hospital São José, conta que na doença pode haver um comprometimento de apenas uma área ou ainda de mais regiões. "Normalmente, no pós-AVC é comum observar uma disfagia e uma afasia, que também é um distúrbio da linguagem".

A afasia é uma disfunção, um distúrbio da linguagem que afeta algumas ou todas as modalidades da linguagem, expressão, compreensão, leitura, escrita e, normalmente, é adquirida depois de uma lesão. "O intuito terapêutico vem para habilitar essa linguagem, tornando-a mais prática no dia a dia do paciente. Além disso, ela deve ser funcional, ou seja, para ele compreender e estabelecer uma rotina diária, conseguindo se expressar, para ter uma comunicação sadia com a sua família". 

Já a disfagia é a dificuldade de engolir alimentos e líquidos, a percepção de “arranhar”, ou ficar “presa” a comida ou bebida na passagem da garganta. "O objetivo é que o paciente possa se alimentar pela boca, com o alimento certo, com a textura correta, sem que tenha prejuízos e que isso não lhe cause danos, como a desnutrição e a broncoaspiração, que são danos físicos e de forma grave que podem aparecer". 

A psicóloga Talita Alves, da Rede Meridional, diz que o objetivo da reabilitação cognitiva é contribuir para desenvolver a independência do paciente na adaptação e realização das atividades diárias, quanto aos aspectos físicos, intelectuais, psicológicos e sociais.

"A intervenção pode ser mais dirigida ao treino da função (como atenção, memória e raciocínio) e de comportamento diante de disfunções cerebrais visando aproximá-la do estado anterior ao AVC ou sugerir estratégias compensatórias, quando não for possível restituir a função, e contribuir para a adaptação do paciente".

Fala AVC

O AVC pode ter um impacto psicológico para pacientes e familiares, uma vez que sequelas, como paralisias em partes do corpo e problemas de visão, memória e fala, acarretam mudanças significativas na vida dessas pessoas. "As mudanças físicas e cognitivas do paciente podem afetar sua autoestima, a autoconfiança e o impacto gerado pelas limitações da doença, pode favorecer o início de um quadro depressivo, o que intensifica o sofrimento psíquico não só dos pacientes, mas também de suas famílias", alerta a psicóloga.

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