O ex-presidente urugaio José Pepe Mujica, de 88 anos, anunciou nesta segunda-feira (29) que foi diagnosticado com um tumor de esôfago e que sua saúde "está muito comprometida". Em entrevista coletiva, ele relatou que recebeu o diagnóstico após ir ao Centro de Assistência Casmu na sexta-feira passada para fazer um check-up médico.
"Na minha vida, mais de uma vez o ceifador esteve rondando a cama, mas ele continuou a me pastorear. Dessa vez me parece que ele vem com a foice em punho e veremos o que acontece", disse.
Mujica disse que seu caso é duplamente complexo. "Porque eu já sofro de uma doença imunológica há mais de 20 anos que afetou, entre outras coisas, meus rins, o que cria dificuldades óbvias para técnicas de quimioterapia e uma cirurgia".
O esôfago é um tubo muscular oco, com cerca de 25 centímetros de comprimento, localizado entre a traqueia e a coluna vertebral, ligando a garganta ao estômago para transportar os alimentos. O esfíncter, um músculo localizado na porção final do esôfago, controla a passagem dos alimentos e líquidos e também impede o retorno do ácido estomacal e das enzimas digestivas por esse tubo.
O oncologista Fernando Zamprogno, da Rede Meridional, diz que o tumor é uma palavra que designa qualquer crescimento. "Ele pode ser benigno ou maligno. Existem doenças que afetam o esôfago e que podem ser confundidas com tumores malignos. O divertículo de Zenker, por exemplo, pode chegar a dimensões grandes e comprimir o esôfago. Mas não é um tumor maligno".
O médico diz que ainda não se sabe, ao certo, se o tumor do ex-presidente uruguaio é maligno. "Mas, o câncer de esôfago pode acontecer no esôfago superior, no médio ou no inferior. Existe essa delimitação por conta das formas de se tratar a doença, dependendo do local", diz Fernando Zamprogno.
Há os tumores chamados adenocarcinomas e os tumores carcinomas escamosos. São os dois tipos mais comuns e eles têm tratamentos diferentes. Os tratamentos podem envolver radioterapia com quimioterapia; cirurgia seguida por quimioterapia; ou ainda, quimioterapia, depois a cirurgia, e mais quimioterapia.
Em geral, o câncer de esôfago ocorre em pessoas acima de 50 anos, sendo mais prevalente em homens. Os dois principais tipos desse câncer são o carcinoma de células escamosas e o adenocarcinoma. “A existência do refluxo gastroesofágico pode provocar o chamado esôfago de Barrett, uma lesão considerada pré-cancerosa que acomete principalmente pessoas obesas e com histórico de refluxo gastroesofágico durante muito tempo”, explica o médico Clóvis Klock.
O oncologista Thiago Assunção, especializado em câncer de esôfago do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC), diz que os principais sintomas dessa neoplasia são a dificuldade de engolir (disfagia), sobretudo a alimentos sólidos, dor retroesternal (atrás do osso do meio do peito), dor torácica, sensação de obstrução à passagem do alimento, náuseas, vômitos e perda do apetite.
Além disso, a perda de peso não intencional é outro sinal de alarme para esse tipo de câncer. “Caso esses sintomas se tornem recorrentes, é preciso ir ao médico. O diagnóstico será feito por meio da história clínica, exames de imagem, endoscopia digestiva alta, biópsia e alguns testes adicionais, a depender do caso”, comenta Assunção.
A investigação diagnóstica se inicia com exames como a endoscopia ou a tomografia e, caso sejam identificadas lesões no esôfago, realiza-se uma biópsia, que consiste na retirada de um pequeno fragmento. A análise das células da lesão é realizada pelo médico patologista, que emite o laudo anatomopatológico com o diagnóstico.
De acordo com informações do Inca, o tratamento pode ser feito com cirurgia, radioterapia e quimioterapia, de forma isolada ou combinada, conforme o estágio da doença e das condições clínicas do paciente. Casos selecionados de tumores iniciais podem ser tratados por ressecção local durante a endoscopia, sem a necessidade de procedimento cirúrgico formal.
Nos casos onde o objetivo é a cura, os pacientes são inicialmente submetidos a um tratamento combinado com quimioterapia e radioterapia, e posteriormente é feita a cirurgia. Para os tumores muito avançados ou no caso de pacientes muito debilitados, o tratamento tem caráter paliativo (sem finalidade curativa) e é feito por radioterapia combinada ou não à quimioterapia.
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