O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. E nos últimos anos o Espírito Santo, segundo dados da Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), é destaque nacional na exportação de café solúvel, tendo as agroindústrias do Estado chegado a 122% de crescimento no último ano. Com localização geográfica estratégica e um café de qualidade, o ES recebe cada vez mais empresas do ramo e incentivos para manter a produção.
Em comparação com o restante do país, o ES vê sua participação e produção de café crescer a cada ciclo. Ainda de acordo com dados da Seag, Paraná e São Paulo, principais exportadores do grão, tiveram quedas no volume de exportação de -19,3% e -3,4%, respectivamente, enquanto o Espírito Santo registrou aumento significativo de 63,4%. Esse crescimento é reflexo de investimentos em indústrias.
Uma das maiores exportadoras de café solúvel do Brasil, a Cacique, se instalou no Estado em 2021. A agroindústria localizada em Linhares, no Norte do Espírito Santo, conta com um espaço de 500 mil metros quadrados e produção média de 12 mil toneladas de café solúvel por ano. A fábrica também está presente no Paraná e em São Paulo, mas decidiu vir para o Estado pela qualidade do café, proximidade com a matéria-prima, logística e estrutura portuária, como explica o CEO da empresa, Sergio Pereira.
Um dos pontos importantes tratados pela Cacique também é a geração de empregos. A unidade de Linhares conta com toda a mão de obra local, com cerca de 250 empregos diretos. “Começamos com 200, tivemos uma pequena expansão, e já estamos com 250 empregos diretos, fora os indiretos que proporcionamos à região. Nós compramos muitos materiais na área de Linhares e até Aracruz”, destaca Valderi Cristiano, diretor industrial da Cacique.
Outros protagonistas no cenário das agroindústrias são os produtores. Cristiano traduz o dado de produção - em que a empresa exporta cerca de 12 mil toneladas de café solúvel - em sacas. A produção, segundo o diretor industrial, recebe de 550 mil a 600 mil sacas de café por ano e vai além, descrevendo toda a relação da indústria com os agricultores capixabas.
No ponto de vista econômico, o CEO afirma que o Estado torna-se mais atrativo, visto que não é necessário realizar o transporte do café verde capixaba até Londrina, para depois voltar com o produto ao porto, estando, assim, no centro da matéria-prima.
Tratando-se sobre a importância da instalação de grandes agroindústrias do setor no Estado, o secretário de Estado de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca, Enio Bergoli, afirma que nenhuma outra região cafeicultora do Brasil tem atraído tantos investimentos na indústria quanto o ES.
Com matéria-prima próxima, logística e estruturação, além de localização geograficamente estratégica, a região atrai o mercado e anima investidores. Com produção de café solúvel já sendo exportado, o Estado caminha para se tornar o maior polo de exportação do produto do Brasil.
“Essas agroindústrias vão impactar muito no nosso mercado. Elas se instalaram porque a matéria-prima está aqui, 70% do conilon do Brasil está aqui. E a chegada é muito importante para o Estado, afinal gera emprego e renda, oportunidade de exportarmos com valor agregado maior. Daqui a três anos, o Espírito Santo deve ser o maior exportador de solúvel do Brasil”, descreve o secretário.
Na linha de frente da produção estão as cooperativas, que lidam diretamente com a ponta do setor produtivo, nas áreas de representação do mercado. O analista de mercado do sistema de Organização das Cooperativas Brasileiras do Espírito Santo (Sistema OCB/ES), Alexandre Ferreira, diz que a chegada das indústrias de café ao Estado é benéfica também para o cooperativismo, e que garante melhores negócios para os produtores, tão importantes para os resultados de mercado.
“A chegada das agroindústrias de café é positiva ao cooperativismo, pois permitirá gerar melhores negócios para os produtores cooperados, por meio de um relacionamento mais estreito entre as cooperativas e a indústria. Outra vantagem criada por essa proximidade é que as indústrias poderão conhecer a fundo as necessidades do setor produtivo, especialmente as das cooperativas, e a partir disso estabelecer estratégias e parcerias que contribuirão para o fortalecimento de toda a cadeia produtiva do café no Estado”, explica o analista.
Ainda na visão do setor cooperativista, o presidente da Cooabriel, de São Gabriel da Palha, Luiz Carlos Bastianello, considera os investimentos positivos para o desenvolvimento econômico e social do Estado, gerando empregos e renda nas regiões das plantas industriais, além de representar o fortalecimento de parcerias comerciais já existentes.
Para ele, ainda, é fundamental que haja diálogo contínuo entre indústria e cooperativa, para alinhar expectativas e gerar inclusão de todos os elos da cadeia produtiva.
“Esses novos investimentos podem representar o fortalecimento de parcerias comerciais, bem como a abertura de novos mercados, o que pode representar crescimento da cadeia produtiva. E para a consolidação desses benefícios, é fundamental que haja diálogo e alinhamento de expectativas, a fim de que os diversos elos dessa cadeia possam ser incluídos e, por consequência, beneficiados e fortalecidos”, afirma.
O gerente-executivo do negócio do café da Nater Coop, Giliarde Cardoso, afirma que a importância do cenário das agroindústrias no ES é fazer o mercado enxergar cada vez mais o Estado.
A cooperativa vê com bons olhos a instalação de mais projetos, sendo necessário sempre evoluir quando se trata do agro. Já para o produtor, a importância é o valor agregado pela industrialização e é neste momento em que a cooperativa se torna também muito importante no diálogo entre as duas pontas produtivas, descrita pelo gerente como uma “via de mão-dupla”.
“E o que pode melhorar é o suporte para o produtor entender o que pode evoluir e o que a indústria demanda, desde certificações e iniciativas que podem fazer sentido para o setor. É uma via de mão-dupla, em que produtor, cooperativa e indústria precisam unir forças e tenho certeza que estamos no caminho certo”, conclui Cardoso.
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