O ginecologista Igor Padovesi lança o livro “Menopausa Sem Medo” que apresenta informações médicas mais atuais sobre o assunto
O ginecologista Igor Padovesi lança o livro “Menopausa Sem Medo” que apresenta informações médicas mais atuais sobre o assunto. Crédito: Divulgação/Igor Padovesi

"Muitas mulheres não vão ter os sintomas mais característicos da menopausa", diz ginecologista

Igor Padovesi lança livro sobre a menopausa, desmistifica temas que envolvem essa fase da vida e apresenta estratégias para tornar o período mais tranquilo, como a terapia de reposição hormonal, com base em evidências científicas

Tempo de leitura: 2min
Vitória
Publicado em 17/03/2025 às 09h01

A menopausa marca o fim da fertilidade e traz uma série de mudanças hormonais para as mulheres. Para muitas, essa fase ainda é marcada pelo medo e o silêncio. E foi para desmistificar temas que envolvem a menopausa que o ginecologista Igor Padovesi, especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS), acaba de lançar o livro “Menopausa Sem Medo” (Editora Gente). 

“Pela primeira vez na história da evolução humana, grande parte das mulheres vive por décadas após a menopausa. Apesar disso, muitas ainda não sabem o que é, o que esperar e, principalmente, como viver bem na menopausa. É um convite para uma conversa franca e necessária sobre o assunto”, diz o médico.  

No livro, o ginecologista apresenta informações médicas mais atuais sobre o assunto, além de esclarecer as principais dúvidas das mulheres sobre a transição menopausal, quais os seus sintomas, quando e de que forma ela acontece, como reconhecer e o que esperar da perimenopausa, que é a fase de transição para a menopausa, que marca o fim da fertilidade

“Menopausa Sem Medo” é destinado principalmente a mulheres que querem entender mais sobre a menopausa
“Menopausa Sem Medo” é destinado principalmente a mulheres que querem entender mais sobre a menopausa. Crédito: Divulgação

"É destinado principalmente para mulher que quer entender mais sobre a menopausa para se preparar para enfrentar esse período sem medo, munida de informações embasadas em evidências científicas", diz. SE CUIDA conversou com o ginecologista Igor Padovesi para esclarecer as principais dúvidas sobre a menopausa. Confira a entrevista!

Qual é o objetivo ao escrever o livro 'Menopausa Sem Medo'?

O livro tem o objetivo de ser a primeira referência completa para as mulheres se informarem sobre esse assunto. É um tema que está em alta, tem sido cada vez mais falado, porém as mulheres ainda encontram muita dificuldade de obter informações confiáveis. Acabam se perdendo na internet em informações dispersas.

O que é a menopuasa?

É o fim de um processo de envelhecimento dos ovários, que são os órgãos que produzem os dois principais hormônios femininos, que é o estrogênio e a progesterona. A menopausa marca o fim desse processo de transição, cujo início é a chamada perimenopausa, e ela pode durar vários anos e já começa a afetar as mulheres nessa fase, e portanto elas não devem aguardar a menopausa para agir, precisam saber reconhecer o início dos sinais de perda da função ovariana e redução dos níveis dos hormônios antes que eles acabem de vez.

Como é a percepção da menopausa?

Por definição ela é caracterizada pelo fim das menstruações depois de um ano. Como as menstruações na transição para menopausa passam a falhar e ficar espaçadas, só depois de um ano, sem nenhuma menstruação é que se pode dar o diagnóstico definitivo da menopausa. Para a maioria das mulheres a percepção costuma ser ruim, ainda é uma palavra que tem um certo peso que elas não gostam de encarar.  

O percentual de mulheres na faixa etária de entrada da menopausa quase dobrou em 25 anos. Por que o medo e o silêncio ainda rondam o assunto?

Principalmente porque a menopausa é associada ao envelhecimento, à perda da juventude, perda da fertilidade, e são questões que a mulher geralmente não gosta de se deparar. Hoje é preciso ressignificar a menopausa porque até algumas décadas atrás ela acontecia no final da vida das mulheres, considerando que a expectativa média de vida das mulheres no início dos anos 1900 era de 40 anos, e hoje é mais de 80 anos. Hoje a mulher vai passar mais de um terço, quase metade da vida na pós-menopausa. 

Igor Padovesi

Ginecologista

"A longevidade das mulheres mudou muito. Por isso é tão importante o cuidado nessa fase da vida após a menopausa"

O assunto ainda é tabu?

Ainda é tabu, porém tem sido cada vez menos porque essa nova geração de mulheres que chega na idade da menopausa, num outro momento da vida, são muito diferentes daquelas de décadas atrás, então aos poucos tem deixado de ser tabu. Mas isso ainda tem muito a avançar.

Por que é importante o acompanhamento médico especializado desde os primeiros sintomas?

É necessário exatamente para que a mulher não perca tempo para começar a fazer o tratamento correto, já que é mais do que comprovado e todos os consensos mundiais sinalizam isso. O conceito da janela de oportunidade, que é o momento ideal de iniciar o tratamento, que vai do início dos sintomas até os primeiros anos após a menopausa. É importante identificar logo cedo e também porque o não reconhecimento desses sintomas leva muitas mulheres a sofrerem desnecessariamente com sintomas que elas não precisariam estar lidando se estivessem com o tratamento correto.

O que é a transição menopausal?

É momento em que os ovários começam a perder a função, aquele ciclo mensal que é bem regular para as mulheres na idade fértil, ele começa a perder o padrão e os hormônios passam a oscilar muito. E essa fase é chamada de perimenopausal, ou síndrome do climatério, que é muito importante que seja reconhecido e que esse conceito seja mudado na cabeça das mulheres. Que elas não precisam esperar a menopausa, que é a parada total das menstruações, inclusive muitas mulheres não vão ter esse parâmetro, porque usam DIU, por exemplo, e por isso não menstruam, ou porque já tiraram útero. Então o diagnóstico é baseado em sintomas. É uma fase que o diagnóstico é clínico, é baseado em sintomas, ele não depende de exames, porque os exames nessa fase tipicamente oscilam.

Quais são as principais dúvidas das mulheres nessa fase?

É justamente se os sintomas são atribuíveis a transição menopausal ou a outras causas. Muitas mulheres não vão ter aqueles sintomas mais característicos que são a irregularidade das menstruações ou os fogachos, popularmente conhecidos como calorões. E os outros sintomas que fazem parte da síndrome da perimenopausa podem se confundir com várias outras causas como, por exemplo, fadiga excessiva, tristeza, sintomas depressivos, sintomas de ansiedade, alterações da pele, piora da libido, ressecamento vaginal, alterações de memória e tudo isso tem outras possíveis causas e são facilmente confundidas. Com demandas da vida cotidiana, sendo que a menopausa hoje costuma chegar para as mulheres numa fase em que elas ainda são muito ativas, elas podem ter dificuldades em reconhecer os sintomas. 

Igor Padovesi

Ginecologista

"Os sintomas são muito mais diversos do que os calorões e a falta das menstruações que a maioria das mulheres conhece. E muitas não vão ter, porque não têm o parâmetro da menstruação, ou não vão ter calores, ou eles só vão chegar numa fase mais adiantada do processo de transição para a menopausa"

O que acontece no corpo da mulher para desencadear tantas mudanças durante a menopausa?

É a falta dos hormônios principais femininos que são tradicionalmente chamados de hormônios sexuais e inclusive tem se mudado essa nomenclatura para tirar essa ideia de que esses hormônios são responsáveis somente pela questão sexual e reprodutiva. São hormônios, principalmente o estrogênio e a progesterona, produzidos pelo ovário e relacionados ao ciclo menstrual, mas que já se sabe que são fundamentais e praticamente todos os tecidos do organismo são sensíveis a esses hormônios. Já tem estudos mostrando que o cérebro das mulheres muda muito com a falta do estrogênio. E vários outros tecidos do corpo, a pele, a região urogenital, são afetados, então o impacto da falta dos hormônios vai muito além do fim das menstruações, o que seria um alívio para as mulheres por um lado, mas por outro leva ao aparecimento de vários outros sintomas desconfortáveis.

Quais são as mudanças que ocorrem no corpo durante as três fases do climatério: perimenopausa, menopausa e pós-menopausa?

Elas são graduais. Essas fases não são tão claras, a transição, por exemplo, o maior marco é a parada total das menstruações, mas muitas mulheres não vão ter esse parâmetro, porque já retiraram o útero, já que a retirada do útero é a cirurgia mais comum do mundo da ginecologia. O útero para muitas mulheres vira um problema quando elas ficam um pouco mais velhas e já terminaram a fase de ter filhos, e outras mulheres usam o DIU hormonal e, portanto, não tem o parâmetro da parada das menstruações. As mudanças no corpo são graduais pela falta progressiva do estrogênio. 

Pode citar algumas mudanças?

No corpo como um todo, a pele vai ficando mais ressecada, envelhecida, com aquele aspecto de ressecamento e perda de colágeno. Na região urogenital, gradualmente vai acontecendo ressecamento, atrofia, estreitamento do canal vaginal, que chega a impedir as mulheres de manter relação sexual. O cérebro perde massa cinzenta, as artérias e vasos sanguíneos do corpo ficam enrijecidos, eles perdem elasticidade pela falta do estrogênio. Além dos outros sintomas, que são os calorões, os esquecimentos, a piora do sono, os sintomas depressivos ou de irritabilidade, que não são modificações físicas visíveis, mas também acontecem relacionados a falta do estrogênio. Essas mudanças todas não são tão claras entre essas fases da perimenopausa e pós-menopausa. E para algumas mulheres é um espectro, que algumas podem ter alguns sintomas que podem chegar mais cedo, outras podem não ter ou ter os sintomas mais tardiamente, pode ter uma variação considerável, não é uma coisa linear, tem uma variação considerável.

Existe uma solução eficaz para aliviar os sintomas da menopausa?

A solução comprovadamente mais eficaz que não só alivia sintomas, mas previne diversas doenças relacionadas ao envelhecimento, promove uma longevidade mais saudável e com melhor qualidade de vida, é a terapia hormonal. E isso precisa ser desmistificado, porque ainda existe a ideia errônea de que a terapia hormonal traz riscos, está associada ao câncer, e é justamente o contrário, não há menor dúvida sobre isso, todos os consensos sobre esse assunto, há muitos anos já tem a conclusão definitiva e inquestionável de que a terapia hormonal, para grande maioria das mulheres, com raras exceções das que não podem utilizar, ela tem de longe muito mais benefícios do que riscos, não só de melhora da qualidade de vida, mas de prevenção de doenças associadas à falta prolongada do estrogênio no organismo da mulher.

Para aquelas que não querem ou não podem fazer uso da terapia hormonal contínua, há alternativas?

As que não querem devem ser informadas primeiro, porque muitas mulheres têm os conceitos errados e ultrapassados da terapia hormonal. Não existe dúvida que para a absoluta maioria das mulheres, os benefícios são muito maiores do que os possíveis riscos. Muitas situações que se consideravam contra indicações hoje em dia se flexibiliza, porque existe um risco do não tratamento. 

Todo mundo fala sobre os possíveis riscos da terapia hormonal...

Existe um maior risco inquestionável que é da não terapia hormonal, que é viver muitos anos depois da menopausa sem estrogênio. Aumento de risco comprovado cardiovascular, aumento de mortalidade, uma informação inquestionável que mulheres que não fazem terapia hormonal morrem mais cedo. O risco de perda de massa óssea associado a sarcopenia, que é a perda de massa muscular e o risco de queda e fratura que é extremamente grave para mulheres mais idosas, principalmente na faixa dos 70 e 80 anos. Pode ser muito mais grave a mulher cair e quebrar o fêmur do que ter um câncer, por exemplo. Sobre o câncer de mama, que era um mito associado à terapia hormonal, a gente sabe que o risco não aumenta como pode ser reduzido. Existem alternativas que podem amenizar alguns dos sintomas da menopausa para as mulheres que sofrem com isso e, se de fato tiverem contraindicação, ou para algumas outras condições, podem ser tratadas de outras formas que não com a terapia hormonal. 

Igor Padovesi

Ginecologista

"Para maioria das mulheres o tratamento padrão recomendado é a terapia hormonal e outras terapias podem ser complementares"

Um dos grandes choques que as mulheres enfrentam na menopausa é a mudança em sua aparência física. É inevitável ganhar peso?

Não é inevitável ganhar peso, mas a tendência natural da transição para menopausa e pós-menopausa é de acumular peso, principalmente na região do abdômen, a gordura visceral, que é mais perigosa. A terapia hormonal, ela não emagrece, mas ela atenua esse efeito que a falta do estrogênio leva tipicamente ao ganho de peso. E é importante que as mulheres cuidem disso, porque existe um esforço ativo maior do que anteriormente para conseguirem se manter no peso, e com a sociedade moderna, o excesso de alimentos, hábitos de consumo alimentar atuais, é cada vez mais difícil para as mulheres conseguirem se manter no peso na pós-menopausa, exige bastante disciplina, porque é fundamental manter bons hábitos, e fica de fato mais difícil depois do início da transição para menopausa.

Dificuldade em dormir ou horários de sono irregulares são sintomas muito comuns. Quais as consequências da falta de descanso?

Dormir bem é fundamental para saúde do organismo, então existe uma tendência com o envelhecimento de todas as pessoas passarem a ter pior padrão de sono e, para as mulheres na transição menopausal, muitas delas já sentem isso de forma muito impactante. E a falta de sono leva a mais queixas de cansaço diurno, mas também piora da concentração, piora da memória, o desempenho de tarefas básicas fica comprometido, agrava sintomas psíquicos como ansiedade, depressão e reduz o desempenho geral, além de estar associado ao aumento de risco de várias outras doenças, inclusive as cardiovasculares. 

Desmistificar esse período como sendo relacionado a um envelhecimento não saudável ainda é um desafio?

Desmistificar a menopausa e o tratamento ainda é um desafio, mas tem sido cada vez menor, porque essa nova geração que hoje chega à transição menopausal, é muito diferente. As mulheres estão num momento de vida muito diferente daquelas de 50 anos atrás, e estão ressignificando esse momento e normalizando a conversa sobre a menopausa. 

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Livro Menopausa Sem Medo

Livro Menopausa Sem Medo

O ginecologista Igor Padovesi busca desmistificar o tema e expô-lo de maneira didática, não só para acabar com o medo e o silêncio que rondam a menopausa, mas para apresentar dados que comprovam os efeitos benéficos do protocolo de tratamento mais atualizado: a terapia de reposição hormonal.

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