A delegada responsável pelo inquérito das milícias digitais diz em despacho que ainda há risco de interferência do Ministério da Justiça no processo de extradição do influenciador bolsonarista Allan dos Santos.
"Permanece ainda latente o risco de ocorrência de novos eventos com potencial de causar prejuízo ao fluxo normal da apuração", diz a delegada Denisse Ribeiro em despacho encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que decretou a prisão e a extradição do influenciador residente nos Estados Unidos.
Como mostrou o Painel, a atuação cúpula do Ministério da Justiça passou a ser investigada no inquérito após a demissão da delegada Silvia Amélia, chefe do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional), setor que cuida desse tipo de assunto dentro da pasta.
O Secretário Nacional de Justiça, Vicente Santini, fez um ofício pedindo para alterar o fluxo do procedimento de extradição para ter acesso as informações.
De acordo com a delegada da polícia, o possível crime investigado não foi concretizado porque as investidas de Santini não conseguiram atrapalhar o processo até o momento. Quando ele tentou efetuar as mudanças o caso já havia sido enviado para os Estados Unidos.
Entretanto, segundo a PF, como o processo de extradição está em andamento e uma nova atuação do Ministério da Justiça poderá ser necessária, ainda há chance de interferência.
"Considerando que as investigações estão em curso e que as medidas relativas à extradição ativa de Allan dos Santos abrem o caminho para que novas ações ou omissões, no âmbito da Secretaria Nacional de Justiça, prejudiquem a tramitação da extradição, diante da possibilidade de eventual pedido de complemento de informações, ou por inobservância de prazos, ou por retardo nas comunicações aos órgãos executores", diz o despacho assinado pela delegada Denisse Ribeiro.
Em depoimento à PF, a chefe demitida do DRCI disse que em conversa o Secretário Nacional de Justiça afirmou que "a ausência de informação sobre o caso do Allan dos Santos causou um desconforto para o próprio Secretário e para o Ministério da Justiça".
Segundo Silvia Amélia, após essa conversa Santini elaborou o despacho e tentou alterar o fluxo do procedimento para que ele pudesse ter acesso aos documentos da extradição.
Santini também prestou depoimento à PF e disse que requisitou informações sobre o processo com a única motivação de dar cumprimento à decisão judicial.
Próximo da família Bolsonaro, ele negou ter sido questionado pelo presidente sobre os fatos e explicou ter conversado com ministro Anderson Torres a respeito da extradição somente para informá-lo que a decisão já havia sido cumprida pelo DRCI.
Aliados de Torres negam que Silvia tenha sido exonerada pelo fato de ter dado andamento ao processo e alegam que houve quebra de confiança e traição.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta