O conceito de agricultor familiar, conforme a Lei 11.326, é aquele que pratica atividades no meio rural, utiliza mão de obra da própria família em uma propriedade gerenciada por eles e em que a atividade agropecuária é a principal fonte de renda. No Espírito Santo, ela é forte e diversificada. Com produção, principalmente, de café e banana, o território em que esse modelo de gestão está presente é bem mais da metade do total de propriedades rurais capixabas e agrega valor aos produtos.
No Estado, existem cerca de 110 mil propriedades rurais e, destas, 75% são de agricultura familiar, somando um milhão de hectares, segundo dados do Censo Agropecuário. Esses números dão uma noção da grandeza e importância da agricultura familiar forte e diversificada em todas as regiões do ES.
O Espírito Santo, apesar de pequeno em dimensões territoriais, é um gigante da agricultura familiar. Para o secretário de Estado de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), Enio Bergoli, a força é o que move o agro no ES, responsável por grande parte dos alimentos disponíveis para o consumo da população capixaba. O chefe da pasta estadual afirma que a produção é altamente inserida no mercado, principalmente com café, banana e hortaliças.
“Três a cada quatro estabelecimentos rurais são de agricultura familiar. Esses produtores são determinantes na produção e na comercialização de muitos produtos aqui da agropecuária do Espírito Santo. Por isso, estamos valorizando ainda mais essa categoria, criamos uma Subsecretaria de Agricultura Familiar para organizar e direcionar ações para essas pessoas que mais necessitam do setor público. Nossos produtos são comercializados nos demais Estados do Brasil e em mais de 100 países”, afirma o secretário.
Para auxiliar os agricultores familiares, a Seag conta com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do ES (Idaf) e as Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa). Bergoli explica que um programa de incentivo à agricultura familiar está em desenvolvimento e deve ser entregue ainda em 2023. A intenção é apoiar e elevar a qualidade das produções com ações de sustentabilidade, assistência técnica e agroindustrialização de produtos provenientes da função familiar.
“O padrão de consumo mudou muito, principalmente no pós-pandemia. Hoje, os consumidores querem, além da qualidade, saber se esse produto é feito respeitando o meio ambiente, cumprindo obrigações sociais e trabalhistas. Temos uma meta ousada de que, em 10 anos, 35 mil propriedades estejam adequadas em um currículo mínimo de critérios de sustentabilidade, aptas para serem certificadas pelas maiores certificações nacionais e internacionais”, ressalta o secretário.
Com tanta mudança e tecnologia presentes em todos os meios de produção, os conhecimentos do campo, antes repassados de geração em geração, e ainda tão importantes, tornam-se agora uma troca de experiências e informações onde os pais e os filhos ensinam e aprendem, simultaneamente.
Essa é a história que pode ser contada pela família do agricultor Joselino Menegueti, de 71 anos, que fala com orgulho sobre a produção que possui no sítio, em Rancho Dantas, no município de Brejetuba, região Sudoeste Serrana do ES. Dos cinco filhos, um permanece na mesma propriedade e trabalha com ele na lavoura, além da esposa e da nora. O produtor considera o ofício de grande importância, além de ajudar a manter a família unida.
“Estamos no dia a dia do serviço sempre juntos. É bom estar perto, um ajuda o outro e a gente, que teve pouco estudo, aprende as mudanças com a geração mais nova. Também é muito bom ver eles evoluindo”, diz.
Segundo Joselino, o principal ensinamento que recebeu dos pais foi honestidade. Já na agricultura familiar, foi a força de vontade e o cuidado com o manejo. Agora, ele segue aprendendo, mas com o próprio filho, que faz a gestão de tudo o que produzem.
Na prática do formato de produção está a família Wruck, que mora na Comunidade de Rio Ponte, em Domingos Martins. Após pensar em sair de casa para estudar, o filho mais novo da família, Joelson Wruck, de 24 anos, acabou recebendo mais que um incentivo para ficar: a produção familiar evoluiu e ele se especializou na área da cafeicultura. Com torrefação e venda própria e uma marca já consolidada, o jovem permanece onde queria ficar desde o início, compartilhando conhecimento e aprendendo a função de produtor rural com a família.
Joelson explica que a família trabalha com o que dá conta. Os pais e o irmão trabalham diretamente no cultivo e ele, na produção e venda, mas que, quando é necessário, todos vão para as demais funções.
“Trabalhamos eu, meu pai, minha mãe e meu irmão com café e outras culturas, como feijão, milho, hortaliças e frutas, que são para consumo da família. O nosso café, que é o carro-chefe, tem uma produção orgânica e com o processo todo dentro da propriedade, já que construímos uma torrefação. Assim, entregamos direto para o consumidor”, destaca.
Cerca de 130 mil famílias trabalham com cafeicultura no ES, segundo o Incaper. Dessas, a maioria desempenha a agricultura familiar. Nesse contexto, as cooperativas no Estado têm grande importância no apoio e desenvolvimento das famílias. O presidente da Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), Luiz Carlos Bastianello, explica que a relação entre cooperativa e cooperado é uma via de mão dupla.
“O quadro social da cooperativa é composto, predominantemente, por pequenos e médios produtores, que contribuem significativamente com os números de produção e entrega de café, o que faz com que a relação estabelecida entre cooperativa e cooperado torne-se uma via de mão dupla. Por esses fatores, é indispensável buscar apoiar essas famílias que, com ou sem maquinários, irão se manter no negócio”, afirma.
Além dos números, as ações da cooperativa estão presentes em todas as etapas do processo produtivo, oferecendo conhecimento técnico e gerencial para as propriedades. Hoje, o ES é referência nacional em agricultura familiar e os produtores se mostram abertos ao novo, o que garante um futuro brilhante à produção capixaba.
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