Considerado um grave problema de saúde pública no país, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres e a segunda enfermidade oncológica que mais causa mortes no Brasil, atrás apenas do câncer de pulmão. No Espírito Santo — infelizmente — essa realidade não é diferente: a doença foi responsável por 385 mortes em 2023 e por 237 óbitos de janeiro a agosto de 2024.
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Número de diagnósticos de câncer de mama no ES em 2024
Dado, que conta de janeiro a setembro, é equivalente a mais de duas confirmações da doença a cada dia entre moradoras do Estado.
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Diagnósticos de câncer de mama no ES em 2023
Número é equivalente a quatro casos por dia da doença entre as mulheres do Estado.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o esperado para o triênio de 2023 a 2025 é que sejam diagnosticados cerca de 900 novos casos a cada ano no Estado, com risco estimado de 42,2 casos para cada 100 mil mulheres. Em 2023, o sistema de saúde contabilizou 1.392 internações pela doença no Espírito Santo.
Os números, apesar de negativos, também são acompanhados por histórias de superação e luta em busca da cura. Entre as mulheres que passam pelo tratamento, fé, conscientização e autoconhecimento andam lado a lado. Já para os profissionais de saúde, além das práticas de prevenção, é necessária a mudança de mentalidade na sociedade para que os dados da doença não aumentem de forma drástica.
Na luta contra a doença, fé e família são os pilares de força
“Eu descobri o câncer de mama em 2019, justamente durante uma ação de conscientização sobre a doença. Naquele momento, ao invés da dor, senti que era uma fase para ver a vida com mais alegria e gratidão”, lembra a aposentada Zenilda Pereira de 64 anos, que passou pelo tratamento contra o câncer por quatro anos.
Para ela, que é paciente do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Vitória, o cuidado da equipe médica foi fundamental para o processo de cura. No hospital, a cada mês, cerca de 320 pacientes realizam exames e acompanhamentos para prevenção contra o câncer. Nos corredores, mulheres de variadas idades se encontram e compartilham os momentos de desafios, conquistas e reviravoltas diante da doença.
“Hoje eu tenho 42 anos, mas, com 38, descobri um nódulo em uma das mamas. Fiz todos os processos necessários e descobri que era benigno. Agora, depois de tudo isso, descobri um novo nódulo na mama que não operei”, conta a agente socioeducativa Vanessa Soares.
Ela explica que ainda não sabe se o novo tumor é maligno ou benigno, mas afirma que, em meio a um acompanhamento que gera ansiedade e angústia, a “fé e o apoio familiar são os pilares para a luta diária contra o câncer”.
“O mais desafiador é olhar para minha casa e ver meus dois filhos, de 10 e 6 anos, e sentir medo de morrer deixando eles aqui. Mas, para passar por isso, me apego primeiramente em Deus. Eu já perdi uma amiga para a doença depois de passar por todo o processo de acompanhamento junto com ela. São dores que não desejo para ninguém”, pontua a paciente.
Vanessa Soares
Agente socioeducativa e paciente do Hucam de Vitória no tratamento contra o câncer de mama
"O que deixo para as outras mulheres que podem estar passando pelo mesmo que eu é que não percam a fé e que se cuidem sempre"
Entre todas as pacientes, o recado para as outras mulheres é o mesmo: que se cuidem e observem o próprio corpo. Há dez anos, a doméstica Maria Tereza faz acompanhamento contra a doença, que foi descoberta após um “grão de arroz ser sentido” na mama.
“Logo que senti aquele ‘grãozinho’ no peito procurei pela mastologia, fiz a ultrassonografia e, em um mês, fiz a cirurgia. É uma descoberta dura e que mexe com nossa cabeça, mas, mesmo assim, é ideal que as mulheres se conheçam e procurem ajuda o quanto antes diante de qualquer desconfiança”, diz Maria.
Nos corredores do hospital, a reportagem de A Gazeta também encontrou Helida Luzia, uma das funcionárias do local que, por anos, foi a responsável por preparar exames, dar assistência em emergências e por gerir medicações de variados casos. Entretanto, em 2017, a técnica de enfermagem acabou se tornando uma das pacientes do setor de oncologia.
“Na minha família, uma tia teve o câncer há 30 anos e minha irmã teve há 14 anos. É algo hereditário que trato com confiança e atenção para um acompanhamento seguro. Já passei por cirurgia, por radioterapia e hoje faço inúmeros exames e acompanhamento com medicamento para superar tudo”, detalha Helida, salientando que o cuidado constante é a melhor ferramenta para evitar complicações e o retorno da doença.
Ferramentas para combate
Márcia Valéria, professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), destaca que os cuidados contra o câncer de mama vão além do autoexame e de mamografias. Segundo a profissional da saúde, a mudança de hábitos no dia a dia é a chave para uma vida mais saudável e longe dos cânceres que assolam milhares de famílias a cada ano no Espírito Santo.
“É essencial que as pessoas tenham um olhar atento e amplo sobre os alimentos que consomem, sobre a prática de atividades físicas e sobre o consumo de álcool e tabaco. São pontos que, aliados aos exames de prevenção, aumentam as chances de cura”, defende Márcia.
De acordo com a especialista, é recomendado que mulheres a partir dos 40 anos já procurem pela mamografia.
“Quanto mais cedo a descoberta, maiores são as chances de cura. Essa informação para mulheres na casa dos 40 anos deve ser mais divulgada para maior conscientização sobre a doença e para diminuição das mortes entre elas”, pondera Márcia.
A professora ainda lembrando que o câncer de mama é uma doença que também afeta os homens. No Espírito Santo, foram sete óbitos registrados entre eles no ano passado e um óbito em 2024.
Apesar de ser raro entre a parcela masculina da população, o câncer de mama tem apresentado crescimento entre os homens de 65 a 70 anos, que também podem procurar informações e auxílio sobre a doença em postos médicos.
Onde procurar ajuda contra o câncer de mama no Espírito Santo?
Segundo o mastologista Cleverson Gomes, o primeiro passo das mulheres na busca pelo tratamento deve ser dado nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de seus bairros. Após a avaliação primária, as pacientes são encaminhadas para as zonas de tratamento especializado, independentemente do grau da doença.
“Desde o momento em que chega ao hospital classificada para tratamento, a mulher passa por um acompanhamento completo até a cura. Recebemos pacientes de vários locais, com variadas idades e histórias, mas trabalhamos caso a caso para os melhores resultados”, frisa o médico.
“Após a primeira mamografia com 40 anos, é ideal que essas mulheres façam o exame a cada ano. Felizmente, hoje em dia, a cura do câncer de mama alcança bons números, mas isso depende de uma detecção precoce. As mulheres não podem perder tempo. É importante que saibam que, se a doença for descoberta o quanto antes, elas têm mais de 90% de chance de cura”, complementa Cleverson.
No Espírito Santo, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), pelo menos sete hospitais da rede pública são qualificados para a realização do tratamento contra a doença, sendo que quatro ficam na Grande Vitória e três em outras regiões capixabas.
- Hospital Santa Rita de Cássia, em Vitória (classificado como Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia conveniada ao SUS;
- Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (HECI) – instituição filantrópica, conveniada ao SUS;
- Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Vitória – instituição pública federal, vinculada à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes);
- Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória (HSCMV) – instituição filantrópica, conveniada ao SUS, vinculada à instituição de ensino Emescam;
- Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV) – instituição filantrópica, conveniada ao SUS, vinculada à instituição de ensino Univix;
- Hospital Maternidade São José (HMSJ), em Colatina – instituição filantrópica, vinculada ao SUS;
- Hospital Rio Doce, em Linhares – instituição filantrópica, vinculada ao SUS.
No Estado, o exame de rastreamento por mamografia já é disponibilizado para todas as mulheres a partir dos 40 anos. Segundo a Sesa, a ação é voltada para a garantia de mais cuidados e para o aumento de diagnósticos precoces do câncer de mama.
Em geral, os sinais e sintomas do câncer de mama podem incluir desde nódulos ou massas palpáveis nas mamas ou axilas; mudanças no tamanho ou formato das mamas; alterações na pele, como vermelhidão ou aspecto de casca de laranja; até a secreção anormal dos mamilos. É vital que as mulheres estejam atentas a esses sinais e procurem assistência médica imediatamente ao perceber qualquer alteração.
"O tratamento do câncer de mama varia conforme o estágio e as características do tumor e pode incluir a cirurgia com a remoção do tumor, nódulo ou mama, o uso da radioterapia como forma de eliminação das células cancerígenas, a quimioterapia e a terapia hormonal, utilizada em casos onde o câncer é sensível a hormônios", divulga a Sesa.
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