Antes de começar a ler esse artigo, tenha em mente que eu acredito no debate da diversidade como necessário ao ambiente de negócios. Sou mulher, 40+, especialista em finanças, carrego essa crença comigo. Convivo diariamente com profissionais altamente capazes e me condicionei a não pensar em gênero se esse não for o tópico do assunto.
Entretanto não há como se esquivar, a diversidade (gênero, raça, credo) é tema recorrente no mercado financeiro hoje em dia: a sigla ESG está pipocando na rubrica dos fundos de investimento, nos planos estratégicos das grandes corporações, em lawtechs, fintechs, healthtechs ou qualquer startup que se apresente como disruptiva ou inovadora.
ESG significa Environmental, Social and Governance (Meio ambiente, Social e Governança), três pilares em debate por reguladores nacionais e internacionais. Muitas empresas reportam relatórios de sustentabilidade e diversidade sob as regras do GRI (Global Reporting Initiative), mas ainda há contradições entre o que se defende como sustentável e diverso e o que se reporta nas demonstrações contábeis.
Maquiagem verde de produtos ecofriendly são exemplos: produtos que se apresentam como benéficos ao meio ambiente em campanhas de marketing prejudicam o ecossistema ou são feitos por gente em regime insalubre de trabalho.
Em discurso, a diversidade (pilar social do ESG) funciona muito bem, as redes sociais exibem campanhas de impacto. Anitta, funkeira e empresária, assumiu uma cadeira no Nubank, fintech prestes a abrir capital em bolsa de valores. A Magalu, varejista brasileira, anunciou recentes pacotes de trainee para negros e um curso de programação gratuito para pessoas acima dos 40 anos.
O CFA Institute, certificador internacional, anunciou um programa de capacitação de mulheres jovens no mercado financeiro. O terceiro setor transborda iniciativas nesse sentido.
Na prática, não há consenso sobre a ideia de que diversidade gera lucro nas corporações. A questão é que queremos muito que negócios com mais mulheres no conselho de administração, por exemplo, gerem valor para o acionista. Queremos muito ver mais negros e pessoas com deficiência em cargos de liderança e que isso gere resultado na última linha da demonstração financeira. Queremos muito.
Então, refutamos qualquer evidência que nos dê uma resposta em probabilidade diferente da que buscamos. Em estatística, chamamos esse desejo de viés de confirmação, uma carga emocional e ideológica que nos faz tentar confirmar uma teoria em vez de verificar se ela acontece em média.
Um estudo publicado no Journal of Business and Social Science Review, em 2021, mostra que setores em que há predominância de homens na gestão não são necessariamente mais bem-sucedidos; mas que poucas indústrias com mulheres à frente do conselho têm performance superior àquelas indústrias com homens na liderança.
Argumentos com base em dados podem ajudar a fragilizar esse estudo. Mas, no fim do dia, podemos rodar centenas de testes empíricos, machine learning, deep learning, qualquer aprendizado de máquina ou bazucas em forma de regressões lineares, e não encontramos que mais diversidade no conselho de administração causa um aumento na rentabilidade das corporações.
Talvez o discurso deva ser colocado em prática não porque queremos que as empresas sejam mais lucrativas. Mas porque queremos uma sociedade mais diversa, em todos os sentidos. É o que o meu viés de confirmação me diz. O que diz o seu?
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