Dalva Ringuier, proprietária da Pousada e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Águas do Caparaó, em Dores do Rio Preto, acreditou que era possível construir uma sala de aula interativa em meio à Mata Atlântica e hoje colhe os frutos desse trabalho: ver o conhecimento sendo gerado dentro da sua propriedade. Ela foi uma das premiadas na 12ª edição do Prêmio Biguá de Sustentabilidade 2023, iniciativa da Rede Gazeta Sul que reconhece boas práticas ambientais em diferentes setores da sociedade.
Com o tema “Persistir em um futuro verde é preciso”, a cerimônia foi realizada na manhã desta terça-feira (17), em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo. Ao todo, foram mais de 70 projetos inscritos neste ano, um recorde em relação às edições anteriores.
Por meio de uma comissão técnica julgadora, foram premiadas as melhores ideias distribuídas em seis diferentes categorias: Ensino Superior, Empresas, Escola, Poder Público, Produtor Rural e Sociedade Civil.
Bruno Passoni, diretor da Rede Gazeta Sul, ressalta que, ao longo dos últimos 12 anos, esse tem sido o principal objetivo do Biguá: dar luz a projetos e iniciativas que se propõem a preservar o meio ambiente.
Uma das ideias para esse futuro é o de Dalva Ringuier, proprietária da Pousada e RPPN Águas do Caparaó, em Dores do Rio Preto. Com o projeto “Impercepção Botânica”, ela construiu um laboratório vivo na área onde fica a pousada, mapeando as espécies nativas da Mata Atlântica presente na propriedade e abrindo o local para alunos de escolas da região terem aulas interativas.
Além das aulas em meio à Mata Atlântica, com elaboração de materiais pedagógicos como cartilhas e jogos de memória para os alunos, um dos diferenciais do projeto é a implantação da tecnologia QR CODE nas árvores identificadas ao longo da trilha, possibilitando que os alunos acessem, em tempo real, informações sobre as espécies que estão vendo.
O objetivo é sensibilizar estudantes e visitantes sobre a importância da Mata Atlântica e mostrar que, mesmo dentro de uma área particular, é possível conservar a biodiversidade local.
“Quando eu comprei essa área, há 27 anos, ela era pasto, então, lá atrás, eu fiz um pacto com a natureza de recuperar aquela área [...] Há cinco anos, em conversa com pesquisadores do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), tivemos a ideia de fazer um estudo sobre aquela região, além de realizar aulas dentro da própria floresta. Agora, ali dentro da própria floresta, os alunos vão aprendendo”, conta Dalva.
Nesta terça-feira (17), o projeto ficou em primeiro lugar na categoria Empresas, do Prêmio Biguá. “É uma forma de mostrar que nós estamos no caminho certo e convencer outras pessoas a tomarem essa iniciativa”, aponta.
Na categoria Ensino Superior, o primeiro colocado foi o projeto “Cápsulas de Biocarvão Veiculadoras de Sementes para Recuperação Ambiental", do campus de Jerônimo Monteiro da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O projeto desenvolveu uma cápsula capaz de melhorar o solo química, física e biologicamente, utilizando sementes florestais para auxiliar no reflorestamento.
Para o pesquisador representante da iniciativa, Alison Moreira da Silva, ver o reconhecimento de um projeto que surgiu da universidade pública é um incentivo para continuar acreditando na pesquisa acadêmica de qualidade.
Apesar da invisibilidade que ainda persiste, muitas ideias de preservação ambiental estão surgindo da própria população. Um exemplo é o projeto Artesanato com Pneus, de Rio Novo do Sul, que tem o objetivo de retirar material poluente da natureza, transformando pneus em artesanato. A iniciativa, que começou na pandemia, foi o vencedor na categoria Sociedade Civil.
“Minha esposa falou que queria um vaso diferente para plantar uma flor, eu olhei para um pneu, tentei fazer e foi dando certo meus artesanatos [...] Nunca imaginei que meu projeto chegaria onde chegou hoje, ser premiado em primeiro lugar assim. É uma gratidão enorme”, enfatizou o representante Joelso de Oliveira.
Já na categoria Poder Público, em primeiro lugar ficou o Programa Ser Mata Atlântica – Educação e Sustentabilidade, da Prefeitura de Vargem Alta. O projeto foi criado com o objetivo de promover a formação continuada de educadores ambientais, criando uma disciplina voltada ao estudo do ecossistema regional e local em escolas de educação pública do município. Segundo os idealizadores, uma forma de valorizar o ecossistema local e garantir que esse conhecimento seja passado adiante.
Para o Secretário de Meio Ambiente de Vargem Alta, Helimar Rabelo, ver o projeto ser reconhecido é um incentivo para dar continuidade a essa ideia. “Principalmente para que mais pessoas busquem novas ações também. Quem sabe os próximos Biguás não vão ser de professores nossos que já estão fazendo essas práticas com os seus alunos?”
Na categoria Produtor Rural, em primeiro lugar ficou o projeto Semeando o Futuro, também de Rio Novo do Sul, que há 20 anos é dedicado a conservar, reflorestar e restaurar a biodiversidade, a cobertura florestal na região, por meio do plantio das mudas nativas e frutíferas. O produtor Natalino Marquezini, responsável pela iniciativa, explica que a ideia do projeto surgiu após uma seca que viveu em 1999.
Esse futuro, citado pelo produtor Natalino, também tem sido construído por alunos da Escola Municipal Jenny Guárdia, em Cachoeiro de Itapemirim, a primeira colocada na categoria Escola do Prêmio Biguá 2023, com o projeto ECOVIER. A iniciativa promove o aproveitamento dos resíduos orgânicos produzidos dentro da instituição, transformando todo o material em adubo natural e utilizando para o cultivo de plantas ornamentais.
“Todos aqueles resíduos que geralmente iriam para o lixo vão para uma composteira, se transformam em um adubo orgânico, e esse adubo pode ser utilizado na reparação dos solos degradados”, enfatiza o professor Diego Henrique Gomes Martins, coordenador do projeto.
Para além do prêmio recebido nesta terça (17), ele acredita que o maior benefício é o legado deixado para o futuro.
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