Desde o início da pandemia, experimentamos um período de grandes desarranjos na economia mundial. No primeiro semestre de 2020, havia muita incerteza em todas as áreas. O avanço da Covid levou a sérias restrições de mobilidade, e a ausência de trabalhadores que contraíram a doença é até hoje sentida. Ninguém sabia até quando estaria sobre nós o peso da pandemia, mas o fato é que, dois anos depois, ainda estamos tentando sair dela.
Por conta disso, ocorreram diversos hiatos na cadeia produtiva, levando até à falta de determinados materiais, como, por exemplo, a falta de semicondutores para a indústria automobilística. As commodities como minério de ferro, alimentos e petróleo continuam em alta e, por fim, mas não menos importante, o dólar subiu muito, chegando a bater perto dos R$ 6 reais no momento mais crítico.
A inflação acelerou fortemente durante esse período, e o dólar tem sua importante parcela nisso, porque diversos produtos e insumos, que importamos ou exportamos, são cotados na moeda americana.
Há diversos motivos para a alta do dólar, podemos mencionar a própria incerteza na economia mundial, que ajuda a levar dólares para os países mais desenvolvidos (fly to quality). Também colabora negativamente um certo grau de turbulência política no ambiente doméstico, e ruídos fiscais relevantes como foi toda a discussão sobre mudanças no Teto de Gastos. Mas não podemos desconsiderar um fator muito importante: a nossa taxa de juros Selic.
Juros brasileiros mais altos atraem capital internacional de curto prazo, que vem atrás de boa rentabilidade. Juros mais baixos diminuem nossa atratividade e incentivam que recursos sejam dirigidos para aplicações no exterior.
Como o nosso Banco Central, de forma muito agressiva, levou nossa taxa básica para a meta de 2% ao ano, durante esse longo período não foram poucas as empresas e bancos que desalavancaram no exterior, pagando dívidas em dólar, para se endividarem no Brasil, e assim, enviaram recursos para fora do país, fazendo a cotação do dólar subir.
No momento em que nossa Selic baixou para algo em torno de 5%, e continuou caindo, esse fluxo financeiro nos desfavoreceu, então o dólar, que estava cotado à época em torno de R$ 4,75, perdeu o teto. Subiu sem freio e sem encontrar resistência, até bater próximo dos R$ 6 reais.
À parte de todos os motivos que ajudaram o dólar a voltar a cair e se aproximar agora dos R$ 5 reais, o recente aumento da taxa Selic tem uma estreita relação com esse movimento. Voltou a ser atrativo aplicar em juros no Brasil, a Bolsa se manteve barata enquanto concorria com a Renda Fixa e o fluxo se inverteu, novamente.
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Há alguns meses estamos atraindo recursos externos e, com a Selic se mantendo alta, isso deverá ocorrer durante mais um tempo. É bom para a inflação, e pode dar a sensação de que estamos, como país, menos pobres, caso isso ajude a controlar os preços.
No entanto, Selic alta não é benéfico para a economia no longo prazo. Ao mesmo tempo em que melhora a rentabilidade dos fundos de investimentos conservadores e títulos pós-fixados, deixa os empréstimos e financiamentos mais caros, trava investimentos na indústria e enfraquece o comércio, já tão combalido.
Também aumenta o custo da dívida pública, o que mais cedo ou mais tarde baterá na conta de todos nós, porque neste caso somos devedores. O remédio é amargo e já o conhecemos bem, pois temos um triste histórico de juros estratosféricos e custo financeiro alto.
O dólar mais baixo pode trazer alívio para a inflação no curto prazo, mas a taxa Selic alta faz o Brasil ser “caro, mesmo estando barato”. E nos afasta novamente do dia em que seremos considerados um país sério e confiável.
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