A falta de álcool gel no mercado tem levado muitas pessoas, no desespero de conseguir o produto, a comprá-lo sem os devidos cuidados quanto à procedência. Caseiro, falsificado ou legalizado, o produto pode representar um risco alto de queimaduras. O alerta foi feito pelo gerente de fiscalização do Conselho Regional de de São Paulo, Wagner Contrera, que é também conselheiro suplente do Conselho Federal de Química.
Depois de passar o produto nas mãos é preciso ter cuidado ao acender um cigarro ou o fogão da cozinha.
Contrera disse já ter recebido relatos sobre o uso exagerado do produto. Neste momento de tensão, em que todos estão com medo da covid-19, muitas pessoas cometem excessos. Usam máscaras até quando dirigem sozinhas no carro. No caso do álcool gel, as pessoas usam em grande quantidade e a todo momento. Aí esquecem e vão acender um cigarro ou mesmo o fogão, para preparar as refeições. É um verdadeiro perigo, disse o gerente do conselho de química.
Segundo o químico, entidades ligadas a tratamentos de queimaduras relatam casos de pessoas que se queimam ao se aproximar de fontes de calor logo após passar álcool gel nas mãos. O gel também é inflamável e, conforme mostram as embalagens, não pode ser deixado ao alcance de crianças nem de animais domésticos."
Se o produto industrializado já é perigoso, o que dizer do falsificado?, alertou o gerente.
No caso do álcool em gel falsificado ou mesmo dos caseiros, que seguem receitas disponibilizadas na internet os riscos são ainda maiores, colocando em perigo não só a vida do consumidor como a do fabricante e a do vendedor
Mesmo que a pessoa tenha a receita, há que se considerar vários outros fatores, inclusive a matéria-prima utilizada. Se elas não são fáceis de ser compradas por empresas legalizadas, imagina por leigos. Isso de misturar álcool líquido com gelatina ou gel para cabelo é tudo conversa fiada de pessoas que, infelizmente, se acham geniais por inventar isso em cinco minutos de reflexão. A manipulação por pessoas não preparadas é de extremo perigo, disse à Agência Brasil.
EFEITO OPOSTO
Segundo o químico, dependendo do caso, em vez de propiciar assepsia, os produtos podem ter efeito oposto, por desenvolver microrganismos, mesmo que tenham mesma aparência e consistência.
O álcool gel é produzido a partir de álcool com alta concentração, uma mistura que fica em 70%. Quando feito por processo industrial, há todo um cuidado. Mas, se feito em casa ou de forma improvisada, é extremamente perigoso, por se tratar de um produto altamente inflamável. Não à toa, a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] publicou há quase 20 anos uma resolução proibindo a venda de álcool líquido acima de 54 graus nos mercados, argumentou.
Ele explicou que é muito difícil identificar a "olho nu as diferenças entre o produto legal e o falsificado. Em alguns casos, quando a falsificação é grosseira, dá para se notar na embalagem, mas, em outros casos, e já vimos isso até mesmo em shampoos e produtos de limpeza, a embalagem é tão bem feita que o consumidor acaba não percebendo.
Coordenador da Divisão de Química Tecnológica do Instituto de Química, da Universidade de Brasília, o professor Floriano Pastore afirma que, normalmente, ao se colocar gelatina em uma solução aquosa, ela fica mais viscosa. E se essa solução tiver um pouco de álcool, vai ter cheiro típico de álcool gel. No entanto, não terá a principal característica, que é o porcentual aproximado de 70% de etanol, para proporcionar a qualidade bactericida e desinfetante ao produto..
Uma boa dica é levar em consideração o local onde o álcool em gel está à venda. O ideal é comprar em farmácias e supermercados, ou estabelecimentos similares, que respondem pela garantia do produto, evitando adquiri-lo no mercado informal..
CRIME CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
Além de representar riscos para quem o manipula, fabricar e comercializar álcool gel falsificado é crime, passível de punição tanto pela autoridade sanitária como, administrativamente, pelos conselhos regionais e federal de química.
Tanto quem fabrica como quem comercializa está praticando crime contra a saúde pública, e respondem por isso. E se houver envolvimento de um profissional de química, nosso conselho abre processo administrativo paralelo ao criminal. Se ele for conivente, poderá ser suspenso ou impedido de exercer a profissão, disseContrera.
Segundo o químico, só empresas registradas junto à Anvisa, e tendo profissional responsável técnico, têm autorização para fabricar álcool gel. As empresas são fiscalizadas pelos conselhos regional e federal de química, que verificam se os profissionais são habilitados. Já a vigilância sanitária é responsável por verificar se as boas práticas de fabricação são seguidas e se o estabelecimentos está de acordo com o que a legislação sanitária determina.
Com informações da Agência Brasil
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta