Por Alcione Medenwald em depoimento a Guilherme Sillva
"Moro em Santa Maria de Jetibá, no interior do Espírito Santo. Já adulta trabalhava na roça plantando beterraba, repolho, abobrinha, cebola e milho, além de gostar de jogar futebol com outras mulheres. Me casei em 2018 com o Hilário. Até que engravidei aos 21 anos e passei a ficar mais em casa. A minha gravidez foi muito tranquila. Era um sonho.
Nunca tinha ouvido falar do acidente vascular cerebral (AVC) e nem nos principais sintomas. Na minha família ninguém nunca teve a doença. Nos meses finais da minha gravidez, comecei a sentir algumas dores. Fui até o hospital da minha cidade e acabei voltando para casa. Não sabia o que fazer. Fui três dias seguidos para ser atendida, com muitas dores na barriga.
Era o dia 01 de junho de 2021. Acordei, tomei banho e o meu café, não sentia nenhuma dor. Quando fui escovar os dentes, eu senti o lado esquerdo do corpo todo paralisado. Tive que me segurar na pia para não cair no chão. Até bati a minha barriga. Fui até a cozinha e meu pai me ajudou a sentar. Estava tendo um AVC isquêmico e só fui saber horas depois.
No hospital da minha cidade disseram que os sintomas eram de AVC e não tinha os aparelhos para tratar a doença. Estava com 41 semanas de gestação e disseram que eu e o bebê corríamos risco de vida e que a prioridade era me salvar. Fiquei desesperada.
Devido à gravidade fui transferida de helicóptero para o Hospital Estadual Central(HEC), em Vitória, referência no atendimento de AVC. Fui submetida a um procedimento de emergência chamado de trombectomia mecânica, que consiste na introdução de um cateter pela virilha, alcançando o cérebro para retirada do trombo responsável por entupir a artéria, o que causa sintomas do AVC. Enquanto o procedimento era realizado, a bolsa amniótica estourou e entrei em trabalho de parto. Após o procedimento, fui transferida para o Hospital Universitário Cassiano Antonio Morais (Hucam) para a realização de uma cesárea de emergência.
O meu bebê nasceu saudável e ficou por alguns minutos no meu peito, ele até mamou. Queria que aquele momento parasse no tempo. Horas dois tive que deixá-lo no hospital e fui levada para a UTI do HEC. Meu filho ficou três dias internado. Nos nove dias que fiquei internada, não pensava muito no bebê para não sofrer. Meu marido revezava entre os hospitais para ficar próximo de nós dois. Só pude rever o meu filho três dias depois, ele já havia recebido alta hospitalar.
Os médicos disseram que dei muita sorte, podia não ter dado certo. Com a minha alta retornei para a minha casa. A minha vida voltou a ser normal, não tive nenhuma dificuldade ou sequelas. Cuido da minha casa e vejo o crescimento do meu filho. Nunca mais entrei em campo para uma partida de futebol. Sinto saudades".
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