Por Gustavo Lyrio Julião em depoimento a Guilherme Sillva
"O ano era de 2022 e eu trabalhava como servidor público em Vitória. Era noivo da Priscila Bonadiman, após 11 anos de namoro, e gostava de estudar para concursos e frequentar as aulas no crossfit. Conheci a minha esposa por meio de amigos em comum, porque fazíamos parte do mesmo movimento na igreja.
Casamos no dia 09 de julho de 2022 com direito a uma festa muito animada. Era um sonho que estávamos realizando. E saímos da festa já pensando na lua de mel. Tiramos 30 dias de férias para fazer um cruzeiro no Caribe.
Lembro que na semana do casamento tive muita enxaqueca e fui para festa com uma dor de cabeça muito forte. Achava que era o estresse e a ansiedade com a mudança e o casamento. Mesmo assim consegui aproveitar. No dia seguinte, por volta das 17 horas, percebi que estava trocando as palavras e falando embolado. A intenção era abrir os presentes e ler os cartões, não deu.
Tive a primeira convulsão na frente da minha esposa e a caminho do hospital, na ambulância, veio a segunda convulsão. O lado esquerdo do corpo ficou paralisado após uma grave hemorragia no cérebro. Foi assustador. Jamais achei que fosse um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico, aos 32 anos.
No hospital já não conseguia mexer o braço. Com os exames, os médicos viram uma hemorragia bem grande na minha cabeça. Como perdi a lucidez, a minha esposa conta que fui imediatamente para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e começaram o protocolo de AVC.
Na madrugada passei por uma cirurgia para drenar o sangue da hemorragia e descomprimir o cérebro. Os médicos tiveram que tirar uma parte da calota craniana e entrei em coma.
A dosagem dos medicamentos era muito alta e fui acordando lentamente. Era um monte de fios, tubos e várias medicações. Estava muito debilitado e tive que reaprender a fazer tudo. Não conseguia falar, o olhar era vago, não sentava, não conseguia escrever e nem me movimentar. Foram 29 dias internados, sendo 18 na UTI e oito dias intubado. E quando recebi alta, no dia 8 de agosto, saí de cadeira de rodas, porque não conseguia andar.
Ainda no hospital, em coma, comecei a fazer fisioterapia. O trabalho continuou em casa também com a fonoaudiologia todos os dias. Na alimentação, tinha dificuldade para engolir alimentos, por isso tinha que ser pastoso. Também tive sequelas na parte cognitiva, fiquei com uma afasia, além do fato de estar com o movimento de uma mão só, que hoje é um dificultador.
A vida após o AVC
Dois anos se passaram, tive alta da fisioterapia, passei a fazer aulas de natação e de musculação. Durante todo esse tempo tive acompanhamento de terapia e de fonoaudiologia. Tenho saído cada vez mais, apesar de que, quando estou num ambiente com muita gente, a situação me deixa confuso. Lugares cheios podem ser um gatilho para a convulsão. Shows, por exemplo, nunca mais fui.
Esse ano me tornei pai. A nossa filha Anna nasceu em 12 de julho de 2024, dois anos depois da data do AVC. A cada dia aprendo algo novo e consigo realizar coisas simples, como pegar ela no colo, que para mim é muito importante. Me sinto muito realizado e quero ser um bom pai e superar a cada dia as minhas limitações físicas. O nome Anna significa cheia de graças e a chegada dela ressignificou muitas coisas na minha vida.
Por mais que as pessoas falem que sou vitorioso, que eu renasci, é um trauma e um medo que, penso eu, vai ficar marcado para sempre diante das minhas limitações e momentos que não voltam mais".
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