> >
Além do lucro: cafeicultores e governo do ES focam na produção de cafés sustentáveis

Além do lucro: cafeicultores e governo do ES focam na produção de cafés sustentáveis

Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Espírito Santo introduz novas práticas de cultivo mais verde e rentável na cultura cafeeira capixaba

Publicado em 3 de setembro de 2023 às 00:25

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Aroma Capixaba
O Espírito Santo, líder nacional na produção do conilon, passa por um processo de transformação nas lavouras, tornando-as mais sustentáveis. (Divulgação/Incaper)

Ficou no passado a ideia de que uma lavoura de café de qualidade é aquela que garante apenas lucro, independentemente dos métodos e práticas adotadas no cultivo. No Espírito Santo, o governo do Estado e cafeicultores de Norte e Sul do Estado vêm adotando cada vez mais uma nova visão: além do lucro, há o interesse pela sustentabilidade na produção.

Um marco dessa forma de produção cada vez mais valorizada no campo foi lançamento, em 22 de maio deste ano, do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Espírito Santo, com eixos que abordam o lado social e o uso da tecnologia, por exemplo.

A cerimônia funcionou como um pontapé inicial para adoção de novos hábitos no cultivo do café. O programa foca em cinco frentes da produção: social, governança, ambiental, tecnologia e agregação de valor. As práticas consideram, por exemplo, o conceito de ESG (governança ambiental, social e corporativa) – abordagem que ganhou destaque nos últimos tempos.

Engana-se quem pensa que o programa deixa de lado o lucro. Apesar de priorizar a sustentabilidade, ou seja, boas práticas em relação ao meio ambiente, o governo do Estado tem a intenção de aumentar a eficiência das lavouras. A ideia, na prática, é preservar o meio ambiente e produzir mais sacas de café por hectare.

No lançamento do programa, o governador Renato Casagrande lembrou a extensão do plantio de café no Espírito Santo. O grão, que é o principal produto da economia agrícola capixaba, está presente em quase 70% das propriedades rurais do Estado.

Pauta 4 - Aroma Capixaba
Governo do ES lançou neste ano o Programa de Sustentabilidade do Café no Espírito Santo . (Governo do Estado/Divulgação)

“O café de qualidade é um produto de distribuição de riqueza. Nós somos e queremos ser cada vez mais um Estado sustentável. A inovação é outro eixo importante desse programa. Por isso, queremos inovar e modernizar ainda mais nossa produção, agregando valor ao produto", afirmou o chefe do Executivo Estadual, na ocasião.

O secretário de Estado de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), Enio Bergoli, afirma, por sua vez, que a visão do consumidor faz com que os produtores tenham a régua mais alta quando o assunto é sustentabilidade.

Aspas de citação

Lançamos o programa mais contemporâneo e ousado do Brasil e, ouso a dizer, do mundo, de desenvolvimento da cafeicultura sustentável. Especialmente após a chegada do coronavírus, as pesquisas indicam que a sustentabilidade do produto afeta a visão e a decisão de compra do consumidor. Ou seja, mais do que ter qualidade, é verificado que os consumidores desejam sustentabilidade no processo de produção do café

Enio Bergoli
Secretário de Estado de Agricultura 
Aspas de citação

Ainda segundo o secretário, o fato de o Espírito Santo ser líder na produção de café conilon no Brasil impõe a tarefa de "estar antenado" sobre os desejos dos consumidores.

Prática no campo

O programa pode ser adotado por produtores de café de todas as variedades, independentemente da extensão do plantio. De acordo com informações do governo do Estado, instituições públicas e privadas estão à disposição para troca de informações e incentivo à sustentabilidade.

Na prática, servidores do Estado e de órgãos como o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) levam informações e novas práticas aos cafeicultores. Tudo isso visando tornar o cultivo do café uma atividade que afete menos o meio ambiente. É sugerido, por exemplo, que o produtor rural plante árvores em determinados pontos da propriedade.

Nas unidades demonstrativas do Incaper, agricultores podem ver técnica ILPF na prática
O Incaper leva informações e novas práticas aos cafeicultores do Estado, transformando lavouras em campos sustentáveis na cultura cafeeira. (Fernando Madeira)

Quem está na linha de frente e lida diariamente com produtores rurais comprova: apesar de uma resistência inicial, os cafeicultores têm dado bons exemplos quando o assunto é sustentabilidade.

De acordo com o extensionista rural do Incaper, Fabiano Tristão, a adoção de ideias sustentáveis melhora o lucro daquela produção.

Aspas de citação

O cafeicultor costuma ter um receio para os custos de adotar a sustentabilidade. Mas, ao longo do tempo, ele percebe que o lado econômico fica ainda melhor. Com isso, ele percebe a necessidade de preservação do meio ambiente. Os produtores assimilam a ideia, o que melhora a viabilidade econômica da propriedade

Fabiano Tristão
Extensionista do Incaper
Aspas de citação

Segundo Fabiano Tristão, o Incaper também trabalha com conceitos semelhantes e preza pelo lado ambiental.

Quem prova, comprova

O cafeicultor Joselino Menegueti fala com propriedade sobre os novos hábitos adotados na lavoura de café da família, localizado no Rancho Dantas, em Brejetuba, na Região Serrana do Espírito Santo. Ele conta que o cultivo de café é uma história de família. São várias gerações que têm o café como fonte de renda.

Pauta 4 - Aroma Capixaba
Joselino Menegueti e a família, na propriedade em Brejetuba, Região Serrana do Estado. (Arquivo pessoal)

Mas, apesar de entender tão bem sobre o cultivo do grão e conhecer a lavoura como a própria mão, ele relata que a novidade nos últimos anos tem sido "colocar o meio ambiente na frente da produção". A ideia de priorizar o cuidado com a terra, origem do sustento da família, surgiu em 2010.

"Primeiro de tudo, a gente busca entender sobre a variedade do café, de acordo com a região de produção. Sempre analisamos a qualidade do solo, que tem recebido mais a nossa atenção", detalha.

Nesse intervalo de 13 anos, desde que começou a olhar com mais cuidado para a produção de café, o resultado pode ser visto a olho nu.

Pauta 4 - Aroma Capixaba
Desde que o proprietário decidiu ter novos hábitos, árvores foram plantadas perto de lavoura de café. (Arquivo pessoal)

"Desde 2010, aumentamos nossa cobertura verde. A plantação mudou, levantou o potencial. A terra não tem ressecamento, não tem erosão e a qualidade vem junto", explica Joselino.

A ação principal, como disse, foi aumentar a "cobertura verde". Foram plantadas árvores no meio da lavoura. Algumas bananeiras e outras árvores nativas. Esta foi a receita para melhoria no cultivo do café.

Na avaliação do secretário de Agricultura do Estado, Enio Bergoli, a receptividade dos cafeicultores com o programa lançado em maio está sendo "excepcional". O objetivo da Seag é que, em 10 anos, o Espírito Santo conte com 35 mil propriedades de café com características de sustentabilidade.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais