Como o parto fez uma mãe mudar de ideia sobre o futuro do filho

Após o fim de um relacionamento, a cabeleireira Jaqueline Oliveira Santos descobriu que estava grávida; saiba o que ela passou e como o bebê transformou sua vida

Tempo de leitura: 4min
Vitória
Publicado em 12/05/2024 às 08h27

Antes de conhecer um pouco dessa história, pense apenas em como o amor pode ser transformador. Os desafios se impõem, mas outros caminhos podem surgir. Foi assim para a cabeleireira Jaqueline Oliveira Santos, 37 anos, mãe de quatro filhos. Mas, até o nascimento do pequeno João Vicente, no último dia 4 de abril, ela estava decidida a entregá-lo para a adoção. Veja mais detalhes no vídeo.

Jaqueline havia terminado um relacionamento em que não se sentia bem e, pouco depois de um mês, descobriu que estava grávida. Ficou desesperada com a nova gestação, mas decidiu mantê-la, mesmo sozinha, para depois fazer a entrega voluntária, como previsto pela legislação, no Estatuto da Criança e do Adolescente, e com procedimentos normatizados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

Sem rede de apoio, a cabeleireira contou apenas para os filhos Juan Pablo, 22 anos, Larissa, 17, e Thainá, 16, sobre a gravidez e o desejo de entregar o bebê quando ele nascesse. Manteve a gestação sob sigilo, até mesmo no trabalho, para onde ia com roupas um pouco mais largas. "Eu nunca escondi. Só não falei. Talvez pensassem que eu estava gorda", lembra Jaqueline, que desenvolveu um quadro depressivo. 

Embora decidida a manter a gravidez, Jaqueline não fez os exames pré-natais para acompanhar o desenvolvimento do bebê. Ela não queria criar vínculos e seguiu sua rotina até o sétimo mês de gestação, quando, finalmente, foi em busca de orientação no Hospital Materno Infantil da Serra. A princípio, foi atendida por telefone porque ainda temia estabelecer qualquer conexão com o filho. Mas a profissional com quem falou a convenceu a ir até a unidade de saúde para começar as avaliações.

"O ultrassom foi feito e o que mais tinha para fazer. Foi quando eu descobri que já estava no sétimo mês de gestação. Eu fui encaminhada dali para outro hospital (Hucam), para que tivesse outro tipo de amparo. Lá, eu faria um pré-natal porque já estava com uma gravidez avançada. Eles iriam correr contra o tempo, porque eu precisava fazer tudo que era para ter feito no início da gravidez", lembra. 

Mesmo deixando claro que não pretendia ficar com a criança, Jaqueline foi informada que tinha direito a desistir da entrega voluntária porque a preferência sempre é manter o filho perto da mãe.  "Mas eu estava bem abatida. Meu psicológico estava bem prejudicado mesmo. Eu só fazia chorar", conta.

Parto

Até que, no dia 2 de abril, Jaqueline foi para o hospital sozinha, com um quadro de diabetes gestacional descontrolado, e ficou internada. Na madrugada de 3 para 4 daquele mês, ela começou a sentir as contrações e seria encaminhada para a sala de pré-parto para uma cesárea, procedimento que, conforme planejado, garantiria a Jaqueline o distanciamento que até então desejava. Mas, no caminho, com uma dor forte, ela pediu para ir ao banheiro. Não deu tempo de chegar ao centro cirúrgico e João Vicente nasceu enquanto Jaqueline estava em pé. Ela precisou ampará-lo, com uma médica, para que não caísse no chão. 

"Ele nasceu e a circunstância do parto não foi como a equipe planejou, não foi como eu planejei, não foi um parto cesárea. Foi um parto normal, natural. Deus fez tudo como tinha que ser: se tivesse tido uma cesárea, eu não teria tido contato com ele. Se tivesse tido parto lá na sala de pré-parto, eles poderiam até tampar para eu também não vê-lo. Então, foi como tinha que ser feito, né?", ressalta.

Para Jaqueline, nada mais importava do que o filho naquele momento. 

Jaqueline Oliveira Santos

Cabeleireira, mãe de João Vicente

"Eu olhava para ele ali e todo aquele sentimento de tristeza, aquela mágoa, tudo, tudo, tudo caiu por terra e eu dei lugar para o amor"

Mas, apesar desse sentimento, a cabeleireira não conseguiu expressar naquele momento que queria reverter a entrega voluntária. Assim, o filho foi levado para outro ambiente no hospital e ela não pôde ter mais contato. Jaqueline teve alta no sábado, 6 de abril, mas já saiu da maternidade desolada por ter deixado o filho para trás.

"Eu chorava, chorava e ficava pensando em todas as possibilidades: 'Quem iria pegar meu filho?' 'Será que quem pegar vai cuidar dele direito?' 'Por que eu não peguei?' Começaram a vir esses questionamentos como mãe, sabe?"

Mas Jaqueline ainda teria que aguardar passar todo o fim de semana e a segunda-feira (8), que foi feriado de Nossa Senhora da Penha, para finalmente conseguir buscar João Vicente e levá-lo para casa.

"No nosso reencontro, o amor falou mais alto. Quando a equipe pediátrica veio trazer ele para mim, quando eu de fato pude pegar ele no meu colo, como meu filho, desabei no choro. Ficava o tempo inteiro pedindo perdão, dizendo 'mamãe te ama, me perdoa, mamãe te ama, me perdoa'. Peguei ele, abraçava e beijava", recorda-se. 

Agora com João Vicente, cujo significado do nome é vitorioso agraciado por Deus, além dos filhos Juan Pablo, Larissa e Thainá, Jaqueline diz que a família finalmente está completa para o Dia das Mães.

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