Simbólico, o 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, é um momento de reflexão, mas também é um lembrete do que acontece todos os dias: contra todas as adversidades, as mulheres seguem prosperando, abrindo caminhos e construindo trajetórias inspiradoras.
Foi na tecnologia – área que, ainda hoje, é dominada por homens – que Fernanda Sabra Oliveira e Ana Paula Serrano decidiram empreender. No ano passado, elas se uniram para fundar a Te Atende, uma startup com foco no diagnóstico das habilidades e atitudes dos profissionais que trabalham na área do atendimento.
“Em qualquer aspecto é sempre um desafio. Apesar de o nosso ambiente ser bastante diverso, é sempre um desafio ocupar espaços que ainda são pouco ocupados por mulheres, mas acredito, sim, que a tendência é que tenhamos cada vez mais de nós nesse meio. Eu mesma sou um exemplo vivo”, explica Ana Paula, que atua como CEO da empresa.
Ela conta que sua entrada no mercado da inovação se deu por causa da sócia, que já tinha uma trajetória na área. “Vim a partir de um caminho construído por outra mulher, e acredito que isso vai fomentando oportunidades e inspirando as que ainda estão por vir.”
Função desafiadora
Também na área tecnológica, Michele Janovik ocupa hoje o posto de CEO do hub Base 27, que agrega várias empresas, em diferentes estágios de evolução.
“É uma posição desafiadora, principalmente pela chefia ser geralmente ocupada por homens. A gente às vezes têm até que fazer mais, colocar a mão na massa mesmo. Mas faz porque é preciso empoderar outras pessoas, mostrar que são capazes, fazer com que se sintam seguras para realizar o trabalho delas, entregar o melhor que conseguem. E gerenciar pessoas, tipicamente, é algo que a gente faz muito bem.”
Ela explica que, além da gestão de pessoas, o trabalho envolve conectar negócios com oportunidades para que se desenvolvam. “É um desafio grande. Mas vamos, aos poucos, quebrando essas barreiras. Acho que consigo ter destreza para fazer isso e quando consigo gerar os resultados, confirmo isso. A mulher às vezes precisa trabalhar o dobro, o triplo, para conseguir se provar, mas temos conseguido.”
Energia de sobra
Enquanto algumas preferem focar em uma área, há outras que abraçam múltiplos caminhos. Renata França é empresária do varejo, mas é nos esportes que se encontra dia após dia.
“Hoje eu não treino mais para o triatlo como treinava, mas continuo nadando, correndo, pedalando, separadamente. Faço tênis também. É uma vida bem ativa. Gosto bastante do esporte, de fazer prova. É sempre um desafio em vista”, explica a capixaba que, no momento da entrevista, estava a 12 horas de distância, em Tóquio, no Japão, onde foi correr uma maratona.
A corrida de 42 quilômetros envolveu planejamento, mas ela conta que, muito além da mera competição, usa a atividade em prol do bem-estar.
“Tenho três filhos: Raquel, Antonio e Rafaela. A mais velha tem 25 e o mais novo tem 14 anos. Já estão crescidos, mas ainda é um dia a dia bem corrido, bem puxado. Tem que ter bastante energia, mas fazer movimento é o que me dá mais energia para continuar. E eu faço muito esporte coletivo, o que sempre acaba puxando outras pessoas.”
Renata França
Empresária e atleta
"Faço isso desde que me entendo por gente. Para mim, é como acordar e escovar os dentes. E mesmo com a vida agitada, no dia seguinte eu tenho o compromisso de acordar pra poder ir praticar o meu esporte, porque sei que faz muito bem para a saúde, para a cabeça. E onde eu fiz muitos amigos, que levo para a minha vida. Quando estou ali, sei que sempre tenho alguém para me apoiar"
Traços que transformam
A criação de mecanismos de apoio também se tornou um norte para a tatuadora Angela Becker, que decidiu transformar uma experiência ruim em serviços que ajudam outras mulheres a lidar com o passado.
Há cerca de três anos, Angela criou o Projeto Ressignificar, por meio do qual ajuda vítimas de relacionamentos abusivos a lidar com marcas deixadas pela relação. A tatuadora explica que realiza a cobertura de cicatrizes que surgiram da agressão física, mas também ajuda a transformar outras memórias.
“Muitas mulheres têm tatuagens que remetem a relacionamentos abusivos. Na maioria das vezes, é o nome ou a inicial do homem. Mas existem muitas outras que eu só descobri durante o projeto, como uma tatuagem feita durante o relacionamento, às vezes forçada pelo parceiro. O objetivo é ressignificar essas marcas.”
É um trabalho voluntário, feito conforme a disponibilidade. A ideia do projeto surgiu a partir de uma experiência vivenciada por ela em seu primeiro casamento.
“Estou no meu segundo casamento. São 18 anos de divórcio do primeiro, que foi extremamente abusivo. Vivi coisas muito complicadas. E, por conta do que eu passei, sempre abordei muito nas redes sociais, nunca falei só sobre tatuagem, sempre falei, emiti alertas sobre sinais de relacionamento abusivo e sempre me coloquei à disposição das mulheres que queriam conversar sobre. Já tive relatos de clientes que perceberam que estavam vivendo um relacionamento abusivo por causa disso.”
Angela Becker
Tatuadora e criadora projeto Ressignificar
"Eu fiquei pensando: o que mais eu poderia fazer para ajudar essas mulheres que viveram uma situação de relacionamento abusivo, uma relação de violência? O que mais eu poderia fazer além de emprestar meus ouvidos e ficar ali falando sobre o tema? E aí eu tive essa ideia. De ofertar a mão de obra que eu tenho capacidade de executar, que é a tatuagem para trazer essa ressignificação."
E complementa: “Para mim, é uma forma de gratidão, porque hoje eu tenho uma vida que eu sempre quis ter. Estou muito feliz, realizada com a minha família, com meu trabalho, com tudo que eu alcancei. Eu queria poder oferecer para o universo, para essas mulheres, um momento feliz. Às vezes, falta só aquela coisinha para encerrar esse capítulo.”
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