Formado em Administração, com MBA em Finanças pelo IBMEC e pós-MBA em Inteligência de Mercado pela FGV.

Câmbio: entenda por que o real está em alta e o dólar em queda

Desde o início de 2022, as condições globais têm relativamente favorecido a moeda brasileira, apresentando a maior valorização entre os países emergentes

Vitória
Publicado em 04/04/2022 às 09h42

Quando abordamos o tema câmbio, poucos elementos influenciam tanto a percepção geral a respeito da situação econômica quanto a cotação do dólar. De maneira simplificada, quando o real perde valor, sobem os preços dos produtos importados e, muitas vezes, como agora, a inflação.

Contudo, desde o início de 2022, as condições globais têm relativamente favorecido a moeda brasileira, apresentando a maior valorização entre os países emergentes. Para termos uma ideia, o recuo de 14,86% do dólar contra o real neste ano (01/01 – 28/03) tem sido impulsionado pelo expressivo diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos.

Aliás, é bom lembrar que em apenas 12 meses, a Selic abandonou a mínima histórica de 2% e, agora, está em 11,75%. Adiciona-se a isso, a lentidão do Federal Reserve (banco central americano) em subir a taxa básica de juros – hoje, encontra-se no intervalo entre 0,25% e 0,5% - gerou um distanciamento que também se reflete no juro real*. Enquanto a taxa esperada para um ano nos EUA está negativa em torno de 4%, o juro real brasileiro gira em torno de 7%.

Esse diferencial favorece estratégias em que os investidores captam no exterior a taxas mais baixas e aplicam dinheiro no país, conhecidas como carry trade.

Câmbio: real em alta e dólar em queda
Câmbio: real em alta e dólar em queda. Crédito: Baris-Ozer / Getty Images/iStockphoto

Em recente artigo, o economista Samuel Pessôa menciona o fato de que dois fatores têm contribuído para o fortalecimento do real, que na última sexta-feira (01/04) fechou a R$ 4,66 por dólar:

  1. Retomada do mecanismo de equilíbrio de compensação entre o real e o preço das commodities. Desde a flutuação do câmbio, no início de 1999, sempre que as commodities no mercado internacional ficam mais caras, o real se valoriza e vice-versa. Sempre que as commodities encarecem no mercado internacional, ficamos mais ricos e, consequentemente, nossa moeda se valoriza.
  2. O aumento da percepção de risco, em razão do impacto da pandemia sobre os gastos além do teto do governo, neutralizou o efeito gangorra entre o real e o preço das commodities. Em vez do dólar voltar para R$ 4 por dólar, nossa moeda ficou oscilando em torno de R$ 5,5. Essa neutralização explica uma parte importante do choque inflacionário por aqui: se o câmbio tivesse se comportado de forma habitual, parte do efeito inflacionário de elevação dos preços das commodities seria compensada pela valorização do real.
  3. A guerra entre Rússia e Ucrânia envolvendo diversos países emergentes, melhorou a percepção de risco relativa da América Latina. Nesse sentido, ficamos um pouco melhor.

Esse cenário, além do diferencial de juros, parece explicar o movimento da moeda, que saiu de R$ 5,74 em 21 de dezembro para R$ 4,66 no sexta-feira passada.

Em se tratando de câmbio, é muito difícil construir cenário exato para esta área. Vislumbrando o que há de vir, como processo eleitoral e incertezas no fiscal tende-se a viver em meio à volatilidade com certa desvalorização do real ao fim deste ano.

*Juro real ou taxa de juros real é o retorno líquido obtido na transferência de uma determinada quantia de capital ou dinheiro, uma vez que se tenha levado em conta os efeitos e correções na inflação. Em outras palavras, é o rendimento do dinheiro na prática.

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