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É advogado, professor da FDV. Pós-Doutor em Direito Penal (Goethe Universität) e em Criminologia (Universität Hamburg)

Crimes no mercado de créditos de carbono: uma ameaça à sustentabilidade

Para que o mercado possa cumprir seu potencial, é essencial que sejam adotadas medidas rigorosas de regulamentação e fiscalização, garantindo que ele opere de forma transparente e segura

  • Raphael Boldt É advogado, professor da FDV. Pós-Doutor em Direito Penal (Goethe Universität) e em Criminologia (Universität Hamburg)
Publicado em 07/08/2024 às 14h23

O mercado de créditos de carbono emergiu como uma solução inovadora para lidar com as mudanças climáticas, incentivando a redução de emissões de gases de efeito estufa. No entanto, a complexidade desse sistema tem sido explorada ilicitamente, resultando em diversas fraudes que ameaçam a credibilidade e a eficácia dessa ferramenta crucial para a sustentabilidade.

Uma das modalidades de crime mais comuns é a emissão de créditos de carbono falsos. Isso pode ocorrer quando empresas ou indivíduos alegam, de forma fraudulenta, terem implementado projetos de redução de emissões que, na realidade, não ocorreram ou foram significativamente inflados. Esses créditos falsos são então vendidos no mercado, gerando lucro ilícito para os fraudadores e minando os esforços globais de mitigação das mudanças climáticas.

Um exemplo real de fraude no mercado de créditos de carbono no Brasil envolve um projeto de plantação de eucaliptos para a produção de carvão vegetal. O projeto foi registrado no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) da ONU, e os créditos de carbono gerados foram vendidos para empresas estrangeiras. No entanto, investigações revelaram que os benefícios ambientais do projeto foram exagerados, comprometendo a integridade do mercado de créditos de carbono.

Outro caso ocorreu em 2010, quando o Ministério Público Federal investigou fraudes em projetos de reflorestamento na Amazônia. Empresas que prometiam grandes reduções de emissões por meio de projetos de conservação florestal foram acusadas de vender créditos de carbono com base em projetos que não cumpriram as promessas de redução.

A lavagem de dinheiro também é um problema crescente no mercado de créditos de carbono. A compra e venda de créditos tem sido utilizada como um meio de lavar dinheiro obtido de atividades ilícitas, aproveitando-se da complexidade e do alcance internacional do mercado para disfarçar a origem dos fundos.

Carbono neutro
Carbono neutro. Crédito: Shutterstock

Esses crimes refletem a necessidade urgente de regulamentação e mecanismos de fiscalização mais eficientes. Além disso, é imperativo promover maior transparência no mercado. Isso pode ser alcançado por meio da publicação de relatórios detalhados sobre transações de créditos de carbono e da exigência de auditorias independentes regulares para os projetos que geram esses créditos.

Para que o mercado possa cumprir seu potencial e contribuir para a sustentabilidade, é essencial que sejam adotadas medidas rigorosas de regulamentação e fiscalização, garantindo que ele opere de forma transparente e segura. Somente assim poderemos assegurar que os esforços globais para mitigar as mudanças climáticas sejam bem-sucedidos e que o mercado de créditos de carbono continue sendo uma ferramenta viável e confiável.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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