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Almoço de família dá lugar a tristeza e trabalho de voluntários para animar mães em abrigos no RS

Almoço de família dá lugar a tristeza e trabalho de voluntários para animar mães em abrigos no RS

Ginásios, instituições de ensino e associações abriram suas portas para receber os cerca de 80 mil desabrigados no estado

Publicado em 12 de maio de 2024 às 09:30

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Abrigo localizado no Grêmio Náutico União na Sede Moinhos de Vento, em Porto Alegre
Abrigo localizado no Grêmio Náutico União na Sede Moinhos de Vento, em Porto Alegre. (Jurgen Mayrhofer/ Divulgação)
MATHEUS TEIXEIRA E PEDRO LADEIRA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O almoço de família de Dia das Mães dos desabrigados do Rio Grande do Sul deste ano dará lugar a tristeza e a atividades comandadas por voluntários para animar as mulheres que tiveram as casas alagadas e destruídas.

As enchentes que atingiram o estado já causaram mais de cem mortes e obrigaram mais de 600 mil pessoas a saírem de suas casas.

Ginásios, instituições de ensino e associações abriram suas portas para receber os cerca de 80 mil desabrigados no estado. Voluntários e funcionários das prefeituras tentam organizar a rotina dos espaços.

Para este domingo (12), Dia das Mães, eles preparam atividades com mães e filhos a fim de animar as famílias, que, na maioria dos casos, perderam a casa, os bens e as memórias que estavam dentro dela.

No centro esportivo municipal de São Leopoldo, cidade que tem cerca de 235 mil habitantes e 180 mil desalojados, os responsáveis pelo espaço organizaram neste sábado um grande salão de beleza improvisado para as mulheres. O local chegou a abrigar 2.000 pessoas, e atualmente ainda tem 800.

A dona de casa Muriele Bronzane, 20, tem três filhos e conta que antes da chuva tinha combinado com o resto da família, que morava no mesmo bairro, um almoço para este domingo. Agora, foi para o abrigo porque, além dela, todos os parentes também perderam suas casas.

Ela gostou da iniciativa dos organizadores. "Fiz cabelo, unha e maquiagem. Foi muito bom para renovar a autoestima, se sentir mais mulher, mais mãe", diz.

O marido dela fazia gesso e perdeu todas as ferramentas de trabalho. Muriele diz que ainda não contou para os filhos que sua residência esta tomada de água até o teto.

"Na hora que a gente voltar lá não quero levar eles para não verem a situação que ficou a casa. Todas as coisinhas deles estavam lá, o material escolar, os brinquedos, as roupas, a TV que eles gostavam", lamenta.

A Unisinos, uma das maiores universidades privadas do país, também fez um abrigo em seu ginásio esportivo. Situada em São Leopoldo, recebe cerca de 2.000 pessoas atingidas pela enchente, com cinco refeições diárias.

Várias cidades do Rio Grande do Sul continuam alagadas
Várias cidades do Rio Grande do Sul continuam alagadas . (Mauricio Tonetto / Secom)

Os organizadores dizem que ali se formou uma espécie de miniprefeitura, com divisão de tarefas e responsabilidades. Professores, funcionários e alunos ajudam na gestão do abrigo.

A instituição fará uma missa com o reitor, que é padre, na manhã de domingo (12). As atividades no local não serão voltadas exclusivamente às mães. Oficinas com brincadeiras interativas e musicais também estão planejadas.

"Vamos falar que é o dia da família, porque se a gente direcionar só para as mães, como ficam as mulheres que não estão com as mães ou filhos aqui? E os homens que estão longe da mãe? Como isso vai ficar na cabeça das pessoas?", diz a psicóloga Joana Pereira, voluntária no local.

A atendente Roseane Freitas, 23, tem um casal de filhos, um com seis meses e outra com três anos, e está na Unisinos há uma semana. Ela diz que a adaptação da filha mais velha no abrigo foi complicada.

"No início foi bem difícil, porque ela não está acostumada a conviver com tantas crianças. Ela sempre foi uma criança que brincava sozinha em casa. Agora é tudo novo. Ela não gosta de dividir os brinquedos, mas já está se adaptando melhor, aprendendo com a necessidade", afirma ela, que planeja ir à missa. "Vou se eu conseguir, porque minha menina não para, fica brincando 24 horas por dia e eu tenho que cuidar dela."

A vendedora Janaína Lucas de Oliveira, 29, tem quatro filhos e está há uma semana no centro esportivo de São Leopoldo. "Nunca imaginei passar um Dia das Mães nessas condições e muito menos meu aniversário, que é no próximo dia 19. Já estava tudo pronto para a festa de 30 anos. Mas foi adiada. O que a gente pode fazer, não é?", lamenta.

Ela ficou feliz com o salão de beleza improvisado no local pelos voluntários. "Bem bonita e agradável a ação. Muito bacana", elogia.

Janaína conta que ficou amiga das pessoas que dormem nos colchões próximos ao dela e que ela chama de vizinhas. No entanto, afirma que a rotina está difícil. "Uns dormem 3h da manhã, outros às 2h, às vezes brigam", conta.

A dona de casa Franciele Brito, 26, tem uma filha de 5 anos . "A pequena ficou doente e eu também fiquei. Dormir nesse chão é um horror. Peguei infecção no ouvido de dormir nesse chão gelado", afirma.

Ela diz que a única pessoa da família que não foi atingida pela enchente é uma irmã que mora em Santa Catarina. O deslocamento para o outro estado vizinho está difícil. "A água nunca tinha chegado nem perto lá da minha casa. É muito triste ver o que aconteceu. E a chuva continua. Não sei quando vamos conseguir ir ver como ficou a casa", afirma.

A dona de casa Marileia da Rosa, 40, comemora que seu filho está na casa de um amigo em local seguro, porque tem achado difícil viver no abrigo. Ela diz que morava com seu marido de aluguel e que a casa provavelmente foi destruída, porque as madeiras já estavam frágeis. Agora os dois e seus dois cachorros estão no abrigo.

Marileia pede que o governo dê um auxílio aluguel porque prevê dificuldade na recuperação. Ela é dona de casa e o marido não consegue trabalhar devido a um enfisema pulmonar.

Ela diz que trata um quadro de depressão e que a situação a fez piorar. "Eu tomo remédio e tinha acabado. Agora consegui um. O que me atingiu mais foi a depressão, piorou muito", afirma.

"Perdi todas minhas roupas. Está difícil até para conseguir uma calcinha e eu preciso de uma, já pedi", afirma.

A doméstica Saionara de Oliveira, 56, está há uma semana no abrigo da Unisinos com o marido e a filha de 15 anos. Mesmo se estivesse em casa, porém, não iria fazer nenhuma celebração de Dia das Mães. "Eu não queria mesmo, faz dois meses que perdi meu filho. Mataram ele. Eu não ia comemorar".

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