Vanessa, Maria Tereza, Zenilda e Helida: pacientes que lutam contra o câncer de mama
Vanessa, Maria Tereza, Zenilda e Helida: pacientes que lutam contra o câncer de mama. Crédito: Fernando Madeira

Dois casos por dia no ES: mulheres revelam batalha contra o câncer de mama

Pacientes no Estado que lutam contra a enfermidade dizem que "fé e família" são os pilares durante o tratamento da doença

Tempo de leitura: 7min
Vitória
Publicado em 31/10/2024 às 16h20

Considerado um grave problema de saúde pública no país, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres e a segunda enfermidade oncológica que mais causa mortes no Brasil, atrás apenas do câncer de pulmão. No Espírito Santo — infelizmente — essa realidade não é diferente: a doença foi responsável por 385 mortes em 2023 e por 237 óbitos de janeiro a agosto de 2024.

  1. 740

    Número de diagnósticos de câncer de mama no ES em 2024

    Dado, que conta de janeiro a setembro, é equivalente a mais de duas confirmações da doença a cada dia entre moradoras do Estado.

  2. 1.482

    Diagnósticos de câncer de mama no ES em 2023

    Número é equivalente a quatro casos por dia da doença entre as mulheres do Estado.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o esperado para o triênio de 2023 a 2025 é que sejam diagnosticados cerca de 900 novos casos a cada ano no Estado, com risco estimado de 42,2 casos para cada 100 mil mulheres. Em 2023, o sistema de saúde contabilizou 1.392 internações pela doença no Espírito Santo.

Os números, apesar de negativos, também são acompanhados por histórias de superação e luta em busca da cura. Entre as mulheres que passam pelo tratamento, fé, conscientização e autoconhecimento andam lado a lado. Já para os profissionais de saúde, além das práticas de prevenção, é necessária a mudança de mentalidade na sociedade para que os dados da doença não aumentem de forma drástica.

Na luta contra a doença, fé e família são os pilares de força

Zenilda Pereira descobriu o câncer de mama em 2019
Zenilda Pereira faz acompanhamento mensal no hospital contra o câncer de mama. Crédito: Fernando Madeira

“Eu descobri o câncer de mama em 2019, justamente durante uma ação de conscientização sobre a doença. Naquele momento, ao invés da dor, senti que era uma fase para ver a vida com mais alegria e gratidão”, lembra a aposentada Zenilda Pereira de 64 anos, que passou pelo tratamento contra o câncer por quatro anos.

Para ela, que é paciente do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Vitória, o cuidado da equipe médica foi fundamental para o processo de cura. No hospital, a cada mês, cerca de 320 pacientes realizam exames e acompanhamentos para prevenção contra o câncer. Nos corredores, mulheres de variadas idades se encontram e compartilham os momentos de desafios, conquistas e reviravoltas diante da doença.

“Hoje eu tenho 42 anos, mas, com 38, descobri um nódulo em uma das mamas. Fiz todos os processos necessários e descobri que era benigno. Agora, depois de tudo isso, descobri um novo nódulo na mama que não operei”, conta a agente socioeducativa Vanessa Soares.

Ela explica que ainda não sabe se o novo tumor é maligno ou benigno, mas afirma que, em meio a um acompanhamento que gera ansiedade e angústia, a “fé e o apoio familiar são os pilares para a luta diária contra o câncer”.

Vanessa Soares chegou a perder uma amiga para o câncer de mama e descobriu a doença por duas vezes
Vanessa Soares diz que fé e apoio familiar são pilares para a luta diária contra o câncer. Crédito: Fernando Madeira

“O mais desafiador é olhar para minha casa e ver meus dois filhos, de 10 e 6 anos, e sentir medo de morrer deixando eles aqui. Mas, para passar por isso, me apego primeiramente em Deus. Eu já perdi uma amiga para a doença depois de passar por todo o processo de acompanhamento junto com ela. São dores que não desejo para ninguém”, pontua a paciente.

Vanessa Soares

Agente socioeducativa e paciente do Hucam de Vitória no tratamento contra o câncer de mama

"O que deixo para as outras mulheres que podem estar passando pelo mesmo que eu é que não percam a fé e que se cuidem sempre"

Entre todas as pacientes, o recado para as outras mulheres é o mesmo: que se cuidem e observem o próprio corpo. Há dez anos, a doméstica Maria Tereza faz acompanhamento contra a doença, que foi descoberta após um “grão de arroz ser sentido” na mama.

“Logo que senti aquele ‘grãozinho’ no peito procurei pela mastologia, fiz a ultrassonografia e, em um mês, fiz a cirurgia. É uma descoberta dura e que mexe com nossa cabeça, mas, mesmo assim, é ideal que as mulheres se conheçam e procurem ajuda o quanto antes diante de qualquer desconfiança”, diz Maria.

Maria Tereza conta sobre sua luta contra o câncer sem mostrar desânimo diante da doença
Maria Tereza relata sua luta contra o câncer sem mostrar desânimo diante da doença. Crédito: Fernando Madeira

Nos corredores do hospital, a reportagem de A Gazeta também encontrou Helida Luzia, uma das funcionárias do local que, por anos, foi a responsável por preparar exames, dar assistência em emergências e por gerir medicações de variados casos. Entretanto, em 2017, a técnica de enfermagem acabou se tornando uma das pacientes do setor de oncologia.

Helida Luzia é técnica de enfermagem no Hucam e, com a descoberta do câncer, também se tornou uma das pacientes
Helida Luzia é técnica de enfermagem no Hucam e, com a descoberta do câncer, também se tornou uma das pacientes. Crédito: Fernando Madeira

“Na minha família, uma tia teve o câncer há 30 anos e minha irmã teve há 14 anos. É algo hereditário que trato com confiança e atenção para um acompanhamento seguro. Já passei por cirurgia, por radioterapia e hoje faço inúmeros exames e acompanhamento com medicamento para superar tudo”, detalha Helida, salientando que o cuidado constante é a melhor ferramenta para evitar complicações e o retorno da doença.

Ferramentas para combate

Márcia Valéria, professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), destaca que os cuidados contra o câncer de mama vão além do autoexame e de mamografias. Segundo a profissional da saúde, a mudança de hábitos no dia a dia é a chave para uma vida mais saudável e longe dos cânceres que assolam milhares de famílias a cada ano no Espírito Santo.

“É essencial que as pessoas tenham um olhar atento e amplo sobre os alimentos que consomem, sobre a prática de atividades físicas e sobre o consumo de álcool e tabaco. São pontos que, aliados aos exames de prevenção, aumentam as chances de cura”, defende Márcia.

Márcia Valéria, professora do Departamento de Enfermagem da Ufes
Márcia Valéria destaca importância das mudanças de hábito no dia a dia para evitar a doença. Crédito: Fernando Madeira

De acordo com a especialista, é recomendado que mulheres a partir dos 40 anos já procurem pela mamografia.

“Quanto mais cedo a descoberta, maiores são as chances de cura. Essa informação para mulheres na casa dos 40 anos deve ser mais divulgada para maior conscientização sobre a doença e para diminuição das mortes entre elas”, pondera Márcia.

A professora ainda lembrando que o câncer de mama é uma doença que também afeta os homens. No Espírito Santo, foram sete óbitos registrados entre eles no ano passado e um óbito em 2024.

Apesar de ser raro entre a parcela masculina da população, o câncer de mama tem apresentado crescimento entre os homens de 65 a 70 anos, que também podem procurar informações e auxílio sobre a doença em postos médicos.

Onde procurar ajuda contra o câncer de mama no Espírito Santo?

Segundo o mastologista Cleverson Gomes, o primeiro passo das mulheres na busca pelo tratamento deve ser dado nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de seus bairros. Após a avaliação primária, as pacientes são encaminhadas para as zonas de tratamento especializado, independentemente do grau da doença.

“Desde o momento em que chega ao hospital classificada para tratamento, a mulher passa por um acompanhamento completo até a cura. Recebemos pacientes de vários locais, com variadas idades e histórias, mas trabalhamos caso a caso para os melhores resultados”, frisa o médico.

Para o mastologista Cleverson Gomes, cada caso deve ser acompanhado de perto na busca pela cura das mulheres
O mastologista Cleverson Gomes diz que cada caso deve ser acompanhado de perto na busca pela cura das mulheres. Crédito: Fernando Madeira

“Após a primeira mamografia com 40 anos, é ideal que essas mulheres façam o exame a cada ano. Felizmente, hoje em dia, a cura do câncer de mama alcança bons números, mas isso depende de uma detecção precoce. As mulheres não podem perder tempo. É importante que saibam que, se a doença for descoberta o quanto antes, elas têm mais de 90% de chance de cura”, complementa Cleverson.

No Espírito Santo, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), pelo menos sete hospitais da rede pública são qualificados para a realização do tratamento contra a doença, sendo que quatro ficam na Grande Vitória e três em outras regiões capixabas.

  • Hospital Santa Rita de Cássia, em Vitória (classificado como Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia conveniada ao SUS;

  • Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (HECI) – instituição filantrópica, conveniada ao SUS;

  • Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Vitória – instituição pública federal, vinculada à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes);

  • Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória (HSCMV) – instituição filantrópica, conveniada ao SUS, vinculada à instituição de ensino Emescam;

  • Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV) – instituição filantrópica, conveniada ao SUS, vinculada à instituição de ensino Univix;

  • Hospital Maternidade São José (HMSJ), em Colatina – instituição filantrópica, vinculada ao SUS;

  • Hospital Rio Doce, em Linhares – instituição filantrópica, vinculada ao SUS.

No Estado, o exame de rastreamento por mamografia já é disponibilizado para todas as mulheres a partir dos 40 anos. Segundo a Sesa, a ação é voltada para a garantia de mais cuidados e para o aumento de diagnósticos precoces do câncer de mama.

Em geral, os sinais e sintomas do câncer de mama podem incluir desde nódulos ou massas palpáveis nas mamas ou axilas; mudanças no tamanho ou formato das mamas; alterações na pele, como vermelhidão ou aspecto de casca de laranja; até a secreção anormal dos mamilos. É vital que as mulheres estejam atentas a esses sinais e procurem assistência médica imediatamente ao perceber qualquer alteração.

"O tratamento do câncer de mama varia conforme o estágio e as características do tumor e pode incluir a cirurgia com a remoção do tumor, nódulo ou mama, o uso da radioterapia como forma de eliminação das células cancerígenas, a quimioterapia e a terapia hormonal, utilizada em casos onde o câncer é sensível a hormônios", divulga a Sesa.

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