Por Luana Vazzoler em depoimento a Guilherme Sillva
"Tive um AVC hemorrágico, aos 33 anos, no dia 05 de julho de 2022. A minha vida era normal e não tinha nenhum problema de saúde. Sou pedagoga e trabalhava criando itens personalizados para festas. E também cuidava da minha casa, arrumando os cômodos e cozinhando. Fui mãe em 2017 da Beatriz. Eu adorava andar de bicicleta, chegava a pedalar 30 quilômetros num único dia. Três anos antes do meu AVC, a minha avó passou mal e, no hospital, foi diagnosticada com o acidente vascular cerebral. Era a primeira vez que ouvia sobre essa doença.
Foi durante o almoço de domingo que comecei a passar mal. Sentia muita dor de cabeça e um formigamento no lado direito do corpo, o meu rosto ficou vermelho, tive um mal-estar no estômago e a minha pressão subiu. Nunca tinha sentido isso. No dia seguinte a dor de cabeça continuou, cheguei a ir à farmácia, onde foi constatado pressão alta. Já no hospital, falaram que era crise de ansiedade.
Na segunda-feira, minha filha tinha consulta com o pediatra. Não fui devido à dor, e o médico acabou perguntando para o meu marido por mim. Quando soube da dor de cabeça persistente acabou solicitando uma tomografia. Na terça-feira, às 6 horas, quando fui ao banheiro, senti uma tontura e simplesmente apaguei.
O atendimento do Samu foi chamado e acabei sendo levada para o hospital de Venda Nova do Imigrante, na região serrana do Espírito Santo. Meu esposo falou que tinha um pedido de tomografia e queria que fizessem. Fiz o exame e saíram desesperados. Foi diagnosticada uma lesão muito grande no cérebro, era um AVC hemorrágico. Fui transferida de helicóptero para o Hospital Estadual Central (HEC), referência no atendimento da doença. Foram 20 dias sedada na UTI e, por isso, não lembro de nada. Meu marido intercalava os dias de visita no hospital.
A vida após o AVC
Durante a internação ainda tive uma pneumonia e a colocação da sonda para alimentação. Quando acordei soube que a situação era muito complicada. Passei pela retirada da calota craniana, a cirurgia feita para salvar a minha vida. E após oito meses fiz a cranioplastia (coloquei a prótese) que substituiu a parte óssea da cabeça. A minha prótese não foi 3D, ela foi moldada na hora a mão. Essa cirurgia foi um marco na minha reabilitação.
A recuperação foi lenta. Fiquei com dificuldade de falar e perdi os movimentos do lado direito por completo. No hospital não consegui andar e, por isso, só ficava deitada. Também perdi um pouco do campo de visão do lado direto. Foram nove meses usando cadeira de rodas. Logo que tive alta do hospital era como se estivesse em outro mundo. Não sabia onde eu morava, não reconhecia os cômodos da casa e com o tempo os meus sentimentos também mudaram. Ultimamente tenho tido crises de ansiedade. Não é fácil.
Com o AVC tive que aprender a escrever com a mão esquerda e reaprender a escrever com a amo direita, a da sequela. Tem as dificuldades como conseguir segurar o lápis, só com o adaptador. O bom disso é que aprendi na marra a escrever com as duas.
Há dois anos faço fisioterapia e pilates para o meu processo de recuperação. São três vezes na semana que vou para as sessões. A mão e a perna ainda ficam um pouco travadas. Em casa já consigo fazer almoço e limpar a casa. A memória às vezes falha. Andar de bicicleta, que eu tanto gostava, também não foi mais possível. Dá tontura e eu tenho medo de cair.
Meu futuro é incerto. Não sei se terei condições cognitivas para voltar a atuar na educação e muito menos com o trabalho que fazia antes do AVC que requer muita habilidade manual e coordenação motora. Mas Deus tem um plano para mim, e na hora certa ele vai mostrar".
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