A inteligência artificial (IA) é capaz de coletar, cruzar e interpretar um grande volume de dados. Na área educacional, essa tecnologia permite analisar o desempenho dos estudantes em exames internos e externos, identificando os conteúdos que os alunos dominam, bem como as lacunas de aprendizagem. Possibilita também auxiliar quem tem dificuldades de aprendizado.
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E o melhor ainda é quando uma nova solução tecnológica é desenvolvida pelos próprios jovens a partir das ferramentas disponíveis. Um exemplo do uso da inteligência artificial no processo de aprendizado foi a criação de um sistema para ajudar pessoas com dislexia a realizarem provas de forma mais confortável e autônoma.
O projeto foi desenvolvido pelos estudantes do Centro Educacional Leonardo da Vinci Adrian Coimbra Mariani, Beatriz Demoner, Davi Lourenço Leone Evangelista, Pedro de Figueiredo Cortes Vairo, da 1ª série do ensino médio, e Pedro Mello Milanez, do 9º ano do ensino fundamental.
Após ser desafiada pelo professor em uma aula a criar soluções para problemas reais da sociedade relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a turma levou em conta que a dislexia é um distúrbio de aprendizagem caracterizado pela dificuldade de leitura, fazendo com que os alunos necessitem de apoio de tutores para ler os textos das avaliações escritas.
“Esse acompanhamento, por sua vez, pode reduzir a autonomia, gerar constrangimento em decorrência da presença de uma outra pessoa próxima no momento da prova e ainda exigir que a escola disponibilize um profissional exclusivamente para acompanhamento”, aponta a integrante do projeto Beatriz.
Os estudantes, então, lançaram mão dos conhecimentos obtidos em uma oficina de Programação com a Alexa (assistente conversacional) oferecida pela escola, aprofundaram-se e desenvolveram um programa com a finalidade de que a tecnologia de inteligência artificial fizesse a leitura da prova para o aluno disléxico.
Pedro Vairo conta que foi necessário fazer muita pesquisa para criar a ferramenta. “Passamos as férias inteiras desenvolvendo esse programa. Foi bem difícil”, frisa.
O projeto foi premiado no evento Inova Teen, promovido pela Universidade de Vila Velha (UVV) e, de acordo com os estudantes, o objetivo é aprimorar a ferramenta para ser apresentada em outras instituições.
O coordenador do ensino médio da instituição, João Duarte, disse que, após a validação do sistema desenvolvido pelos estudantes, a escola pretende usá-lo para atender melhor seus alunos com dislexia.
Outro exemplo prático da aplicação da IA no dia a dia escolar foi a atividade pedagógica “Obesidade no Brasil e no mundo”, realizada pelo professor de Biologia Enes Nogueira, com os alunos do ensino médio da instituição.
Segundo Eneas, o primeiro passo do trabalho foi pedir que os alunos pesquisassem sobre a obesidade no Brasil usando o AlsoAsked, programa que permite identificar dúvidas relacionadas a palavras-chave pesquisadas. Em seguida, eles fizeram perguntas ao ChatGPT, para esclarecer as dúvidas e aprofundar o conhecimento sobre o tema.
Os estudantes usaram ainda o FormatFast, ferramenta de formatação de texto, para organizar as informações coletadas durante a pesquisa e a conversa com o ChatGPT.
“Eles criaram um documento que incluiu o que aprenderam sobre os principais fatores que contribuem para a obesidade no Brasil, como hábitos alimentares inadequados, sedentarismo e questões socioeconômicas”, explica Eneas.
O outro passo foi usar o Ressomer para criar um resumo visual dessas informações. A ferramenta permitiu que os alunos selecionassem o que era mais relevante do conteúdo e apresentassem de forma atraente, com imagens e gráficos. Por fim, usaram o programa Infogram para criar infográficos a partir dos dados obtidos. “Essa atividade ajudou os alunos a desenvolverem habilidades de pesquisa, análise e comunicação, além de fornecer informações importantes sobre um tema relevante e atual.
Uma das principais vantagens das ferramentas digitais é que elas tornam o processo de aprendizagem mais interativo e dinâmico, permitindo que os alunos se envolvam mais ativamente com o conteúdo e os colegas”, analisa o professor.
Outro exemplo do uso de IA na educação foi realizado na Escola Monteiro durante as aulas de Língua Portuguesa da professora Nana Bispo, que usou o ChatGPT para ensinar sobre o gênero textual no projeto “cartas de amor” para alunos do 9º ano.
De acordo com a docente, a ideia de adotar a ferramenta foi após perceber que os alunos tinham dificuldade de escrever esse tipo de texto e, ao invés disso, escreviam pequenos bilhetes. “Hoje, os jovens conversam de forma mais fluida, por WhatsApp e redes sociais”, aponta a professora sobre a dificuldade identificada.
De acordo com Nana, a proposta não era que o ChatGPT entregasse um texto pronto, mas auxiliasse os estudantes a transformar os bilhetes em um texto de carta de amor, aperfeiçoando a escrita. “Os textos criados pela IA eram mais longos e também com uma linguagem mais rebuscada, que é menos usual. Então, eles utilizaram novamente a ferramenta para aprender a adaptar o texto para uma linguagem mais atual e perceber ao longo desse processo as diferenças na linguagem e as mudanças que seu próprio texto inicial foi ganhando com o auxílio da ferramenta”, conta.
Diretor da Monteiro, Eduardo Costa destaca que o exemplo da professora Nana mostra que é impossível desassociar os recursos digitais dessa geração, cada vez mais conectada.
“A Escola Monteiro inclui as ferramentas tecnológicas na rotina de aprendizagem, permitindo o acesso às plataformas, de forma consciente e saudável, e potencializando o processo de ensino. Os alunos têm contato com a tecnologia e aprendem a utilizar as ferramentas como aliadas da educação e da aprendizagem, entendendo sua aplicação na vida escolar”, reforça o diretor.
Na rede Sesi, as novas tecnologias são utilizadas de diversas formas. Exemplo disso é que, de acordo com a gerente-executiva de Educação Sesi/Senai, Tatiane Franco, alguns projetos são considerados cases de sucesso para a instituição, que quer protagonizar o futuro da educação básica como referência no uso da inteligência artificial.
“Temos um projeto para o desenvolvimento das competências, no qual a gente faz a correção de redações usando a inteligência artificial. Também usamos a IA para auxiliar no reconhecimento de competências para apoiar o desenvolvimento dos estudantes da educação de jovens e adultos, além de ter uma ferramenta que também ajuda a identificar a necessidade específica de cada estudante”, afirma a gerente-executiva.
Ainda de acordo com Tatiane, a IA é utilizada no dia a dia do trabalho dos professores. “Essas ferramentas já auxiliam os nossos docentes na criação de planos pedagógicos e planos de aula, além de contribuir para o desenvolvimento de assuntos relacionados à criatividade e questões integradas ao desenvolvimento, agregando no material didático e no plano de aula do professor”, explica.
A gerente-executiva acrescenta que, no contexto da sala de aula, todas as redes de ensino Sesi do Espírito Santo contam com laboratórios de informática que auxiliam no ensino da robótica e jogos digitais.
Ainda de acordo com Tatiane Franco, a rede Sesi/Senai estabeleceu, no segundo semestre de 2023, uma parceria inédita com o Google que prevê o investimento de R$ 98 milhões para a utilização da inteligência artificial na educação da instituição.
“Vamos investir em ferramentas para auxiliar no reconhecimento de saberes para a educação de jovens e adultos e também na aprendizagem personalizada por meio do desenvolvimento de um sistema de recomendação educacional e machine learning (método de análise de dados por IA), capaz de direcionar o conteúdo de acordo com especificidade de cada estudante”, comenta Tatiane.
A proposta, segundo ela, é que a rede Sesi/Senai passe a oferecer cursos personalizados capazes de se adequar ao estilo de aprendizagem. “A partir de novos estudos ou de estudos já existentes, a parceria prevê que o ensino seja realizado em interfaces inovadoras e totalmente automatizadas. Isso vai permitir que a comunicação e a interação do estudante sejam permanentemente estimuladas”, detalha.
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