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Empresária Nina Silva explica os desafios da mulher preta para empreender

Empresária Nina Silva explica os desafios da mulher preta para empreender

Idealizadora do Movimento Black Money acredita que inovar significa desenvolver maneiras para otimizar recursos e impactar o maior número de pessoas

Publicado em 20 de julho de 2024 às 18:21

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Nina Silva, idealizadora do Movimento Black Money
Nina Silva, idealizadora do Movimento Black Money. (Sebrae / Divulgação)

“ A gente precisa parar de romantizar algumas coisas em relação à inclusão. Se todo mundo fizesse o que fosse certo, a gente não teria a desigualdade que nós temos.” A afirmação é de Nina Silva, eleita a Mulher Mais Disruptiva do Mundo, em 2021, pela Women in Tech.

Ela é idealizadora e sócia do Movimento Black Money, uma plataforma de afroempreendedorismo que conecta pessoas negras do marketplace e consumidores, abre oportunidades de educação e crédito e desenvolve ações de inclusão racial para empresas parceiras.

Em entrevista para A Gazeta, Nina Silva fala sobre a participação de mulheres negras na área de tecnologia, os desafios das mulheres pretas no empreendedorismo e um pouco sobre o movimento criado por ela. Confira:

As mulheres negras e indígenas são apenas 11% dos profissionais de empresas de tecnologia no Brasil, mesmo sendo 28% da população. Quais são as principais barreiras que as mulheres que sonham em ter uma carreira nesse setor enfrentam e devem enfrentar nas próximas décadas?

Quando a gente fala de mercado de tecnologia, ainda fala de um espaço de poder, aquele onde há os melhores salários. Nesses locais, há a possibilidade de se ter uma mobilidade social e dar uma outra realidade para as famílias. Entretanto, esses espaços são protegidos e ocupados majoritariamente por homens brancos e cisgêneros. Dificilmente conseguimos, a partir das nossas redes, abrir todos os lugares e trazer todo o aparato tecnológico para dar apoio a mais mulheres, pessoas pretas, indígenas e trans dentro da área. O que fazemos é tentar criar os nossos próprios meios e nossas formações, para além de dar a representação, e ter uma Nina ou outras pessoas diversas nesse lugar, precisamos dar o caminho, criar pontes. E hoje falta incentivo para que essas pontes sejam realmente construídas para um impacto. Somos 28.7% de mulheres negras no Brasil e é o maior contingente populacional. Imagine o quanto que eu preciso para trazer uma escola de tecnologia, uma formação de cursos profissionalizante para essas mulheres pretas e indígenas. Eu preciso de fomento, de dinheiro e de incentivo. Quem está sentado lá, ganhando esses altos salários, não quer que elas estejam lá. Essa é a grande problemática, são esses que têm o dinheiro para isso.

Por que isso ocorre?

Porque o poder não se cede. Quem tem o poder não sai dele. A gente precisa parar de romantizar algumas coisas em relação à inclusão. Se todo mundo fizesse o que fosse certo, a gente não teria a desigualdade que nós temos. O sistema trabalha em cima de alguns grupos para ganhar pela inferiorização de outros. A gente precisa dessa intencionalidade, desse reequilíbrio de poder, para que todo mundo tenha a oportunidade de maneira igualitária para chegar em todos os espaços, inclusive o de poder. Quando a gente fala de menores aprendizes, a gente consegue incluir meninas negras no programa, mas quando se fala em trainee exclusivo para pessoas pretas, vem toda uma sociedade contra. E por que isso? Porque esse trainee vai ser acelerado para chegar num cargo mais alto e essa função mais alta é um cargo de poder. Quando a gente fala em mudar as estruturas, a coisa fica mais densa e complicada de se trabalhar e precisa de uma intencionalidade real, de quem está fazendo realmente para mudar e não simplesmente porque parece bonito para minha marca.

Como você avalia o impacto das novas tecnologias — especialmente da inteligência artificial — no contexto do combate ao racismo e ao fomento da inclusão? Eles tendem a ser mais inclusivos ou potencializam o racismo? Como torná-las ferramentas de ascensão para as pessoas negras?

Quando a gente entende que tecnologias são ferramentas, que dependem do ser humano, então elas podem ser empregadas para aumentar a desigualdades. Tudo vai depender das pessoas que estão por trás da intencionalidade. Na inteligência artificial, se nós tivermos pessoas que estão embarcando em qualquer negócio, em pequenos negócios, eu facilito muita das vezes um afroempreendedor a ter uma ferramenta que vai potencializar o negócio dele, porque ele não precisa é imediatamente ter recursos para poder contratar um social mídia, um copywriting, ou um designer. Para isso, ele precisa dessa ferramenta disponível a todos. Não se trata da IA tirar ou dar emprego ou uma oportunidade. Trata-se de quem detém essas tecnologias democratizar o acesso a elas. Hoje, o trabalho que a gente tenta desenvolver é oferecer mais cursos, que estejam inseridos na nova economia para que cheguem a mais pessoas. Porque se as ferramentas e os dados estiverem apenas em determinadas mãos a gente vai aumentar o fluxo de desigualdade. Se a gente consegue distribuir isso e fazer com que pessoas diversas programem, desenhem linhas de códigos, pensem e identifiquem algoritmos, pessoas que estão hoje racistas porque representam comportamentos passados, teremos uma inteligência possivelmente generativa, gerando a partir do pensamento de todo mundo e não só de um pensamento arcaico de um único grupo.

Nina Silva. idealizadora do Movimento Black Money
Nina Silva. idealizadora do Movimento Black Money. (Sebrae / Divulgação)

Quais são os principais desafios na hora de empreender para uma mulher negra?

É tudo, né? Sair de casa, estar viva, sair para trabalhar, entre outros pontos. Hoje, o meu foco é trabalhar aquele que precisa de foco, falar de capital e de recursos, da intencionalidade que essa mulher precisa de dinheiro para alavancar seu negócio, além de trilhas de conhecimento. Minha mãe com a quarta série do antigo ensino fundamental ensinou muito mais de budget (orçamento) do que qualquer pessoa rica da internet. Não é sobre a formação dessas mulheres, é o que elas precisam na sua caminhada para colocarem as suas tecnologias ancestrais, os seus saberes a serviço dos seus objetivos e do impacto que elas querem causar. Para mim, um dos principais desafios é incentivo, investimento, dinheiro na mesa. Isso porque quem tem esse dinheiro na maioria das vezes não se vê igual a essas mulheres negras. Nós, mulheres negras, podemos potencializar umas às outras com os poucos recursos que temos, mas principalmente com as nossas inteligências, com o nosso capital social, com o nosso capital intelectual e trazendo dinheiro para mesa quando a gente sabe de onde vem. 

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Minha tentativa é sempre destravar esses caminhos e trazer pessoas investidoras, que realmente queiram investir em algo que dê certo e algo que traga rentabilidade.

Nina Silva
Empresária
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Qual a melhor maneira de transformar o empreendedorismo feminino em oportunidades?

O importante é que cada mulher identifique e entenda o que a motiva e incentiva no dia a dia, de acordo com os seus propósitos e no que você realmente acredita. A ideia é explorar a criação e o engajamento da comunidade a partir das suas verdades. Os espaços, hoje, são desiguais, mas a gente precisa utilizar essa desigualdade como oportunidade de negócio, de crescimento e de conexões. As mulheres precisam se conectar e criar coisas novas para outras mulheres, utilizando também dos seus talentos e dos seus sonhos.

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