Para 61% dos eleitores brasileiros, oficiais das Forças Armadas estiveram envolvidos em irregularidades durante o governo do capitão da reserva do Exército Jair Bolsonaro (PL). Já 25% não acreditam na hipótese, e 14% dizem não saber.
Os dados da mais recente pesquisa do Datafolha ajudam a delimitar o tamanho do estrago na imagem dos militares brasileiros devido à sucessão de casos sob investigação em que fardados ligados ao governo surgem com destaque.
Institucionalmente, a mais rumorosa apuração é sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, na qual o papel de militares do Exército que deveriam guardar o Palácio do Planalto é questionado. Muitos dos vândalos que atacaram as sedes dos três Poderes naquele domingo estavam acampados havia semanas na frente do Quartel-General da Força, sem serem incomodados.
Militares não estão no rol conhecido de julgados pelas invasões, que teve suas três primeiras condenações na sexta (15). Mas o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, está com o resultado do inquérito do Exército que apurou o caso e não apontou crimes militares naquele dia — o que não significa que não houve delitos de outras naturezas cometidos por fardados.
Do ponto de vista de visibilidade e percepção popular, o caso das joias sauditas recebidas como presente pelo ex-presidente chama talvez mais atenção. Aqui, a figura do tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, é central.
Ele foi preso por falsificar dados de vacinação contra Covid-19, mas já era ouvido acerca do seu papel na tentativa de reaver joias que a Receita havia retido no aeroporto de Guarulhos quando outro militar, o almirante e então ministro das Minas e Energia Bento Albuquerque, tentou trazê-las como presente para o casal presidencial de uma viagem de trabalho à Arábia Saudita.
As investigações avançaram, e Cid foi solto no último dia 9, após concordar fazer uma delação premiada sobre o caso. Segundo a revista Veja, ele disse que vendeu relógios levados com Bolsonaro no avião presidencial na antevéspera do fim do governo para os EUA e usou a conta americana de seu pai, um general de quatro estrelas da reserva homônimo, na transação.
Por fim, diz a revista, ele confessou à PF ter dado o dinheiro vivo em mãos para Bolsonaro na Flórida, onde o ex-presidente passou três meses em exílio voluntário. Bolsonaro nega irregularidades, assim como o pai de Cid e outros envolvidos.
Com efeito, a crença no envolvimento de militares é maior entre aqueles 77% que se dizem informados sobre o caso das joias: 65%, ante 24% que não a têm. O índice vai a 69% entre aqueles mais ricos, com renda mensal acima de 10 salários mínimos, e a 70% entre moradores do Nordeste, base eleitoral do PT.
Como em quase tudo na polarização brasileira, o corte entre petistas e bolsonaristas também se vê neste caso: 84% dos primeiros veem envolvimento militar, enquanto 52% dos segundos o descartam.
O Datafolha ouviu 2.016 pessoas na terça (12) e na quarta (13) passadas, em 139 cidades. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
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