> >
Modernização e novas tecnologia nas lavouras levam o café capixaba para o mundo

Modernização e novas tecnologia nas lavouras levam o café capixaba para o mundo

Especialistas na área apontam que o Estado passa por uma modernização forte na produção cafeeira, com novas práticas que vão do plantio à colheita, e da seleção à torrefação; o resultado é um produto visado e valorizado

Publicado em 3 de setembro de 2023 às 00:50

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Aroma Capixaba
A colheita mecanizada do conilon é realidade nas lavouras do Norte do Espírito Santo, modernizou e agilizou esta etapa na lida com a variedade. (Guilherme Ferrari)

O termo novas tecnologias aborda ferramentas de última geração, mas também pequenas modificações que podem ser feitas na produção e que surtem diferença na qualidade da bebida. Cada vez mais "high tech" o conilon também se destaca e está evoluindo a passos largos, com o ES na vanguarda deste processo. 

Produção de café dos cooperados é recebida, padronizada e armazenada pela Cooabriel, que ainda gera segurança para a comercialização da produção pelos associados
Produção de café dos cooperados é recebida, padronizada e armazenada pela Cooabriel, que ainda gera segurança para a comercialização da produção pelos associados. ( Cooabriel/ Divulgação)

Na avaliação do superintendente da Cooabriel, Carlos Augusto Pandolfi, o Espírito Santo domina a produção do café e o incentivo para a produção de um conilon qualificado serve para que o produtor perceba o potencial do grão.

Aspas de citação

Fazendo poucas alterações na produção, sobretudo após a colheita, o café pode receber uma pontuação mais alta, e a produtividade do cafeicultor pode crescer. O que a gente mostra é que, se o cafeicultor tiver um pouco mais de cuidado, o grão dele pode se tornar melhor. O comportamento do produtor está mudando

Carlos Augusto Pandolfi
Superintendente da Cooabriel
Aspas de citação

Ele afirma ainda que o movimento de novas tecnologias ganhou força nos últimos quatro anos. De acordo com o superintendente, os institutos e o governo do Estado são grandes parceiros na incorporação das ferramentas. Pandolfi citou, além do governo do Estado, o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) e o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

Atenção especial

Desde 1999, o dentista e cafeicultor tem uma lavoura em Santa Teresa. Apesar de o local sugerir a plantação de outra variedade, pela altitude e temperatura amena, Luís Carlos resolveu investir no conilon. E o investimento está diretamente ligado às novas tecnologias.

Aspas de citação

Fomos pioneiros no Espírito Santo na produção de café conilon especial. Começamos lá em 2010, são quase 14 anos. Desde então, não paramos. Atualmente, o mercado quer café conilon especial. O uso da tecnologia mudou muito. Foi um salto fantástico

Luís Carlos da Silva Gomes
Cafeicultor de Santa Teresa
Aspas de citação

Na produção liderada por Luís Carlos, a tecnologia transforma o grão após colheita. "A partir do momento em que você dá prioridade e muda o cuidado com o conilon, você consegue essa bebida maravilhosa", comenta o cafeicultor.

O produtor guarda segredos sobre as tecnologias usadas em Santa Teresa, mas relata que tem tido mais atenção na colheita do café. É preciso, segundo ele, colher apenas quando o grão estiver maduro, evitando a colheita de cafés ainda verdes.

Pauta 8 - Aroma Capixaba
Luís Carlos produz conilon em Santa Teresa há mais de 20 anos e explica que momento da colheita é fundamental para qualidade do café. (Arquivo pessoal)

A magia, porém, acontece na fase chamada por ele de fermentação láctea. É o momento em que ocorre o desenvolvimento do sabor. O processo permite que o café fique mais gostoso, tenha um sabor apurado. Luís Carlos não dá detalhes sobre o processo, mas compara a fermentação com a produção do queijo canastra, feito em Minas Gerais. Há um controle de temperatura e PH. O processo se reflete na venda de um produto mais apurado, vendido por um preço maior.

As novas tecnologias permitem que o produtor capixaba tenha mais lucro e sonhe mais alto. Ou melhor, mais longe, para fora do Brasil.

Em evolução

Para o q-grader Rafael Marques - profissional treinado que faz com que o café que chega até a sua casa seja realmente especial - os próximos anos serão importantes para incorporação de tecnologias no cultivo de café no Estado.

Torra de café durante a SIC
Assim como na lavoura, a modernização dos processos, como a torrefação, elevam a qualidade da bebida e do preço final do café. (Nitro/Divulgação)

"O que me chama atenção é a variedade do café, da planta. Alguns institutos estão investindo no modelo de um café híbrido. Ou seja, podem mudar o DNA, alterar a genética. A intenção é aumentar a produtividade e qualidade. Quando a gente fala de tecnologia, olho pelo lado da variedade", explica.

Na avaliação dele, o Espírito Santo está "intenso" na introdução de novas tecnologias. Segundo o especialista, são muitos recursos sendo investidos no processamento e no conhecimento dos produtores.

O trabalho de Rafael é elogiado e tratado como evolução na produção do café. É por causa da prova feita por eles que produtores como podem atravessar fronteiras. Este é o caso do cafeicultor Florentino Meneguetti, que viu uma amostra produzida na propriedade em Brejetuba, chegar até Dubai.

Aspas de citação

Mudou da água para o vinho. Antigamente havia menos higiene, tudo estava misturado, não existia orientação. Hoje o café é visto com mais cuidado. Fico até emocionado. Antigamente era ainda mais cansativo, mas hoje tem mais facilidades. Eu nunca esperava ver meu café em Dubai, é um prazer

Florentino Meneguetti
Cafeicultor capixaba
Aspas de citação

A alta qualidade do café é uma característica indispensável para que o grão fosse parar do outro lado do mundo. Mas em poucos minutos de conversa, qualquer integrante da família Meneguetti atribui a viagem ao profissional Rafael Marques, que tem o título internacional de q-grader, responsável que dá selo de qualidade aos cafés especiais.

Maira Meneguetti reforça que a família está sempre em busca de um café melhor e que com o passar dos anos, mudanças foram incorporadas à produção. O descascador da família, usado pela primeira geração de produtores, foi substituído por um novo. A ideia era ganhar em rapidez e produtividade.

Pauta 8 - Aroma Capixaba
Florentino Meneguetti recebeu um cafeicultor da Espanha na propriedade em Brejetuba e exibe com orgulho a identificação de "café capixaba". (Arquivo pessoal)

O pai de Maira explica que o modo de tratar o café atualmente é muito diferente do que era feito quando ele começou na produção. A adubação da terra, por exemplo, que era feita no enxadão, agora tem o auxílio de uma espécie de furadeira. O calcário e o esterco são gerenciados com mais cuidado e produtividade.

Aspas de citação

O café foi para a Espanha a pedido de um produtor chamado Joaquim e, partir de lá, foi enviado para Dubai. Fizeram uma propaganda, elogiaram o café, sem eu saber ou pedir. A gente fica muito feliz com o resultado. O trabalho é muito intenso e Dubai é tão longe. Saber que eles gostam do café é sinal de orgulho para a família

Maira Meneguetti
Filha de Florentino Meneguetti
Aspas de citação

O café inicialmente foi para a Espanha, na propriedade do cafeicultor Joaquim, e passou pela fase de torrefação - quando o grão entra em contato com o calor. Depois da torra, o café foi parar em Dubai.

Décadas de evolução

Pauta 8 - Aroma Capixaba
Um café produzido no interior do Espirito Santo conseguiu agradar paladares exigentes em Dubai. (Arquivo pessoal)

O cultivo do grão começou quando Florentino ainda era criança e acompanhava o pai, Firmino Meneguetti, nas caminhadas pela lavoura. O plantio começou na década de 1960. Em 2007, no entanto, a história da família começou a ter um novo capítulo, com a qualificação do café. O que era um grão comum passou a ter cuidados especiais.

Rancho Dantas é o distrito onde Florentino Meneguetti e a esposa, Lourdes Meneguetti, moram atualmente e criaram todos os quatro filhos. São quase 60 anos de história da família no cultivo do café. Maira, Alex, Fabiana e Fernanda nasceram no distrito e, de alguma forma, seguiram os caminhos do pai.

O caso da família Meneguetti é um demonstrativo de que as novas tecnologias têm aumentado o lucro de produtores e leva o café do Espírito Santo para fora do Brasil.

Luís Carlos da Silva Gomes, dentista de formação e proprietário de uma lavoura de café em Santa Teresa, e Florentino Meneguetti, que teve o café enviado para Dubai, têm ao menos uma semelhança: ambos prezam pela qualidade da bebida, evidenciando que modernizar o café é mais do que uma inovação, e sim uma necessidade a ser cada vez mais difundida.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais