Senadores aliados de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) usam o estereótipo sobre mineiros para descrevê-lo: reservado, trabalha nos bastidores, é bom articulador e sabe aproveitar a oportunidade quando ela aparece.
No caso de Pacheco, ele estava no local certo e na hora certa. Quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em dezembro, barrar a reeleição para o comando da Câmara e do Senado, o senador mineiro herdou grande parte da articulação já montada pelo atual presidente, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Pacheco não era necessariamente a primeira opção de Alcolumbre, que levou vários nomes para a benção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como Antonio Anastasia (PSD-MG) e Nelsinho Trad (PSD-MS). Mas a corrida afunilou, com a desistência do primeiro e a rejeição ao segundo.
Pouco antes do Natal, Alcolumbre levou seu apadrinhado para um almoço no Alvorada, quando foi efetivamente avalizado. Inicialmente, a promessa era que Bolsonaro não iria interferir contra a candidatura, declarando uma certa neutralidade.
O presidente, no entanto, começou a fazer vistas grossas quando Alcolumbre e Pacheco passaram a usar a influência do governo nas negociações. Cobrado pelo rival, o MDB, em uma reunião com o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Bolsonaro enfim declarou que o senador mineiro era seu candidato.
Bolsonaro já tinha boa relação com Pacheco quando ambos eram deputados federais e, em 2019, fez questão de convidá-lo para viagem oficial à Ásia, convite aceito pelo mineiro.
O entorno do presidente reconhece, no entanto, que Pacheco, apesar de ser um provável aliado, não deve adotar a mesma postura governista de Alcolumbre. O senador tem perfil independente e é crítico da pauta de costumes cara aos bolsonaristas. Em 2019, votou contra medida que flexibilizava porte e posse de armas, bandeira de Bolsonaro na campanha presidencial de 2018.
Mas aproximou-se nos últimos dois anos da equipe econômica do governo, ajudando em articulações para avançar a agenda de reformas. Ganhou pontos com Paulo Guedes ao relatar e chegar a um acordo para a votação da nova lei de falências.
Se eleito, um de seus desafios será sair da sombra de Alcolumbre, principalmente se o atual presidente decidir continuar no Senado. Aliados também avaliam que terá de administrar o complicado sistema de alianças feito pelo padrinho, que inclui Bolsonaro, bancadas de centro e de direita e o PT.
Como vem afirmando em tom de brincadeira um senador, vai chegar a hora em que Pacheco vai precisar trair alguém; restaria saber se apenas um dos atores envolvidos, dois ou os três.
De todos os compromissos assumidos nas alianças, o mais notório é que não será candidato ao Governo de Minas. A condição foi articulada pela cúpula nacional do DEM para atrair para a aliança a segunda maior bancada do Senado, o PSD, com 11 votos. Abre espaço para as candidaturas de Alexandre Kalil (PSD), prefeito de Belo Horizonte, ou para o senador Carlos Viana (PSD-MG).
Pacheco pode presidir o Senado com apenas seis anos de atuação no Congresso, a maior parte em mandato na Câmara. Deputado, presidiu a importante Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) quando o colegiado analisava denúncias contra o presidente Michel Temer, seu então correligionário no MDB.
Em ato descrito como de independência pelos atuais aliados e de traição pelos antigos, Pacheco indicou como relator da denúncia o deputado Sérgio Zveiter (MDB-RJ), que leu duro parecer favorável à admissibilidade da denúncia pelo crime de corrupção passiva contra Temer.
O episódio foi um dos fatores que influenciaram sua decisão de deixar o antigo partido, migrando para o DEM pelas mãos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Pacheco também citou problemas regionais, como a possibilidade de aliança do MDB em Minas Gerais com o PT de Fernando Pimentel.
Ironicamente, Pacheco e PT se aproximaram no Senado, facilitando a adesão petista à candidatura. O movimento abriu as portas para o apoio de outros partidos de oposição, como o PDT.
Um ponto de crítica nos corredores do Senado é o conflito de interesse entre sua atuação parlamentar e os negócios de sua família. Pacheco fez carreira de sucesso como advogado criminalista, mas também é herdeiro de empresas de transporte rodoviário de passageiros.
No fim do ano passado, em sinal de prestígio do senador mineiro, o governo federal indicou para a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) um assessor de seu gabinete, o ex-deputado estadual em Minas Gerais Arnaldo Silva Júnior. Renato Machado e Gustavo Uribe
Senador por Minas Gerais e líder da bancada do DEM, está em seu primeiro mandato na Casa. Começou sua carreira política ao ser eleito deputado federal, em 2014, e tornou-se na Câmara presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Antes de se filiar ao DEM, em 2018, passou pelo MDB. Apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, seu bloco de apoio conta com DEM, PDT, PL, PP, PROS, PSC, PSD, PT e Republicanos.
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