A chegada da pandemia ainda no primeiro semestre de 2020 impactou fortemente a vida de todas as pessoas. Na área da educação, não foi diferente. Com o enfraquecimento da economia e a perda de postos de trabalho, muitos problemas foram desencadeados e diversas pessoas tiveram que parar com os estudos, visto a dificuldade em manter os custos que a atividade demanda.
Foi o que ocorreu com a operadora de caixa Ester Conceição Mateus, de 21 anos. A jovem cursava Enfermagem em uma faculdade particular de Vitória, porém se viu forçada a trancar o curso depois que a situação financeira dela e da família se agravou com o avanço da pandemia. Ela é um exemplo do cenário identificado pelo Mapa do Ensino Superior do Brasil. O levantamento apontou que, no ano passado, a evasão no ensino presencial foi de 35,9%.
"Começou a me afetar quando percebi que teria que trancar a faculdade por questões financeiras. Tentei ao máximo continuar os estudos, mas infelizmente o bolso apertou. Teve ainda a questão da saúde emocional. Perdemos um ente querido e, nessa situação, é muito difícil conseguir seguir com tudo que havia planejado antes de começar a pandemia", conta a jovem.
Trazer os alunos que desistiram dos cursos e conquistar novos em um cenário ainda de muitas incertezas em meio à pandemia, torna-se desafiador às instituições de ensino superior. Para a doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cleonara Maria Schwartz, o primeiro passo que as faculdades e universidades devem adotar é identificar os estudantes desistentes, entender os fatores determinantes que os levaram a interromper os estudos para, aí sim, trazê-los de volta à graduação.
"As instituições vão precisar, sim, identificar quem foram os alunos, chamar para um diálogo e avaliar a possibilidade de um retorno. Isso é necessário para que o estudante não perca completamente o vínculo com o ensino superior, tendo em vista a importância dele na formação de diferentes carreiras profissionais. O movimento inicial a ser feito é realizar este levantamento, identificar e fazer aquilo que tem sido denominado por busca ativa. É preciso entender e procurar novas possibilidades para poder oferecê-las a eles, evitando assim que fiquem perdidos", pondera.
Um exemplo é a Emescam. Referência há décadas no Estado na formação médica, a instituição vê a necessidade crescente por profissionais voltados ao setor. Para atrair potenciais alunos, a faculdade foca em métodos para oportunizar o acesso ao ensino superior.
"Durante a pandemia, constatamos um aumento na procura por cursos ligados à saúde, nossa grande vocação. Nesse sentido, defendemos mais políticas de financiamento para reverter esse quadro de evasão. Fazemos isso na prática, concedendo bolsas para estudantes em todos os nossos cursos de graduação via Prouni e também Nossa Bolsa. É senso comum que o ensino superior muitas vezes intimida, tanto pelo custo de manutenção, quanto pelo grau de exigência, entretanto, nossa busca sempre foi pela inclusão", aponta Cláudia Câmara Weindler, gerente acadêmica da Emescam.
Pensando em atrair novos graduandos, a Multivix oferece até 50% de desconto em todo o curso para os vestibulandos de 2022/1. Este benefício pode ser obtido por meio da nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou pelo vestibular simplificado on-line da faculdade.
O abatimento de até metade do valor da mensalidade também se aplica à modalidade do EAD da Multivix. A instituição de ensino superior disponibiliza ainda a possibilidade de bolsas de estudos de 50 e 100% pelo Prouni e Nossa Bolsa, ambas condicionadas ao desempenho do candidato no Enem.
Há ainda o financiamento estudantil através do Fies (Programa de Financiamento Estudantil), Faça Acontecer, Pravaler e também no Santander Universidades. As quatro opções são semestrais e apenas o Fies condiciona o benefício ao Enem.
Com anos dedicados ao ensino em sala de aula, Cleonara reforça a necessidade de um ação conjunta de diferentes setores para que o acesso e retomada ao ensino superior de fato alcance patamares significantes e diminua o percentual de evasão no nível superior, especialmente nas instituições particulares.
"Na atual conjuntura de perda de emprego, índices alarmantes de desemprego, onde as pessoas estão tendo que abandonar os próprios projetos de estudo para garantir minimamente a sobrevivência, é preciso que haja um diálogo intersetorial. Isso é fundamental para ir retomando a parte econômica, equalizando as questão de apoio a quem está em vulnerabilidade e assim pavimentando o ambiente para um retorno do aluno", aponta.
Pensando nessa ajuda multisetorial, Weindler conta que o apoio da Emescam não fica limitado à questão financeira. A gerente acadêmica aponta que a pandemia também afetou a vida social e mental de alunos e colaboradores, desta forma ter um olhar voltado para estas adversidades também se faz necessário.
"É premissa para a Irmandade, mantenedora da Emescam, como sempre foi, que políticas de democratização estivessem presentes para viabilizar o acesso aos estudantes. Entretanto, a política de permanência não pode ser encarada só como um apoio financeiro, por isso, oferecemos apoio psicológico e pedagógico, através do nosso Núcleo de Apoio Discente (NAD), no qual lidamos, entre outros fatores, com possíveis problemas de aprendizagem dos estudantes", salienta ela.
Por fim, Cleonara enfatiza que estas ações devem ser combinadas à necessidade de resolver pendências relativas ao custeio e manutenção da graduação.
"Obviamente é necessário rever e renegociar as mensalidades, além de estimular programas eficazes de bolsas de estudo. É o que é possível e prudente a ser feito. E isso não se faz sem um diálogo efetivo entre as diferentes pastas das políticas já citadas, visto que a vida do estudante é afetada por questões econômicas, sociais e culturais. Mais do que regressar, é preciso focar também na permanência dele na instituição", finaliza a doutora em Educação.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta