Um exemplo passado de geração em geração. No Sítio Feitosa, perto da Reserva Biológica de Sooretama, no Norte do Espírito Santo, existem mais de 300 espécies plantadas pelas mãos da produtora rural Nelzira Schmidt Machado e dos filhos. Todos eles participaram do processo do cultivo, um verdadeiro gesto de amor à natureza.
O projeto da família foi vencedor da 3ª edição do Prêmio Biguá de Sustentabilidade 2023, na categoria Produtor Rural. A iniciativa da Rede Gazeta Norte tem como objetivo reconhecer, valorizar e incentivar boas práticas voltadas para a preservação do meio ambiente. O evento, com o tema “Problemas Antigos Pedem Novas Soluções”, aconteceu em Linhares, na noite de quinta-feira (19).
O Biguá foi criado há 12 anos na Região Sul do Espírito Santo, devido à percepção da degradação acelerada na Bacia do Rio Itapemirim. Em 2021, a premiação foi expandida para as regiões Norte e Noroeste do Estado. Neste ano, o projeto teve um recorde de inscritos, com 128 trabalhos no total, que foram avaliados por uma comissão técnica julgadora.
De acordo com a diretora da Rede Gazeta Norte, Maria Helena Vargas, o número de participantes mostra que mais pessoas têm interesse em fazer a sua parte pelo futuro do planeta.
“Isso demonstra que o prêmio está ficando mais conhecido, está se fortalecendo. E que bom também que estamos tendo mais iniciativas em prol do meio ambiente, em benefício da recuperação e preservação dos nossos recursos naturais. Nós precisamos cada vez mais fomentar esse tipo de iniciativa, elas precisam ser realmente multiplicadas”, afirmou.
Quando subiu ao palco para receber o prêmio, dona Nelzira não escondeu a emoção e foi às lágrimas pelo reconhecimento do projeto “Família de mãos dadas para a conservação da Mata Atlântica”.
“Passa um filme na memória, do começo do trabalho até aqui, com uma plantação sustentável. Nós mesmo coletamos as sementes, eu e meu filho David. Semeamos, depois passamos as mudinhas para as sacolinhas. Na hora de fazer o plantio, convidamos a família toda. Meus filhos, meus tios, meus netos. Até minha mãe estava lá também. É um orgulho muito grande”, contou.
Se o trabalho da dona Nelzira envolve toda a família, a ação vencedora da categoria Escola de Ensino Fundamental e Médio tem a participação dos estudantes da Escola Municipal Antônio Fernandes de Almeida, do bairro Interlagos, em Linhares. O projeto “Agroecologia: O Futuro Está Em Nossas Mãos” conta com 480 alunos do primeiro ao quarto ano da unidade.
Por meio da iniciativa, a garotada mostra que está cada vez mais consciente e bota a mão na massa, em todo o processo de cuidar de uma horta até a colheita. Assim, os estudantes aprendem sobre a importância da preservação e também adquirem um estilo de vida mais saudável, comendo frutas, verduras e hortaliças. Pais e vizinhos também são beneficiados.
“Nós trabalhamos com sustentabilidade desde 2019. Neste ano, viemos com a agroecologia, na qual a gente mostra para as crianças que é possível, sim, preservar o meio ambiente e ainda conseguir o sustento. Cada turma tem sua participação”, relatou a professora Fabiana Honorato.
Ela fez questão de lembrar os nomes das profissionais que estiveram presentes na premiação: as professoras Janícia Braga e Noemi de Lima, a diretora Eliana Garcia, além de destacar a importância de toda a equipe pedagógica e demais professores. "Todos colaboram", ressalta.
O Rio Doce, um dos mais importantes do Norte do Espírito Santo, em 2015 foi atingido pelo rompimento da barragem da Samarco, uma tragédia que mudou a vida de muita gente, como a dos moradores de Regência, em Linhares. E é de lá que vem o vencedor da categoria Sociedade Civil, com o “Regenera Rio Doce”, um espaço que acolhe a comunidade daquela região, onde acontece o encontro das águas do rio com o mar.
O local fica na casa do antropólogo e alquimista Hauley Vallim, local com água em abundância — são 5 mil litros armazenados — e também muitas espécies de plantas. São pelo menos 150 delas, aromáticas e medicinais. Os trabalhos envolvem arte, cultura e agroecologia para regenerar os danos causados pela lama de rejeitos.
“Somos um coletivo que oferece para esse desafio, que foi o rompimento da barragem, propostas de regeneração para esses danos que caracterizam a nossa vivência cotidiana atualmente. E o Jardim Regenera Rio Doce foi o espaço, que é a minha casa, que acolheu essas propostas da comunidade, desses coletivos de arte, de permacultura [cultura permanente] e agroecologia”, disse.
Também é de um rio que corta a comunidade Boa Vista, em Aracruz, que nasce a fonte de renda para 15 famílias. A taboa está na água e com ela é produzida a esteira, o produto mais pedido. Mas tem também chapéus, bolsas, luminárias, brincos, cordões, entre outros itens.
Todo o trabalho é feito pelas mãos de um grupo de mulheres do projeto “Artebovis: Conhecimento Ancestral Garantindo Um Futuro Sustentável Às Extrativistas-Artesãs De Aracruz”, vencedor na categoria Poder Público. Como o próprio nome diz, a iniciativa é baseada em uma tradição familiar e na afetividade. E ganha força com o apoio da Secretaria de Meio Ambiente de Aracruz e do Sebrae.
“É um projeto que vem dos nossos antepassados, que já trabalhavam com a taboa. No início, era um trabalho apenas com a esteira e era pouco valorizado. Com o apoio do Meio Ambiente e do Sebrae, nós fizemos visitas a outros pontos de artesanato e conhecemos novos produtos com a taboa. Estamos evoluindo e fazendo um trabalho muito bonito”, explicou Isaura Vieira da Silva, representante da comunidade.
As novas tecnologias também chegam para ajudar na preservação. Uma delas possibilita uma produção sustentável e oferece menor custo para o agricultor. Assim consiste o projeto “Paper Pot: Tecnologia Sustentável A Serviço Do Meio Ambiente”, desenvolvido no Viveiro Nova Floresta, em Aracruz, vencedor da categoria Empresa.
“Nós implementamos essa tecnologia de tubete biodegradável (paper pot). O produtor ou a empresa pode plantar as mudas direto na terra, sem ter que retirar a embalagem. Se torna um produto biodegradável, sem dar estresse à raiz, sem danificar as mudas”, explicou o dono, Adriano Alves.
O paper pot dá vida a várias espécies de plantas nativas. Tem ainda sementes do bioma amazônico, como de açaí, de jequitibá rosa e juerana. Depois, elas se transformam em mudas prontas para plantio.
A capacidade do viveiro é de plantar 2 milhões e meio de mudas, mas a novidade deu tão certo que um novo já está sendo erguido. Com isso, a expectativa é dobrar a produção.
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