A inflação tem tomado de assalto o bolso do consumidor. Trata-se de um movimento global de ajuste de oferta e demanda, em desequilíbrio por conta da pandemia. No Brasil, o indicador oficial projetado, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), já passa dos 10% ao ano.
Nos Estados Unidos, a variação de preços anualizada passa de 6%. Na China, o que assusta não são necessariamente os preços ao consumidor, em 1,5% ao ano, mas os preços ao produtor, cravados em 13,5% ao ano. A aceleração da inflação de custo (sim, importamos bilhões de reais por ano em produtos chineses) sinaliza que o pico dos preços ainda não chegou.
A inflação também afeta a vida do investidor. Aplicações tradicionais no Brasil, como a poupança, têm auferido rendimentos reais negativos. A caderneta tem pagado juros abaixo da inflação. É como se você colocasse R$ 100 na poupança hoje, retirasse R$ 102 ao final de um período, um montante que, se corrigido pela inflação, deveria valer R$ 104. Ou seja, a inflação dispara a galope, enquanto a rentabilidade da poupança trota em cavalo manco.
O Banco Central, agente da política monetária no Brasil, tenta conter o cabresto da inflação via aumento da taxa básica de juros, a Selic. Aumentar a Selic é colocar areia na engrenagem da inflação, isso faz ela desacelerar.
Com a Selic em alta, os títulos do tesouro público e de renda fixa ficam mais atrativos no curto prazo, e há uma tendência de fuga de capitais da Bolsa de Valores. O que desincentiva empresas a buscarem capital de sócios no pregão, a crescerem via outras fontes de financiamento que não os bancões, um setor muito concentrado no Brasil. Mas o dólar em alta pode também sinalizar que ativos brasileiros negociados em reais estão baratos para fundos estrangeiros, ajudando aí o setor de venture capital a crescer.
Em resumo, ainda vamos conviver com a instabilidade de preços durante algum tempo. Uma das últimas previsões do relatório Focus, um dossiê com as expectativas de grandes agentes de mercado, divulgado pelo Banco Central, previu um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) menor que 1% para 2022. A projeção da Selic para 2022 é de 11% ao ano (pensar que em janeiro de 2021, estávamos em torno de 2% ao ano...).
O Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) espera uma inflação próxima de 5% para 2022. Menor que o patamar atual. Não será fácil, 2022 é ano de eleição, e não é preciso ter bola de cristal para antecipar que alta volatilidade é uma das poucas certezas de 2022.
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