Um dos componentes mais importantes para compor o preço de qualquer ativo é o custo do dinheiro no tempo, ou o custo de oportunidade. E no Brasil, entende-se que a taxa Selic, remuneração básica dos títulos pós-fixados do Governo Federal (LFTs), é a remuneração sem risco da nossa economia, portanto utilizada para fazer preço em todo tipo de investimentos. Desde Fundos Imobiliários até a Bolsa, passando por Títulos de Renda Fixa mais longos, prefixados ou indexados à inflação, a taxa de juros atual e sua expectativa de futuro são a base para o entendimento sobre a atratividade dos investimentos de uma forma geral.
Portanto, quando a Selic está alta, isso incentiva os investidores a deixarem maior parte de seus recursos do caixa, em investimentos conservadores, ao invés de correr riscos em busca de maiores retornos.
A cada alta da taxa Selic, surge a repetida e cansativa pergunta: agora, onde investir?. É uma forma muito simplista de analisar as coisas, porque a taxa atual, a Selic do dia de hoje, não é o único parâmetro. É necessário analisar se o BACEN tende a aumentar, manter ou diminuir, mais rápido ou mais devagar, a taxa Selic no futuro. E isso forma expectativas, através da análise de diversas e numerosas variáveis, que vão desde o lado político e fiscal, até à situação da economia mundial e como o Brasil se posiciona neste cenário.
No entanto, o que precisamos lembrar é que o mercado financeiro sempre procura se antecipar ao colocar preço nos ativos. Isso não quer dizer que o preço em Bolsa está sempre correto. Na verdade, as oscilações dos preços de ações e títulos de renda fixa podem ser irracionais em muitos momentos. Mas dentro desta irracionalidade, a regra para colocar preços é a antecipação. Se existe uma expectativa, em tese ela já estará no preço.
Por isso não adianta dizer que a Bolsa vai cair porque a Selic vai aumentar. O correto é avaliarmos se a Bolsa hoje já estaria penalizada pela expectativa de aumento da taxa básica no futuro.
É o que ocorreu recentemente nos Fundos Imobiliários, que desvalorizaram, e na percepção de que a Bolsa, analisando friamente a rentabilidade das empresas que puxam o Índice Ibovespa, poderia estar depreciada neste momento. A sensação é de que o Ibovespa está ainda de freio puxado. E nessa conta também podemos colocar toda a incerteza relacionada às eleições presidenciais no Brasil e à guerra na Ucrânia.
O que podemos concluir é que há muito prêmio não só nos títulos remunerados diretamente pela Selic, como em diversos outros títulos de Renda Fixa, curtos e longos, prefixados ou indexados à inflação. E também podemos dizer que, se a Bolsa tende a sofrer com a alta taxa de juros, esse impacto já ocorreu, porque o mercado se antecipa.
Se existe um cenário de taxa Selic mais alta em 2022 e 2023, a tendência é que todos os investimentos estejam com preços mais baixos devido ao maior custo de oportunidade, inclusive ações e Fundos Imobiliários. E sendo assim, a alta da Selic cria oportunidades de entrada em diversas classes de ativos.
É por isso que o momento agora é de comprar barato. Os investidores estrangeiros, que parecem ver as coisas de forma muito mais fria do que os brasileiros, já perceberam isso e vêm comprando de tudo, mas não só Renda Fixa. Investidores estrangeiros sempre tem um olhar vigilante sobre a alta das commodities e sobre as empresas listadas em Bolsa que se beneficiam desse ciclo. E olham para o retorno esperado de forma técnica, analisando a diferença de juros entre Brasil e Estados Unidos.
O conselho é olhar para todas as classes de ativos, não só a Renda Fixa, respeitando o seu perfil de investidor. E tenha cuidado, porque 2022 será um ano difícil e no segundo semestre, com eleições, as coisas podem ficar, digamos, mais desafiadoras.
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