Ficou no passado a ideia de que uma lavoura de café de qualidade é aquela que garante apenas lucro, independentemente dos métodos e práticas adotadas no cultivo. No Espírito Santo, o governo do Estado e cafeicultores de Norte e Sul do Estado vêm adotando cada vez mais uma nova visão: além do lucro, há o interesse pela sustentabilidade na produção.
Um marco dessa forma de produção cada vez mais valorizada no campo foi lançamento, em 22 de maio deste ano, do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Espírito Santo, com eixos que abordam o lado social e o uso da tecnologia, por exemplo.
A cerimônia funcionou como um pontapé inicial para adoção de novos hábitos no cultivo do café. O programa foca em cinco frentes da produção: social, governança, ambiental, tecnologia e agregação de valor. As práticas consideram, por exemplo, o conceito de ESG (governança ambiental, social e corporativa) – abordagem que ganhou destaque nos últimos tempos.
Engana-se quem pensa que o programa deixa de lado o lucro. Apesar de priorizar a sustentabilidade, ou seja, boas práticas em relação ao meio ambiente, o governo do Estado tem a intenção de aumentar a eficiência das lavouras. A ideia, na prática, é preservar o meio ambiente e produzir mais sacas de café por hectare.
No lançamento do programa, o governador Renato Casagrande lembrou a extensão do plantio de café no Espírito Santo. O grão, que é o principal produto da economia agrícola capixaba, está presente em quase 70% das propriedades rurais do Estado.
“O café de qualidade é um produto de distribuição de riqueza. Nós somos e queremos ser cada vez mais um Estado sustentável. A inovação é outro eixo importante desse programa. Por isso, queremos inovar e modernizar ainda mais nossa produção, agregando valor ao produto", afirmou o chefe do Executivo Estadual, na ocasião.
O secretário de Estado de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), Enio Bergoli, afirma, por sua vez, que a visão do consumidor faz com que os produtores tenham a régua mais alta quando o assunto é sustentabilidade.
Ainda segundo o secretário, o fato de o Espírito Santo ser líder na produção de café conilon no Brasil impõe a tarefa de "estar antenado" sobre os desejos dos consumidores.
O programa pode ser adotado por produtores de café de todas as variedades, independentemente da extensão do plantio. De acordo com informações do governo do Estado, instituições públicas e privadas estão à disposição para troca de informações e incentivo à sustentabilidade.
Na prática, servidores do Estado e de órgãos como o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) levam informações e novas práticas aos cafeicultores. Tudo isso visando tornar o cultivo do café uma atividade que afete menos o meio ambiente. É sugerido, por exemplo, que o produtor rural plante árvores em determinados pontos da propriedade.
Quem está na linha de frente e lida diariamente com produtores rurais comprova: apesar de uma resistência inicial, os cafeicultores têm dado bons exemplos quando o assunto é sustentabilidade.
De acordo com o extensionista rural do Incaper, Fabiano Tristão, a adoção de ideias sustentáveis melhora o lucro daquela produção.
Segundo Fabiano Tristão, o Incaper também trabalha com conceitos semelhantes e preza pelo lado ambiental.
O cafeicultor Joselino Menegueti fala com propriedade sobre os novos hábitos adotados na lavoura de café da família, localizado no Rancho Dantas, em Brejetuba, na Região Serrana do Espírito Santo. Ele conta que o cultivo de café é uma história de família. São várias gerações que têm o café como fonte de renda.
Mas, apesar de entender tão bem sobre o cultivo do grão e conhecer a lavoura como a própria mão, ele relata que a novidade nos últimos anos tem sido "colocar o meio ambiente na frente da produção". A ideia de priorizar o cuidado com a terra, origem do sustento da família, surgiu em 2010.
"Primeiro de tudo, a gente busca entender sobre a variedade do café, de acordo com a região de produção. Sempre analisamos a qualidade do solo, que tem recebido mais a nossa atenção", detalha.
Nesse intervalo de 13 anos, desde que começou a olhar com mais cuidado para a produção de café, o resultado pode ser visto a olho nu.
"Desde 2010, aumentamos nossa cobertura verde. A plantação mudou, levantou o potencial. A terra não tem ressecamento, não tem erosão e a qualidade vem junto", explica Joselino.
A ação principal, como disse, foi aumentar a "cobertura verde". Foram plantadas árvores no meio da lavoura. Algumas bananeiras e outras árvores nativas. Esta foi a receita para melhoria no cultivo do café.
Na avaliação do secretário de Agricultura do Estado, Enio Bergoli, a receptividade dos cafeicultores com o programa lançado em maio está sendo "excepcional". O objetivo da Seag é que, em 10 anos, o Espírito Santo conte com 35 mil propriedades de café com características de sustentabilidade.
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