O Espírito Santo projeta-se como um polo de prosperidade em 2024, impulsionado por sua robusta capacidade de investimento, equilibrado ambiente econômico e sólida posição fiscal.
O Estado conquistou, pelo 12º ano consecutivo, a Nota A na avaliação da Capacidade de Pagamento dos Estados e Municípios (Capag), concedida pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN).
Na prática, a consolidação dessa nota máxima não apenas atesta a excelência nas contas públicas e o equilíbrio fiscal do Estado, mas também abre portas para facilitar o acesso a garantias da União em operações de crédito, viabilizando novos investimentos. Essa estabilidade fiscal, aliada à logística privilegiada, estabelece um cenário atrativo para investimentos.
As previsões apontam para um crescimento próximo à média nacional em 2023, em torno de 3%, e a expectativa é que o Espírito Santo supere o avanço estimado para o Brasil em 2024, ultrapassando o 1,5% projetado pelo Banco Central, segundo o presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Pablo Lira.
De acordo com o relatório macroeconômico do Bradesco, a economia brasileira deve ter alta de 2,7% em 2023 e de 2% em 2024.
No Espírito Santo, nos primeiros seis meses de 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou uma expansão de 2,5%. O maior crescimento registrado ocorreu no primeiro trimestre, quando a economia avançou 4,7%. Já entre os meses de abril e junho, o PIB manteve-se estável, com resultado de 0,3%, conforme cálculos do IJSN.
Lira avalia que a economia capixaba tem obtido outros resultados positivos além do PIB, como a geração de empregos. Foram criados 36.309 postos de carteira assinada entre janeiro e setembro de 2023, segundo o Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C) mostra também taxa de desemprego de 6,4% no segundo trimestre de 2023, a menor em oito anos.
Outro fator são os investimentos em culturas voltadas para exportação, como a do mamão, cuja produção passou a ter voo direto para o mercado internacional, saindo de Vitória, e a da pimenta-do-reino, que a cada ano vem registrando aumento de vendas.
No horizonte das oportunidades, destacam-se ainda aportes privados robustos, especialmente nas áreas de infraestrutura e indústria, a exemplo de petróleo e gás, energia solar, metalurgia e indústria alimentícia. Projetos bilionários estão previstos, incluindo a expansão da estrutura portuária e a instalação da primeira Zona de Processamento de Exportação privada do país em Aracruz.
De acordo com as projeções elaboradas com base no Indicador de Atividade Econômica (IAE-Findes), calculado pelo Observatório da Indústria, a economia capixaba terá um crescimento de 3,1% em 2024. O indicador ainda mostra que a indústria será a protagonista ao longo de 2024, crescendo 6%, na comparação com 2023.
Já a agropecuária terá um resultado 3,2% melhor do que o registrado neste ano, enquanto para o setor de serviços (que engloba comércio, transporte e atividades de serviços) a alta projetada é de 2,8%.
A economista-chefe e gerente-executiva do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marília Silva, avalia que as expectativas também são favoráveis para setores dependentes do consumo das famílias, como comércio, impulsionados pela recuperação do poder de compra.
A economista informa que há uma previsão de alta na produção de petróleo e gás natural, observada em 2023, devido à continuidade do processo de revitalização dos campos onshore no Norte do Estado. “Já no ambiente offshore, contamos com a alavancagem da produção no Campo de Golfinho pela BW Offshore e a entrada em operação da plataforma da Prio no Campo de Wahoo. Aguardamos também, para um horizonte mais distante, em 2025, o início da operação da Plataforma Maria Quitéria da Petrobras”, elenca.
Ainda com relação à atividade extrativa, a indústria de pelotização de minério de ferro também deverá apurar crescimento em 2024, na avaliação dos especialistas, em razão da retomada gradual das atividades da Samarco no Espírito Santo, cuja capacidade produtiva está estimada a chegar a 100% em 2028. Também para o médio prazo, há perspectiva de ampliação da produção com o início da fabricação de briquetes verdes projetado pela Vale.
“Entre os setores que deverão manter um ritmo de crescimento, está a indústria extrativa capixaba. O segmento tem registrado aumento de produção em 2023, puxado tanto pela atividade de petróleo e gás natural quanto pela produção de pelotas de minério de ferro”, analisa a economista.
A retomada dos empreendimentos na área de construção civil, com o Minha Casa, Minha Vida, também contribui para a confiança. “Podemos destacar algumas oportunidades para a indústria de transformação capixaba em 2024, como as expectativas de retomada da demanda externa por papel e celulose, a partir da normalização dos estoques mundiais desses produtos, e os estímulos ao consumo de aço por parte de atividades industriais internas, como os segmentos de construção e de máquinas e equipamentos”, aposta Marília.
O economista-chefe do Banestes, Antonio Marcus Machado, acredita que o desenvolvimento do agro vai impactar positivamente a economia capixaba em 2024. “O setor representa 30% do PIB e quase 35% da população economicamente ativa do Espírito Santo”, aponta.
Machado reforça ainda investimentos em culturas voltadas para a exportação, como o mamão e a pimenta-do-reino. “Estamos avançando bastante e conseguindo melhorar as nossas técnicas de produção e colheita para entrar no mercado internacional”, explica.
Na avaliação de Marília Silva, um dos principais desafios que a economia capixaba enfrentará em 2024 é a continuidade da desaceleração da economia mundial em virtude do conflito entre Israel e Hamas. Como o Estado tem abertura econômica, com fluxos comerciais com o restante do mundo, pode ser impactado pela conjuntura internacional.
“Estamos em um momento de acirramento das tensões globais diante da eclosão de mais um conflito geopolítico, que, além de causar um prejuízo humanitário imensurável e afetar milhares de pessoas, provoca efeitos econômicos de ordem global. O impacto imediato que estamos vendo é um aumento no preço do barril de petróleo, devido às reações dos principais países produtores. Contudo, a depender da escalada do conflito, a cotação pode sofrer uma valorização mais agressiva e, então, repercutir mais diretamente sobre os preços ao longo dos próximos meses”, destaca.
Diante de todo esse contexto de enfrentamento e alta inflacionária, Marília acredita que podemos esperar um crescimento morno da atividade econômica global não só em 2023, como também em 2024 – o que é algo desfavorável para o Estado.
Já o economista Antonio Marcus Machado aponta que no quadro de riscos está uma possível retomada da inflação, indesejada por penalizar de forma acentuada o setor de serviços e o comércio, áreas fortes para o Espírito Santo, que apresentaram, respectivamente, crescimento de 9,5% e de 3,5%, entre janeiro e agosto de 2023.
“O consumo no setor de serviços é diário, e há impacto direto com a inflação. Se há aumento no preço da geladeira, de um carro, o consumidor só vai se preocupar com isso em alguns anos. Mas, no consumo diário da cervejinha, do arroz ou do feijão e no deslocamento com carro de aplicativo ou roupas, isso acaba afetando muito, e rapidamente”, pondera Machado. Outro risco indicado por ele é o desequilíbrio das contas públicas do governo federal, caso não consiga cumprir a meta fiscal.
Versão anterior desta matéria informava, erroneamente, que o relatório macroeconômico do Bradesco apontava taxas de crescimento de 2,7% em 2023 e de 2% em 2024 para a economia capixaba. No entanto, os dados referem-se às projeções do banco para o Brasil. A informação foi corrigida.
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