O número de mamografias feitas no Estado caiu 57% em relação ao ano passado, segundo dados do Datasus. Entre janeiro e agosto de 2019, foram registrados 63,9 mil procedimentos que detectam o câncer de mama, no mesmo período deste ano foram 27,2 mil.
O exame amplamente disponível é o mais eficaz na detecção precoce de lesões cancerígenas nas mamas. Sem ele, especialistas apontam, a descoberta do câncer acaba sendo adiada, o que reduz bastante a possibilidade de cura.
Segundo a ginecologista e chefe do Programa de Saúde da Mulher do Hucam, Neide Boldrini, os diagnósticos tinham aumentado nos anos anteriores. Porém, com a pandemia do coronavírus, que forçou a população a permanecer em casa e cancelou consultas e exames eletivos, as pacientes têm chegado ao hospital já em estágios avançados da doença.
"Muitas pessoas não tiveram a chance de fazer os exames de rastreamento no início do ano. Temos pegado cânceres de tamanhos maiores, em estágios mais avançados do que tínhamos visto no ano passado. E isso faz muita diferença. Quando você pega um tumor menor tem chance de fazer uma cirurgia que é menos complexa e é também menor a chance de que o tumor tenha feito metástase para os linfonodos", explica.
Dados da Sociedade Brasileira de Mastologia apontam que uma mulher em cada 12 será diagnosticada com câncer de mama durante a vida. Para a America Cancer Society, a prevalência da doença é ainda maior, acometendo uma em cada oito mulheres que vivem até os 75 anos.
Olhando para nossas mães, tias, amigas e colegas de trabalho fica evidente que a doença está muito mais perto do que a gente pensa. E como, para a maior parte da população, é impossível prever quando e se ela vai se manifestar, a única maneira de enfrentá-la é com o diagnóstico precoce.
"O objetivo principal é detectar lesões milimétricas, com menos de um centímetro, porque elas têm praticamente cura total. Em raríssimas exceções não se tem curas com lesões desse tamanho", afirma a médica mastologista e mestre em radiologia mamária Claudia Mameri.
Contudo, os dados do Ministério da Saúde mostram que, mesmo no período pré-pandemia, a proporção de mulheres que fazem esse exame ainda é baixa. Em 2019, no Espírito Santo, apenas 11% das mulheres em idade recomendada para fazer a mamografia anualmente (a partir de 40 anos) realizaram o exame.
Ainda que haja uma grande variação entre municípios quanto à cobertura desse recurso, a porcentagem de mulheres que fizeram a mamografia naquele ano não ultrapassou os 30% em nenhum deles.
Em 2020, menos de 2% das mulheres com mais de 40 anos fizeram a mamografia em metade dos municípios capixabas.
OS MÉTODOS PARA DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE MAMA
A ciência e os serviços médicos já evoluíram bastante tanto na tecnologia usada nos exames quanto na disponibilização delas para a população. Contudo, especialistas concordam que para detectar esses amontoados de células cancerígenas tão pequenos na população em geral, o método com melhor custo-benefício ainda é a mamografia tradicional.
"Muitas mulheres ainda não fazem regularmente a prevenção que é feita com a mamografia uma vez por ano. Pacientes sem risco, que não têm parentes de primeiro grau com câncer de mama, devem iniciar a mamografia aos 40 anos", ressalta Boldrini.
Contudo, para pacientes que tenha risco familiar ou genético, ou seja, mulheres que tenham muitos casos da doença entre parentes próximos, é necessário começar esses exames antes.
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"Por exemplo, se a mãe teve câncer aos 38 anos, a paciente precisa começar dez anos antes, aos 28 anos. E tem que ser com um método altamente sensível como é a ressonância magnética", afirma Mameri.
Algumas dessas mulheres podem ainda optar por fazer o exame que identifica marcadores genéticos específicos que apontam para uma chance muito maior de desenvolver a doença. Esse exame, contudo, não está disponível pelo SUS e é coberto apenas por alguns planos de saúde.
A ginecologista do Hucam aponta ainda que ele só deve ser realizado como objetivo de promover ações que irão reduzir de fato as chances de que essa mulher desenvolva o câncer no futuro, como a retirada das glândulas mamárias, por exemplo.
Caso contrário, a realização do exame "só para saber o resultado" pode causar mais angústia na paciente, o que não é benéfico.
De toda forma, a Sociedade Brasileira de Mastologia afirma que apenas entre 10% a 20% dos casos de câncer de mama no Brasil têm origem genética.
ULTRASSOM NÃO SUBSTITUI MAMOGRAFIA
O exame de ultrassom, que também faz parte do aparato médico para detectar o câncer de mama - e muitas vezes preferido pelas pacientes por ser mais confortável - não pode ser usado como único recurso.
Ele precisa sempre ser acompanhado por outros exames como a própria mamografia ou a tomossíntese, um tipo de mamografia feita em um tomógrafo que é mais preciso mas não está disponível na rede pública.
"A ultrassonografia sozinha tem sensibilidade em torno de 30% para lesões pequenas. A chance de erro é de 70%. Não faz sentido, vai dar uma falsa sensação de proteção", aponta a mastologista Claudia Mameri.
AUTOEXAME NÃO É EFICAZ
Já o autoexame das mamas, muito popular no passado, figurando até em campanhas na televisão, não é indicado pelas especialistas.
Ambas apontam que um tumor que pode ser sentido com os dedos pela própria paciente provavelmente já tem mais de 1,5 centímetros. Com isso, cai drasticamente a possibilidade de cura total.
" Ele pode dar uma falsa ideia de que a mulher está fazendo exame de prevenção e na realidade não está. Ele não substitui de forma alguma a mamografia", aponta a ginecologista do Hucam.
Uma pesquisa divulgada em março pela Sociedade de Mastologia em parceria com uma empresa farmacêutica apontou que, apesar de não ser eficaz, o autoexame ainda é o método mais presente no imaginário das mulheres quando o assunto é câncer de mama.
Entre as mais de 3 mil entrevistadas, 59% apontaram esse método como a melhor forma de identificar um tumor.
A GAZETA PREPARA CONTEÚDO PARA O OUTUBRO ROSA
Durante o mês de outubro, marcado pela conscientização pela prevenção do câncer de mama, a redação de A Gazeta vai preparar conteúdos especiais sobre o assunto. A rádio CBN Vitória vai veicular uma série especial às quintas, somente neste mês, chamada "Amigas do Peito".
A convidada é a professora Gilcilene Passon que teve câncer de mama há seis anos e será a personagem do quadro com suas experiências pessoais de enfrentamento à doença.
Os temas abordados na conversa na rádio serão também reproduzidos na Revista.AG. Também está prevista uma edição completa só sobre o tema.
O assunto também será abordado pelo projeto Todas Elas, com matérias sobre diagnóstico, avanço da doença e histórias de quem superou a doença.
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