Mãe de três filhos, Maria Francisca de Souza, de 38 anos, sempre foi uma pessoa querida por todos a sua volta. Enfrentava dificuldades, mas fazia de tudo para cuidar da família. Superou, inclusive, um câncer de mama. Até ter a vida interrompida, vítima de feminicídio, com sinais de estrangulamento. O suspeito do crime é o companheiro dela. Imagens de videomonitoramento mostram que, após uma discussão, Maxssuel Gonçalves puxou a mulher pelo pescoço e depois a jogou em um valão, entre os bairros Boa Sorte e Maracanã, em Cariacica, onde o corpo dela foi encontrado no dia 5 de abril. O homem foi preso cinco dias depois.
Amanda Souza, de 20 anos, filha mais velha de Maria Francisca, conta que a mãe sempre trabalhou por conta própria para sustentar a família. “A minha mãe sempre foi autônoma. Fazia faxina, fazia unha, cuidava de crianças... Ela amava demais ser mãe. Ela gostava de cuidar da gente e sempre deu o seu melhor”, afirma.
A filha relata que Maria tinha o sonho de conquistar a casa própria e gostava muito de se reunir com amigos. “Minha mãe não era muito ligada a bens materiais. A felicidade dela era juntar as amizades, fazer tábuas de frios, batata frita, tomar uma cervejinha, essas coisas. Era disso que ela gostava: da família, dos amigos, de todo mundo reunido.”
Maria Francisca passou por um período muito difícil após a gravidez do filho mais novo, de 5 anos. “Foi uma gravidez muito difícil para ela. Ela teve depressão pós-parto. Passou um tempo e, quando meu irmão tinha pouco mais de um ano, a gente descobriu o autismo dele. No ano seguinte, descobrimos que a minha mãe estava com câncer de mama”, relata a filha.

Amanda conta que a mãe tentou ser forte durante o tratamento. “Teve uma época que eu brincava com a minha mãe e falava: 'Eu não sinto necessidade de abraçar a senhora, porque a senhora é forte o tempo todo. As coisas acontecem e a senhora está sorrindo, como se nada tivesse acontecendo.'”
Apesar da força, a sequência de acontecimentos foi devastadora para toda a família, mas principalmente para Maria Francisca. “Ela tentou ser forte. Falava que estava tudo bem. Mas, com o tratamento, quando o cabelo dela caiu, ela entrou em uma depressão muito profunda. Não queria sair de casa porque se achava feia por estar careca. Depois ainda teve que fazer a retirada da mama direita, e a situação só piorou.”
Nessa época, Amanda relembra que Maria começou a fazer o uso de drogas. “Ela era uma mulher que era super vaidosa e muito bonita. Onde passava, todo mundo sempre falava da beleza dela. E aí, por causa da doença, ela começou a receber aquele olhar de pena. Então, foi um baque muito grande. Eu acredito que seja por esse motivo que tenha procurado um alívio temporário.”
Cunhada de Maria, Laudiceia relata que, ao final do tratamento, a autônoma estava em depressão profunda. “Eu senti ali (fim do tratamento) que ela já estava se entregando. E foi viver a vida dela desse jeito. Até que veio encontrar esse falso apoio nessa pessoa. Esse falso apoio que aí só quis agora tirar o que era dela”, disse, referindo-se à Maxssuel, com quem Maria Francisca mantinha um relacionamento.
O tratamento de câncer durou um ano e seis meses, mas Maria continuou sofrendo com o abuso de substâncias ilícitas, segundo os familiares. “Mesmo passando por tudo isso, ela nunca deixou de pagar o aluguel dela. Estava se mantendo. Maria era muito caprichosa com a casa e cozinhava muito bem", lembra Laudiceia.
A família revela que, nas últimas semanas, Maria havia passado a frequentar uma igreja próxima à casa dele e procurou um pastor para conversar sobre os problemas que estava enfrentando.
“Ela falava comigo e com meu esposo: ‘Eu quero me reunir com vocês, quero estar na igreja’. Ela foi a outra igreja com alguns hematomas e contou que tinha feito um boletim de ocorrência e que queria conversar com o pastor, mas não deu tempo”, explica a cunhada.
Laudiceia e Amanda dizem que vão lembrar de Maria Francisca como uma mulher que lutou para sustentar a família, cuidava dos filhos e gostava de se reunir com os amigos. “A memória dela vai ser isso. Ela foi uma excelente mãe. Mesmo passando pelo câncer, nunca abriu mão de cuidar dos filhos, principalmente o mais novo”, reforça a cunhada.
“Eu sempre vou lembrar dela com sorriso no rosto, com aquele amor todo que dava. Lembro do carisma dela, a força de vontade que tinha, a bondade, o carinho, as brincadeiras, os beijos... Ela me ensinou a perdoar e a confiar em Deus. De todos os ensinamentos, o que a minha mãe mais me falava era: ‘não deixe ninguém te mudar'. Infelizmente, foi algo que ela mesmo não seguiu", completa a filha.
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