Marciane, Jadna e Tatiana: mulheres que deram a volta por cima após os 40 anos
Marciane, Jadna e Tatiana: mulheres que deram a volta por cima após os 40 anos. Crédito: Caroline Freitas e Acervo pessoal

Conheça histórias de mulheres que deram a volta por cima após os 40

Para elas, não há peso da idade que as impeça de voltar aos estudos, mudar de profissão ou investir em uma nova área de atuação

Tempo de leitura: 5min
Vitória
Publicado em 18/03/2023 às 19h43

Em alguns casos, é a percepção da passagem de tempo. Em outros, um acontecimento que muda tudo. O fato é que cada vez mais mulheres têm buscado desengavetar sonhos e projetos e reinventar a própria vida após os 40 anos, mostrando que a idade nunca foi um obstáculo para ir atrás dos objetivos.

Jadna Pereira de Araújo D’Ávila, 46 anos, conta que sua jornada tem sido focada, desde o começo, no empreendedorismo. Ela trabalhava, sobretudo, no ramo do vestuário. Primeiro, comprando e revendendo roupas. Depois, abrindo lojas próprias e confeccionando peças.

“Vim de uma família muito pobre. Conforme as crianças foram chegando na minha vida, eu não podia sair para trabalhar fora. Então, comecei a ver o que eu poderia fazer para ficar próximo às crianças. Com isso, abri um ateliê onde havia brechó, roupas que comprava em São Paulo e costura. Depois, comecei a ver os nichos que tinham procura e passei a fazer camisetas. Agreguei maquinário, material de sublimação. Isso foi crescendo e fui abrindo outras lojas”, conta Jadna.

Jadna Pereira de Araújo D’Ávila trocou a confecção pelo marketing digital. Crédito: Acervo pessoal
Jadna Pereira de Araújo D’Ávila trocou a confecção pelo marketing digital. Crédito: Acervo pessoal

Quando a pandemia veio, em 2020, havia três unidades espalhadas por Vitória. Com a falta de demanda e a crise persistente, as lojas em Santa Lúcia e Jardim Camburi foram fechadas e a unidade restante, na Avenida Vitória, teve quase todos os funcionários demitidos.

“O foco da loja eram roupas para eventos, mas parou tudo. Então, como é que se faz? O que se inventa? Você vê que já está numa idade em que fica mais complicado procurar emprego. No meio disso, fiquei doente, tive câncer. Nessas horas, você pensa: o que vou fazer da vida? Então, parei e decidi que ia fazer um novo curso.”

Hoje, recuperada da doença, estuda marketing digital e conta que a meta para o futuro é abrir uma agência própria.

“Não posso ficar só aguardando as coisas acontecerem. Estou buscando um outro nicho. Estou me reinventando em uma coisa que gosto de fazer e que tem mercado. Estou me preparando para esse futuro, que é o marketing digital. Por que entregar os pontos? Estamos com 46, mas não morremos. Temos ainda muito que viver”, afirma.

A idade também não foi impeditivo para que Marciane Pereira dos Santos, 40 anos, iniciasse uma formação de nível superior.

Em 2018, aos 36 anos, foi vitima de uma tentativa de assassinato pelo ex-marido, que botou fogo nela por não aceitar a separação. Ela teve mais de 40% do corpo queimado e hoje depende de uma cadeira de rodas para se locomover. Antes do crime, trabalhava como diarista, mas conta que a vontade era outra. Queria ser assistente social ou estudar algo relacionado à gastronomia.

Marciane Pereira dos Santos ingressou no curso de serviço social
Marciane Pereira dos Santos ingressou no curso de Serviço Social. Crédito: Caroline Freitas

Deixou o sonho para trás, enquanto ainda trabalhava como doméstica., porque ouviu que não adiantaria nada estudar se continuasse sendo empregada. “Eu desisti e continuei cuidando da filha da patroa, ajudando a realizar os sonhos dela”, lembra.

A jornada não é simples. Há algumas semanas, em um vídeo que viralizou na internet, jovens alunas de uma universidade do interior de São Paulo debocharam de uma estudante de 45 anos, dizendo dizendo que a colega não poderia estar fazendo curso superior, por ser mais velha. “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião”, disse uma das garotas, no vídeo que acumulou milhões de visualizações.

E, mesmo com o preconceito, a vítima do deboche continuou o curso. O mesmo vale para Marciane, que hoje, mais velha e em condições de vida bem diferentes das que tinha antes do atentado sofrido em 2018, retomou o sonho e cursa o segundo período de Serviço Social, na modalidade de EAD (Educação a Distância). A rotina não é fácil, mas ela insiste: “Não desistam, mulheres.”

Quem também mudou a rotina foi Tatiana Mareto, de 45 anos. Moradora de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, professora e advogada, ela conta que, embora escreva “desde sempre”, foi somente em 2018, aos 41 anos, que decidiu se profissionalizar, também, como escritora.

“Eu sou escritora, depois professora, depois advogada. Digo assim porque comecei a escrever muito jovem ainda, por volta dos 12 anos. Não publicava nada porque, na época, eu escrevia para mim, para saciar uma vontade. Eu nem mesmo contava para as pessoas que escrevia. Aos 18 anos, comecei a lecionar em escolas de idiomas e só aos 26 me tornei advogada.”

A rotina foi mudando ao longo dos anos. Esbarrou nas dificuldades em ser aceita por uma editora e começou a se aventurar na publicação independente, por meio de um serviço de autopublicação que permite distribuir e-books por conta própria.

Tatiana Mareto é escritora, professora e advogada
Professora e advogada, Tatiana Mareto decidiu se profissionalizar como escritora após os 40 anos. Crédito: Acervo pessoal

Embora já escrevesse romances, ainda não se considerava profissional. Fazia quando dava, porque não era como pagava as contas. Em 2018, durante o doutorado, conheceu outras autoras capixabas que passavam por problemas parecidos e também ansiavam por ganhar dinheiro com a própria arte.

“Fiz amizades no meio literário e, como estava escrevendo uma tese e precisando de uma válvula de escape, decidi que queria ser uma autora de livros, ao invés de apenas uma escritora de histórias. Nessa época, eu tinha 41 anos e não reduzi um dia da minha jornada de trabalho. Acrescentei a escrita. Comecei a estudar mais, a planejar mais, a estruturar lançamentos pensando no mercado e, em 2019, lancei um romance chamando ‘Um Duque para Chamar de Meu’”, destaca Tatiana.

O livro, postado em uma plataforma de autopublicação, alavancou sua carreira e, hoje, Tatiana é lida nacionalmente. Aos 42 anos, tomou a decisão de se dedicar à publicação como trabalho e assumir uma nova carreira, o que refletiu inclusive na jornada de trabalho formal, que precisou ser reduzida para se ajustar a essa nova realidade.

“A idade, para mim, nunca pesou para decidir mudar, dar essa guinada na minha carreira. Eu sou muito bem resolvida e confesso que a idade me conferiu a maturidade necessária para lidar com o mercado literário, que é repleto de frustrações e dificuldades, como todo trabalho acaba sendo. Eu sabia o que queria e entendia os riscos. Aos 20, eu tinha 'o sonho' de publicar um livro. Mas, aos 40, tomei decisões racionais e entendi que ser uma autora publicada é um trabalho e precisava ser encarado com profissionalismo.”

Tatiana Mareto

Escritora, professora e advogada

"Se eu tiver que dizer algo para pessoas que, como eu, estão com aquela ânsia de mudar, de começar de novo, de iniciar uma carreira totalmente diferente é: não deixem que a virada dos 40 seja um obstáculo. Não existe um 'tarde demais' para mudarmos aquilo que nos deixa desconfortáveis e buscarmos melhores oportunidades. A idade cronológica não nos define e, ao contrário, normalmente nos confere maturidade para tomarmos melhores decisões "

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