Após o racha no PSL que opôs congressistas ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) aos que não têm um alinhamento integral a ele, o grupo tachado de bivarista mostra-se fragmentado.
Incomodada com o distanciamento de Bolsonaro, uma parte da bancada do partido na Câmara começou a cerrar fileiras com o presidente nacional do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE).
Mas, segundo deputados dessa ala, a pecha de bivarista não reflete a essência do grupo, uma vez que o ponto em comum é o descontentamento generalizado com o Palácio do Planalto, e não uma afinidade com Bivar.
A divergência dentro do PSL ficou evidente após Bolsonaro comentar com um de seus apoiadores que o presidente do partido estava "queimado pra caramba".
Na semana seguinte, a Polícia Federal deflagrou operação que teve o deputado federal como alvo e que buscava provas em um inquérito sobre candidaturas de laranjas no partido, em caso revelado pela Folha em fevereiro.
A primeira etapa da crise, vencida pelos bolsonaristas, teve seu auge em uma guerra pela liderança do partido na Câmara dos Deputados que colocou em lados opostos o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente, e o então líder, Delegado Waldir (GO), que foi gravado chamando Bolsonaro de vagabundo e dizendo que poderia implodir o governo.
Houve ainda acusações de traição e gravações de reuniões fechadas das duas alas.
Do lado de Bolsonaro estão, além de seu filho Eduardo, deputados como Filipe Barros (PR), Bia Kicis (DF) e Carla Zambelli (SP).
A linha de frente de Bivar é formada por seu vice, Antônio Rueda, pelos deputados federais Júnior Bozzella (SP) e Julian Lemos (PB), além do senador Major Olímpio (SP) e da ex-líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (SP).
A insatisfação desse grupo pode ser sintetizada nas queixas do presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Felipe Francischini (PR), expostas em áudio divulgado na semana passada. Em reunião, ele disse que Bolsonaro tratava os integrantes do partido como cachorro e que só os procurava quando precisava de ajuda.
A aliados o congressista se queixou da inexperiência do presidente e de seus apoiadores na Câmara, que, segundo ele, desconheceriam elementos básicos do regimento da Casa e táticas de articulação com partidos aliados para aprovar pautas de interesse do governo.
Muitas vezes, criticava, o interesse era apenas "jogar" para as redes sociais, em vez de tocar com seriedade a agenda do Planalto.
Exposta a rachadura no partido, a ala dissidente viu a necessidade de se dissociar de Bivar e de convergir em pautas que reforcem sua lealdade para com o ministro Sergio Moro (Justiça) e com pautas anticorrupção e de apoio à Operação Lava Jato, ponto compartilhado pelos bolsonaristas.
A última fase do julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) de ações sobre prisão em segunda instância que podem resultar na libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também está sendo explorada por ambos.
A aproximação com Moro e o distanciamento de Bivar tem uma razão pragmática: as investigações sobre o laranjal do PSL, que tem como principais expoentes o presidente do partido e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, da ala bolsonarista.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, depoimentos e uma planilha apreendida em empresa sugerem que dinheiro do esquema de laranjas pode ter sido desviado, por meio de caixa dois, para a campanha do ministro e de Bolsonaro.
O presidente, por sua vez, pediu a Bivar para que fosse realizada uma auditoria externa nas contas da legenda.
Ao se distanciar do presidente do partido, os dissidentes buscam se afastar de um eventual escândalo de caixa dois no PSL.
Enquanto isso, para não sofrer expurgo da ala bolsonarista, os dissidentes tentam recuperar a liderança da legenda na Câmara.
O grupo esbarra, no entanto, em uma dificuldade: um nome que possa desbancar Eduardo do posto, mas sem abrir uma nova guerra de listas. Não há, na avaliação dos dois grupos, uma terceira via.
O processo de autoanálise e reformulação de estratégias não está ocorrendo somente entre os dissidentes. Os bolsonaristas também fazem um mea culpa. Para eles, houve falhas na construção do PSL como partido político.
A bancada de 53 deputados, a segunda maior da Câmara, se elegeu com a bênção de Bolsonaro e como uma resposta à velha política. Até agora, não foi construída uma pauta para a sociedade que defina uma identidade para o partido.
Segundo integrantes da ala alinhada a Bolsonaro, o PSL não fez uma reunião para construir uma diretriz clara e determinar os próximos passados da legenda.
Reservadamente, um bolsonarista disse à Folha que o PSL não tem uma unidade como a que o PT tem. As várias alas petistas vivem de forma relativamente harmônica, e as divergências internas raramente vêm a público -uma discrição que, como ficou claro na última semana, não é regra no partido do presidente.
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